
O tempo passou como um sopro, e um dos discos de maior sucesso da geração de 2010 do rock de Brasília completa 10 anos. Éter, segundo da discografia da banda Scalene, faz aniversário em 2025, e os integrantes Gustavo Bertoni (vocais e guitarra), Tomás Bertoni (guitarra) e Lucas Furtado (baixo) voltam a se encontrar após três anos de hiato para uma turnê comemorativa com parada em Brasília neste sábado.
Com 12 faixas e 40 minutos de duração, o álbum marcou uma época feliz na vida desses artistas que começaram a fazer sucesso nacional naquele ano de 2015. Éter foi lançado em meio à participação da Scalene no reality show Superstar, no qual foram vice-campeões.
Depois desse período de aparições na televisão, a banda decolou para voos altos. Éter foi o disco que trouxe a maior honraria até então. Eles venceram o Grammy Latino em 2016 e viajaram o Brasil inteiro cantando as faixas premiadas. Foi surfando a onda do álbum que os brasilienses chegaram a se apresentar no palco Mundo, principal do Rock in Rio, em um dia que seria finalizado pelas lendas do Aerosmith.
Olhando para trás, os músicos percebem que foi um período especial. "É muito doido acessar essas coisas, porque o Éter foi nosso segundo disco, fez muito sucesso, abriu portas para um monte de coisas que vieram depois como Grammy e palco Mundo do Rock in Rio", ressalta Lucas Furtado em entrevista ao Correio. "É uma visão em retrospecto que tem uma magia de colocar a gente em um lugar de pensar: 'olha só o que a gente conquistou'", complementa.
Atualmente, os músicos têm a percepção de que o álbum não foi pensado e composto buscando todo o sucesso que fez. "Esse é o nosso último disco puro, o último que tem essa ingenuidade jovem", reflete Tomás. "Nunca tinha passado pela nossa cabeça se 10 anos depois o disco continuaria relevante", adiciona Lucas.
Eles lembram que queriam fazer o que estavam fazendo no sonho de um dia viver de música. Há uma década, a maioria estava na fase inicial dos 20 anos de idade. "Naquela época, a gente não tinha maturidade de carreira e pessoa para entender essas coisas", diz Lucas, observando que o sucesso veio junto com uma base de fãs que ainda envelhece e aprende em união com a banda. "A nossa inocência estava também nessas pessoas que nos acompanhavam. Isso permite que elas acessem coisas legais daquela época. A gente pode falar que um grupo de fãs cresceu com a Scalene", avalia.
Dessa forma, o fato de poderem continuar conversando com o público e encontrando novos ouvintes para o disco é motivo de celebração. "Uma das coisas que eu mais me sinto feliz de ouvir é que esse é um disco que envelheceu bem. Como artista, é isso que me deixa mais orgulhoso", comenta o guitarrista. "A gente faz música para durar, não para viralizar no TikTok. Claro que se a gente viralizar no TikTok, eu vou amar (risos), mas não é o objetivo principal", brinca.
Nunca foi da intenção da Scalene comemorar os aniversários de disco, mas as circunstâncias atuais de sucesso da nostalgia foram ideais para marcar o momento, voltar no tempo e olhar com olhos mais maduros tudo que viveram graças ao Éter. "O entendimento hoje é que todo mundo cresceu, o mundo mudou muito nesses 10 anos em estilo de vida, economia e sociedade", exalta Lucas.
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A recusa da herança
No período do sucesso do Éter, a Scalene ganhou uma responsabilidade: a banda seria a herdeira do rock de Brasília. No entanto, nunca foi da intenção dos integrantes aceitarem esse título. "O sentimento é de que não era exatamente o nosso lugar", diz Tomás que coloca dois pontos para negar a alcunha. "A gente não pega esse título por uma certa humildade, mas porque a gente sabe o que vem junto dessas idealizações e projeções. A gente já viveu muita coisa".
O guitarrista critica toda a narrativa que cerca a cena do rock candango por conta do sucesso do gênero nos anos 1980. "É ruim para as cenas atuais e desvaloriza um pouco a própria geração dos anos 1980. A única cidade que considera Brasília a cidade do rock é Brasília. Vamos exaltar nomes como Legião, Capital Inicial, Plebe Rude, a galera dos anos 1990 muito produtivos e bombados. Porém, sem colocar essa pressão nas novas gerações e levantando uma coisa que só a gente acredita", acredita.
Tomás sugere uma estátua de Renato Russo na entrada da Ponte JK, mas acha que a cidade precisa virar a página e dar foco a outros grandes movimentos culturais de impacto. "Vamos em frente, gente, olhem para o pagode, Clube do Choro, teatro de comédia todos muito bons. Vamos parar de nos limitar a cidade do rock. Até porque só quem chama Brasília de cidade do rock é Brasília. Pergunta para um paulista ou até um goiano, todos esses lugares tiveram grandes e produtivas cenas no rock, mas não vivem disso", pondera.
Lucas concorda e diz tentar se policiar para não viver do passado. "Eu tenho uma preocupação muito grande de não virar um tiozão chato e sinto que já estou virando um pouco. Tento estar aberto, no ponto de vista cultural e até sociológico, para ficar chocado com a galera nova", revela. "Receber bem o que é novo, mesmo que você não entenda, ou não ache tão legal assim, é importante. Tirar o chapéu para o povo que está fazendo algo novo tem que ser uma prática o público para não estagnar", completa.
O músico propõe a fuga da zona de conforto para encontrar o que está movimentado no cenário local. "O público tem que estar disposta a dar um passinho fora. Você que era da geração que ouvia Scalene no Cult22, cola lá em um pagode vê o que eles estão fazendo, às vezes, é muito legal, e você não está ligado", afirma.
Reencontro com a cidade
Entretanto, o convite dos artistas agora é para o show de reencontro em Brasília. Eles vão tocar o álbum Éter na íntegra e na ordem e mais 10 outras músicas selecionadas. "Vai ser o éter e as que a gente mais gosta de tocar", antecipa Lucas. "Brasília tem alguns dos fãs mais antigos que são sempre bons de reencontrar. Gosto também da mistura de quem acabou de conhecer com quem conhece desde 2011", acrescenta Tomás.O show será no Toinha Brasil Show no sábado e os ingressos estão à venda na plataforma Sympla.
A Scalene chama o público para esse momento de união e nostalgia, mas já se prepara para os novos momentos que virão após a turnê. "A gente está com algumas ideias, esse ano ainda deve ter novidades. No hiato, não ficamos parados de composição", revela Tomás.
Diversão e Arte
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