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"Artes não se afastam, se integram", afirma o ator e fotógrafo Philipp Lavra

Intérprete do fotógrafo da família Paiva em "Ainda estou aqui", Philipp Lavra conta bastidores da cena, fala da estreia na tevê aberta com o personagem Orlando em "Garota do momento", na Globo, e aborda relação das artes cênicas com a fotografia

Philipp Lavra, ator -  (crédito: Isadora Relvas/Divulgação)
Philipp Lavra, ator - (crédito: Isadora Relvas/Divulgação)

Uma das cenas mais emblemáticas do longa Ainda estou aqui — ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional — é o momento em que a família Paiva posa para uma foto que será publicada na revista Manchete em uma matéria sobre o desaparecimento político do ex-deputado Rubens Paiva, vivido por Selton Mello. Diante da orientação do fotógrafo para que Eunice (Fernanda Torres) e os filhos não sorriam, já que estão vivenciando um drama, ela reluta e avisa: "Nós vamos sorrir".

Intérprete do profissional, Philipp Lavra conta que quase ficou de fora do trecho da obra premiada que repercutiu por meio de críticas especializadas, de memes — como a do cidadão que fez uma selfie no momento da gravação quando passava pela rua da casa que serviu de locação — e ilustrações que ele próprio recebeu de pessoas ao redor do mundo.

"No dia previsto para a gravação, não tinha luz boa para a foto. Mas eu estava fazendo também um outro filme (a co-produção Alemanha/Brasil/França Transamazonia, dirigida por Pia Marais) e talvez não pudesse gravar em outro dia. Fiquei arrasado, mas deu certo. Mudamos a diária, mas eu consegui gravar no domingo, antes de viajar, na segunda", contou, à reportagem, o ator, que também pode ser visto nos cinemas no filme A batalha da Rua Maria Antônia — de Vera Egito, vencedor de melhor filme do Festival do Rio em 2023 e que também aborda a ditadura — e como Orlando na novela Garota do momento, de Alessandra Poggi, às 18h na TV Globo. 

 

Philipp Lavra em "Ainda estou aqui" e "Garota do momento"
Philipp Lavra em "Ainda estou aqui" e "Garota do momento" (foto: Reprodução)

A foto e o Oscar

Para integrar o elenco de Ainda estou aqui, de Walter Salles, Phillipp foi convidado pela produtora de elenco Letícia Naveira. Ela mandou o teste, onde ele deveria contar como seria após a cena da foto da família Paiva. O ator, que também é fotógrafo, falou sobre a relação das artes cênicas com a fotografia. "As artes não se afastam, elas se integram e se fortalecem. Um na frente e outro atrás, a arte é a mesma, não tem distanciamento. A foto é resultado do nosso encontro, assim como na atuação, os dois resultam juntos em alguma coisa", argumentou.

O carioca de 39 anos relata que tinha se aproximado do livro escrito por Marcelo Rubens Paiva — que é muito diferente do filme, focado no Mal de Alzheimer da mãe, Eunice — porque a avó tem a mesma doença: "Eu estava sensibilizado com a história da Eunice, e foi curioso que foi a partir da foto real que eu me interessei pelo Rubens Paiva. Então, eu fiz esse processo de estudo para compreender toda a história por trás daquela imagem. No dia da gravação, o clima do set era de muita empolgação, porque estávamos animando uma foto que era um documento histórico, já que há um registro real daquilo que estávamos dando vida." 

Philipp Lavra não se deslumbra por estar em um filme ganhador de Oscar. Para ele, a premiação inédita do Brasil tem um significado mais amplo. "É a grande premiação do mundo, e eu tenho esperança de que esse tamanho todo faça com que a gente consiga maiores investimentos em cinema no Brasil. O mundo viu como a nossa cultura também pode ser valorizada", defendeu. E acrescentou: "Eu não gosto do midiático, do endeusamento, então ter um Oscar no currículo, para mim, vai além disso. Aquelas pessoas que dizem que nosso cinema não é bom, que a ditadura não existiu, tomaram um grande golpe. Então, este foi o maior Oscar: estar em um projeto que desmistifica essa tendência."  

