Crítica // A viagem de Chihiro ★★★★★
O Urso de Ouro no Festival de Berlim e o Oscar de melhor filme de animação, há mais de 20 anos, estabeleceram um patamar de respeito para A viagem de Chihiro, que volta aos cinemas, diante da celebração, entre sete títulos da marca Studio Ghibli, de um festival insuflado pela popularidade de produtos culturais japoneses como mangás (desenhos em quadrinhos) e outras animações — os cultuados animes. As sessões de Chihiro serão sábado (27/9), às 16h e 18h30 (no Caixa Cinesystem) e às 18h10 (no Cine Brasília que terá 15 sessões do Ghibli até domingo).
Dirigido por Hayao Miyazaki (hoje, com 84 anos), A viagem de Chihiro impulsionou o crescente de interesse por aventuras nipônicas; só no Brasil, estreou em 107 salas de cinema. O tema da espiritualização e do ganho de confiança da protagonista numa jornada xintoísta (que abraça harmonia entre antepassados e natureza) foi destacado em antiga entrevista de Miyazaki. "Não é meu papel educar as pessoas sobre ecologia. Porém, projeto as experiências pessoais sobre meus filmes. É verdade que ajudo limpando o rio que corre por minha casa. E prefiro as árvores ao concreto", observou o mestre.
Chihiro, na saga por maturidade, traz o benefício da feminilidade, com acesso facilitado ao sobrenatural. Consumo desmedido e desvalorização de pequenos prazeres, junto com aprendizados por seres fantásticos influenciam na transformação de Chihiro. O longa expõe o entrosamento com kami (as divindades da natureza).
Com folhas espalhadas pelo ambiente (dispostas com a finalidade de espantar males), Chihiro, contrariada, inicia uma jornada de mudanças, ao adentrar um túnel misterioso, com os pais que estão destinados a viverem noutro lugar. Uma yuya (casa de banhos) repleta de deuses acentua elementos politeístas do longa. No local, a bruxa Yubaba, que administra o local se reveza em aparições com a gêmea, Zeniba. Nisso, o diretor alterna a divindade ruim com a versão "hare" (que encerra purificação). Yubaba trabalha, desmedidamente, e Zeniba deixa aparentes qualidades, no terreno mais doméstico.
Numa seca análise, que trata das utilidades dos seres, a figura de Kamaji impressiona: não tem braços ou pernas que deem conta do volume de labuta. Manejando fichas e toalhas na casa de banho, Chihiro se atrapalha com as tarefas no "bandai" (balcão). Espíritos descontentes, junto com planos de agressividade e vingança convidam à percepção do teatro nô acoplado à trama da animação. Em termos culturais, o linguajar adotado pela menina: vai de construções polidas até o patamar de respeito máximo a terceiros. Curioso que o longa ainda sublinha um quê de desprezo por humanos, e na mesma medida, pelo dinheiro. Um deus vagante chamado Sem Rosto (Kaonashi) coloca à prova valores (ao descartar dinheiro).
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