Filho do Rei do Baião, Gonzaguinha seguiu os passos artísticos do pai e foi um dos principais compositores brasileiros entre as décadas de 1970 e 1980. A contribuição do artista para a música nacional, porém, foi breve — o músico morreu em 1991, aos 45 anos de idade, em um acidente de carro. Mesmo três décadas após a morte, o carioca, que, se vivo, completaria 80 anos amanhã, continua sendo lembrado por fãs e amigos próximos.
"Ele era um ícone, um ídolo para mim. Quando nos conhecemos ele disse: 'Prazer, Gonzaguinha', sendo que eu que devia me apresentar para ele", ri Renato Costa, produtor do artista entre os anos de 1987 e 1991 e sobrevivente do acidente de carro que matou o filho de Luiz Gonzaga. Unidos por amigos em comum, os dois começaram a trabalhar devido à vontade do carioca de empresariar o pai.
"Na época, Gonzagão não estava mais conseguindo assinar com grandes gravadoras e o Gonzaguinha tinha vontade de ajudá-lo com isso. Ele também tinha planos de construir o Museu do Gonzagão, que eu acabei abrindo em 2001, assim como a Fundação Asa Branca", conta o amigo.
Renato, porém, acabou se tornando produtor do próprio Gonzaguinha — juntos, viajaram em turnê por todo o Brasil. "Ele era extremamente profissional, tinha uma conduta muito rigorosa de trabalho. Ao mesmo tempo, era uma pessoa extremamente gentil", descreve. "Um dia de convivência com ele já era uma eternidade. Ele era uma pessoa marcante, mas levava uma vida isolada, dedicada às pessoas que apreciavam a música dele", acrescenta.
Quando morreu, o carioca preparava um novo disco, intitulado Cavaleiro solitário. "Depois de lutar a favor do direito à democracia durante a ditadura, ele queria seguir outro caminho, escrevendo músicas de amor", revela. As músicas, porém, nunca foram gravadas.
Conhecido pelas composições de MPB e samba, Gonzaguinha foi muito inspirado pelo Rei do Baião, afirma Renato. "Gonzagão influenciou totalmente na carreira dele, mesmo querendo que o filho tocasse sanfona, e não violão", diz o produtor. "Mas, no final da vida, os dois se reencontraram, tanto musicalmente quanto afetivamente. Com a morte do pai, em 1989, ele inclusive começou a dar uma ênfase maior aos ritmos nordestinos, como o forró, por exemplo", ressalta o produtor.
Entre as principais memórias que dividiu com o amigo, Renato destaca o último show de Gonzaguinha, em Pato Branco, no Paraná. "Se não me engano, apenas 10% das cadeiras do auditório estavam ocupadas e, durante a apresentação, um dos fãs presentes se levantou e pediu desculpa pelo público reduzido. Foi aí que ele respondeu uma coisa que nunca vou esquecer: "Não importa a quantidade, e, sim, a qualidade. E vocês, talvez, tenham sido o melhor público que tive até hoje". No dia seguinte, ele morreu", lamenta.