 Filme. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, recebeu sete indicações no Latino Entertainment Film Awards, premiação concedida pela Associação de Jornalistas Latinos de Entretenimento (LEJA). O filme é o único representante do Brasil na competição
Filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles (foto: Sony Pictures)

 

A primeira novela

Após ter participado de obras de tevê como as séries Feras (MTV), Rotas do ódio, GildaNotícias populares e Todas as mulheres do mundo (todas disponíveis no Globoplay) — dirigidas respectivamente por Teo Poppovic, Gustavo Pizzi, Marcelo Caetano e Patricia Pedrosa —, o convite para a primeira novela, Garota do momento, veio em junho de 2024, também por Letícia Naveira, mas, como Philipp faz questão de sublinhar, "também é o resultado do trabalho de diversos outros produtores de elenco que me chamaram para fazer teste". 

Morando em São Paulo, foi uma grande oportunidade de o tijucano voltar para o Rio. "Estar na novela é uma realização para a família. Eu estava muito ligado ao cinema, então é uma realização de todo mundo que sempre acompanhou novelas e, agora, pode me ver na telinha todos os dias", celebra o ator, que contracena com nomes como Letícia Colin, Fábio Assunção e Lilia Cabral. "Só monstro!", ele acrescentou, empolgado.

Acostumado a projetos mais curtos, Philipp reforça que está se adaptando ao formato diário e longo de uma novela. "A vantagem de fazer novela é poder se ajustar enquanto estar fazendo o trabalho, então eu amei fazer um trabalho longo. É uma rotina puxada, mas a estrutura alivia um pouco. No cinema, eu fiz muito filme que me levou a sair de casa e conviver com estruturas bem sensíveis", observou. 

Publicidade

Philipp é formado em publicidade, mas não seguiu a profissão. "Sou da geração MTV, queria ser VJ. Eu não abracei a profissão, mas a publicidade tem uma vantagem porque trabalha o ser humano: as inquietudes e desejos das pessoas são vários códigos para se vender uma ideia. Mas, me formei em publicidade em 10 de janeiro de 2010 e, dois dias depois, estava matriculado na CAL, em um curso de teatro livre", explicou ele.

"Aos 24 anos, decidi fazer teatro para valer. Tudo estava fora de ordem, nada no seu devido lugar, então, chego a um lugar onde me reconheço: me apaixonei pelo teatro profundamente, pela produção em si. Eu me tornei fotógrafo por fotografar dentro do teatro. Então, o teatro é a base de tudo para mim, para onde sempre vou voltar", finalizou o ator, que, no cinema desde 2018, esteve em mais de 10 produções. Além dos citados, está também no elenco de Funk de favela, de Aly Muritiba e Adyr, de Guilherme Cezar Coelho, filmes que estão em processo de finalização.

Como artista visual, Lavra faz parte do coletivo Candombá, junto de Marcelo Hallit e Daniel Wierman. O grupo tem dois projetos com a artista Zahy Tentehar. O primeiro, karaiwa'e'wa  estreou na exposição Nakoada no MAM e rodou por diversos festivais. E o segundo Ureipy - Máquina ancestral estreou na mostra Panorama de Arte Brasileira no MAC de São Paulo e integrou a última Bienal de Veneza, a mais importante feira de artes do mundo. 

 

  • Philipp Lavra, ator
    Philipp Lavra, ator Isadora Relvas/Divulgação
  • Philipp Lavra, ator
    Philipp Lavra, ator Isadora Relvas/Divulgação
  • Philipp Lavra, ator
    Philipp Lavra, ator Isadora Relvas/Divulgação

 


postado em 03/05/2025 16:10 / atualizado em 04/05/2025 16:09
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