
Crítica // Setembro 5 ★★★★
Ainda que, a todo custo, evitasse comparativos junto à sociedade alemã, marcada pelo extermínio de judeus, os organizadores dos Jogos Olímpicos de 1972, na Alemanha Ocidental, abriram brechas para evento ainda mais impactante do que o da transmissão da chegada do homem à Lua. Dirigido pelo suíço Tim Fehlbaum, Setembro 5 avança em temas, ao colocar na berlinda um episódio de terrorismo que, no total, avolumou 17 mortos.
O mote do filme indicado ao Oscar de melhor roteiro original se detém na abordagem da rede norte-americana ABC. Com equipamentos jurássicos, profissionais desvendam os passos do grupo palestino Setembro Negro, que pregou uma catástrofe para o destino da delegação de atletas e técnicos israelenses.
Quase 1 bilhão de pessoas acompanharam o desdobrar de fatos organizados, muito na base do improviso e da limitação, em tempo real, por profissionais da tevê. Correndo atrás de um dinamismo, ainda tateado, a equipe de tevê tem como cabeça o produtor Geoff (John Magaro) que, além do respaldo do exemplar colega Marvin Bader (Ben Chaplin), duelará com a responsabilidade empresarial encerrada na figura de Roone Arledge (Peter Saarsgard).
Como numa convincente máquina do tempo, o espectador mergulha no mundo precursor ao elaborado nas transmissões de tevê atuais. O clima daquilo feito "no peito e na raça" é perfeitamente repassado. Sob emblema de ineditismo, com tecnologia precária e agilidade desbravada (em tempo real), o grupo de personagens — fortalecido pela presença de uma tradutora (com a boa presença de Leonie Benesch) — de Setembro 5 propõem (no discurso) e projeta (em termos de filme) a emoção de "uma boa história".
Ultrapassando os dilemas éticos, o grupo retratado no drama ainda topa com enganos na apuração dos fatos e com o inesperado (desde o som de tiros que chegam ao bunker em que todos estão até o súbito som de helicópteros). O recorte proposto por Fehlbaum não deixa espaço para a humanização das figuras dos reféns, mas numa escolha justificável, por se ater ao núcleo de repórteres e produtores (que ocupam o primeiro plano). No cômputo, o filme é bem mais direto e objetivo, quando lembramos de Munique (2005), a obra de Spielberg que captava ações do Mossad (o serviço de inteligência israelense), como consequências para os ataques palestinos mostrados por Tim Fehlbaum.
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Mariana Morais
Revista do Correio
Mariana Morais