
O interesse do artista italiano Lucio Salvatore pelas plantas começou há mais de seis anos e encontrou no Brasil um refúgio e uma fonte de inspiração. Uma residência no Jardim Botânico do Rio de Janeiro ajudou a dar subsídios para produzir a série de obras apresentadas na exposição Defeito de identidade, em cartaz na galeria Karla Osório. Com curadoria de Marc Pottier, a mostra reúne um total de 40 pinturas produzidas nos últimos três anos e nas quais Salvatore investiga as plantas como metáforas da sociedade contemporânea. "Não sou botânico, mas me dei conta que, dentro da história das plantas, tinha muito para aprender e que elas eram uma metáfora do que estamos vivendo na sociedade, das questões políticas, de identidade migratória, de pertencimento", explica o artista.
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Essa é a primeira vez que Salvatore expõe as pinturas. Até então, o artista costumava trabalhar com outras linguagens, como instalações e fotografias. A história das plantas e a biodiversidade brasileiras se tornaram um pilar para essa produção. "Essas obras contam um pouco da complexidade do presente", garante. "Elas têm uma estética de composição de diferentes temporalidades. São imagens que vêm de referências pessoais, de exposições que visito. E uso obras de arte como dispositivo simbólico para agregar caminhos de interpretação aberto."
A fotografia foi um dos primeiros suportes explorados por Salvatore quando começou a carreira de artista e agora retorna, misturada à pintura, uma novidade, como o que ele chama de uma "gramática para contar a história do presente". As imagens são usadas em forma de citações de obras de arte. "E não se resolvem de maneira definida, têm um contexto aberto", avisa. A complexidade da realidade é o foco do interesse do artista e as pinturas são dispositivos críticos para interpretar o mundo real. "A pintura vem como uma linguagem honesta nesse momento em que realidades não existem mais e que estamos vendo isso de maneira muito forte agora. A pintura é uma maneira direta de falar, não dá para esconder, a pincelada está lá. E, para mim, foi um desafio", diz.
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Para ele, o mundo vegetal conta uma história e as plantas fazem parte da realidade e da biodiversidade brasileiras. Falar delas é também falar de crises contemporâneas que, de forma conceitual, estão inseridas dentro das telas. "As plantas ajudam a entender isso. É como se tivesse uma harmonia crítica. As plantas são seres vivos complexos que nós usamos. E elas nos usam. Ao mesmo tempo, encontramos conforto nas plantas. Falo um pouco da crise ecológica", explica.
Defeito de identidade
Exposição de Lucio Salvatore. Curadoria: Marc Pottier. Visitação até 23 de abril, de segunda a sexta, das 9h às 18h30, e sábados, das 9h às 14h30, mediante agendamento prévio por telefone, email, DM no Instagram ou WhatsApp, na Galeria Karla Osório (SMDB conjunto
31 lote 1 B - Lago Sul)