Crítica // Monsieur Aznavour ++--++--++--

Cinebiografia mostra controversa trajetória de sucesso de Charles Aznavour

Cinebiografia em cartaz mostra a trajetória de sucesso e de controvérsias do cantor Charles Aznavour

Monsieur Aznavour: Tahar Rahim em cena -  (crédito: Imovision/ Divulgação)
Monsieur Aznavour: Tahar Rahim em cena - (crédito: Imovision/ Divulgação)

O pai de garoto enjeitado rascunha uma composição no que seria uma casa perfeita: na imaginação, ele cria a eterna She, tão conhecida pelos cinéfilos, na voz de Elvis Costello, regravada para a comédia clássica Um lugar chamado Notting Hill. Celebrado como equiparável aos cantores "americanos de voz rouca", com pouco mais de 1,60m de altura, o filho de refugiados armênios Charles Aznavour morreu há sete anos, deixando legado de 180 milhões de discos vendidos (sob a tática de cantar em francês, espanhol e inglês), e tido por muitos como o Frank Sinatra da Europa.

Indicado a quatro prêmios César — entre os quais o de melhor ator para Tahar Rahim (que se dedicou efetivamente ao canto) — Monsieur Aznavour é a visão da dupla Mehdi Idir e do poeta e músico Grand Corps Malade para a biografia visual do criador de La Bohème (ao lado de Jacques Plante). Para o público local, vale a lembrança de que, em 1963, ele gravou em disco Rendez-vous a Brasília.

Vibrante, artista "das ruas" e alguém "de verdade", como detecta Edith Piaf (Marie-Julie Baup), o personagem central vive viradas de página no roteiro dos diretores que contam no filme com inspirada edição de Ludovic Foucher e Laure Gardette (talento visto em Cafarnaum, longa de Nadine Labaki). A faceta de compositor, alguém obstinado pelo árduo trabalho e ainda implacável para "subir de nível" contrasta com a imagem de criatura difícil.

A alma gitana (que desponta no entoar de Les deux guitares) é revelada na letra de Os dois violões, que celebra a louca juventude, sedimentada por memórias e tristezas. Uma das mais infames sequências está no contato com a crítica musical que, com crueldade, o chamou de "monstro medieval", o comparou a um "sacerdote gripado", cantor de "gestos desajeitados" e "repulsivo". Isso bem antes da consagração de It will be my day (1961) com venda de 300 mil discos e das expressivas exigências do artista que conquistou o Olympia, o Alhambra e o Carnegie Hall.

Ator de sucessos como O mauritano, O profeta e O passado, Tahar Rahim surpreende, cantando em cena. Egocêntrico e de ambição desmedida, Aznavour surge indiretamente provocativo, pela letra de What's the difference (por Dr. Dre e Eminem), embutida, com ousadia, na montagem que pontua a trajetória de sucesso. O tino comercial do cantor para as oportunidades profissionais está patente no filme.

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A plataforma de êxito em Montreal (que abriga casas como Quartier Latin e Faison Doré) é bem mostrada, assim como o despontar na Paris Radio Diffusion, tendo na plateia Charles Trent e Piaf. A relação com Knar e Misha (os pais) e a irmã Aïda (Camille Moutawakil, convincente) fica similar ao bom retrato da amizade sólida com o músico Pierre Roche (Bastien Bouillon) e com a "irmã de luta" Piaf.

"Revigorado", como o "peixe (posto) na água" (como demarca uma cena com a presença materna), Aznavour enfrentará dores como a separação da modelo sueca Ulla Thorsell. E, na vida, estão outros momentos marcantes como a realidade da França ocupada, em que teve que, pela exibição do prepúcio, convencer militares nazistas de não ser judeu. Filme de época, Monsieur Aznavour ainda celebra os tempos em que "americanos" rimavam com "liberdade" (na cena de encerramento da Segunda Guerra), mas curioso que o longa contemple definição contemporânea para os EUA: "O país onde tudo é possivel".

 


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postado em 27/07/2025 09:52 / atualizado em 27/07/2025 10:34
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