OBITUÁRIO

Morre o cartunista Jaguar, aos 93 anos

Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, conhecido como Jaguar, estava internado em um hospital no Rio de Janeiro

O cartunista Jaguar em Brasília em 2005 durante a inauguração de um espaço em sua homenagem -  (crédito: Paulo de Araujo/CB/D.A Press)
O cartunista Jaguar em Brasília em 2005 durante a inauguração de um espaço em sua homenagem - (crédito: Paulo de Araujo/CB/D.A Press)

Morreu neste domingo (24/8), o cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, aos 93 anos. O artista era mais conhecido como Jaguar. Ele foi um dos criadores do jornal O Pasquim e estava internado no hospital Copa D'or, no Rio de Janeiro. A morte foi confirmada ao jornal O Globo pela viúva de Jaguar, Celia Regina Pierantoni.

Jaguar nasceu em 1932 — um ano bissexto — no Rio de Janeiro. Deixou a então capital do Brasil aos três anos de idade, quando o pai, funcionário do Banco do Brasil, foi transferido para Juiz de Fora (recomendação de um pediatra para ajudar com a asma de Jaguar). Depois, o banco enviou-o para Santos, onde o jovem fez o primário e o ginásio. Por volta dos 15, pôde, enfim, voltar ao Rio.

"De carioca autêntico eu não tenho nada. Eu simplesmente curto o Rio como se fosse um cara de fora", explicava o ex-morador de bairros como Lapa, Copacabana e Leblon. Orgulhoso boêmio - jurava que chegou a tomar 50 latinhas de cerveja num único dia - foi um dos fundadores da Banda de Ipanema, que juntava jornalistas, escritores, artistas e cartunistas, e até hoje existe como bloco do carnaval carioca.

Trabalho no Pasquim

Um marco na carreira de Jaguar, assim como na de tantos outros cartunistas brasileiros, o semanário O Pasquim foi fundado em junho de 1969, durante um dos períodos mais difíceis da ditadura militar (1964-1985).

"A fundação de O Pasquim logo depois do AI-5 foi uma coisa inteligentíssima, né? Risos. Um grupo de pessoas consideradas de um certo QI, esperou o AI-5 pra abrir um jornal pra falar mal do Governo! Foi uma ideia brilhante! Risos Deu tanto resultado que, seis meses depois, 80% da redação estava em cana", ironizava.

O pontapé inicial foi dado ao lado de Sérgio Cabral, Claudius Carlos Prósperi e Tarso de Castro. Na equipe da publicação passaram ainda outros nomes históricos do jornalismo alternativo como Millôr Fernandes, Ziraldo, Henfil, Paulo Francis, Ivan Lessa e Sérgio Augusto. O nome do jornal foi sugestão do próprio Jaguar, uma referência ao termo italiano Paschino, um panfleto difamador.

"Nós fizemos o jornal porque estava todo mundo demitido e a gente precisava de um meio de ganhar dinheiro. Queríamos produzir um informativo de Ipanema, feito nos botecos, mas, pela própria natureza dos participantes, começamos a fazer aquele brincadeira toda". Em seu auge, O Pasquim chegou a vender mais de 200 mil exemplares numa única edição. A maioria das páginas não surgia de reuniões de pauta formais, mas de conversas de bar.

Foi em sua época de Pasquim que acabou preso, no segundo semestre de 1970.

 

Personagens que marcaram história

Mesmo diante dessa má vontade surgiram personagens marcantes. Entre os principais, o ratinho Sig alusão a Sigmund Freud, um dos símbolos do Pasquim e apaixonado por mulheres como Odete Lara e Tânia Scher. Sua origem remete ao lançamento da cerveja Skol no Brasil, quando o publicitário Zequinha Castro Neves pediu que Jaguar desenhasse uma história para marcar a ocasião. Surgia o Chopnics, mistura da palavra "chopp" com o movimento "beatniks", tirinha estrelada pelo personagem BD, o Capitão Ipanema. A inspiração era o amigo Hugo Bidê, que, reza a lenda, levava um ratinho branco para os bares. O roedor ganhou uma versão em desenho, o Sig, e permaneceu mesmo após o fim do Chopnics, se tornando a figura mais frequente nas páginas do Pasquim por anos.

Gastão, o Vomitador, fez sucesso com as inúmeras ocasiões em que passou mal e pôs tudo para fora ao se deparar com os absurdos do noticiário. Em entrevista à Folha de S. Paulo, em 2015, Jaguar relembrou que o personagem surgiu "na entrevista que O Pasquim fez com Carlos Manga, publicada no número 153 (julho/1972). Nela, Manga confessou um crime hediondo: ele foi o inventor do júri de televisão. Ilustrei sua declaração com o Gastão vomitando. Gastão teve vida breve. Como não sabia fazer outra coisa além de vomitar, enjoei de desenhá-lo e o despedi".

Havia também Bóris, o Homem-Tronco personagem sem pernas que saía por aí pela metade, em um carrinho quadrado, e o protagonista de Átila, Você É Bárbaro, primeiro livro lançado por Jaguar, em 1968.

Teve seu primeiro trabalho publicado na Penúltima Hora, seção de Leon Eliachar no jornal Última Hora. Também naqueles tempos, ao mostrar alguns desenhos para Borjalo na Manchete, recebeu um conselho: "Eu assinava Sérgio Jaguaribe. Ele falou: Nem pensar! Não é nome de humorista. Vai ser Jaguar!". E assim ficou.

*Com informações da Agência Estado

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postado em 24/08/2025 16:00 / atualizado em 24/08/2025 16:55
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