
Crítica // Loucos por cinema! ★★★++-
Uma viagem afetiva com a consistência de um Cinema Paradiso (de Giuseppe Tornatore), mas com a consistência de Laurent Tirard, um dos grandes estudiosos da sétima arte contemporânea. Na roda é que embarca o diretor francês Arnaud Desplechin, de fitas marcantes como Reis e rainhas (2004) e Um conto de Natal (2008). Ao lado de Fanny Burdino, Desplechin confeccionou o roteiro que brinda o potencial dos espectadores ao mesmo tempo em que propõe viagens em torno de impressões de cinema, a partir da visão de seu recorrente personagem Paul Dédalos.
Para responder a pergunta "Qual o impacto da realidade de uma tela de cinema?", o autor vai atrás de significativos momentos que azeitaram sua cinefilia. Nisso, recorre ao frescor de presenciar Os incompreendidos (1959), na telona, e, celebra ainda, com conhecimento particular de antigo diretor de fotografia, o drible a censura na primeira incursão como espectador de Ingmar Bergman e seu Gritos e sussurros (1973).
A avalanche de referências ainda atenderá às percepções das montagens de clássicos como Meu ódio será sua herança (Sam Peckinpah) e ao Hitchcock de 1959, Intriga internacional. A pausa maior cerca os termos da admiração pela monumental obra de Claude Lanzmann (morto em 2018) em torno do Holocausto, Shoa (realizado em 1985). Uma aula de cinema tão intensa que quase acopla cheiro e gosto às imagens usadas.