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'Nunca fecho porta para oportunidades', avalia Mylla Christie, de 'A viagem'

De dançarina na infância a produtora na fase madura, passando por uma carreira marcante como modelo internacional e atriz de novelas, Mylla Christie relembra trabalhos e fala sobre projetos atuais e futuros. "Ainda tenho muito a explorar", conclui

Com uma carreira que atravessa décadas, Mylla Christie construiu uma trajetória plural, das telas da televisão aos negócios imobiliários, e agora, à produção de conteúdos com impacto social. Em uma conversa franca, a artista revê seus primeiros passos, personagens marcantes e as escolhas que definiram seu caminho, mostrando que a versatilidade é sua maior marca.

Antes de se tornar a atriz conhecida nacionalmente, Mylla forjou sua relação com as câmeras em programas como Zaap (Record) e Clube da Criança (Manchete). Ela relembra esse período com carinho, definindo-o como sua "canja" — a experiência fundamental para perder o medo de falar em público.

"No Clube da Criança, eu era uma mediadora. Tinha o público ao vivo, os artistas, o elenco infantil... Eu contracenava, falava com a câmera e com as pessoas. Foi uma escola", explica a paulistana de 54 anos. Já no Zaap, como âncora, aprofundou essa habilidade, além de sair a campo para entrevistar grandes nomes, como B.B. King. "Ganhei muita experiência nesse sentido de falar com a câmera, foi ótimo pra depois usar isso nas novelas."

Outra experiência formativa, porém em âmbito pessoal, foi sua temporada no Japão, aos 15 anos, como modelo. Mylla descreve o país como uma aula de "disciplina e compaixão". "O japonês é muito com horário, alimentação... Mas o que eu carrego até hoje foi a compaixão. O japonês é uma aula de compaixão com o ser humano. Aquilo mudou a minha percepção de mundo", avalia.

Fabiano Herrera - Mylla Christie, atriz

Jéssica: "Posso fazer uma perguntinha?"

Aos 17 anos, veio o desafio que a projetaria para o país: a rebelde Jéssica, da novela Meu bem, meu mal, de 1990. A responsabilidade de atuar ao lado de gigantes como Lima Duarte e José Mayer era grande, mas Mylla encarou como uma "esponja". "Fui para lá ouvindo tudo. Aquilo tudo para mim era novidade, e eu não tinha muita formação", conta. Foi durante essa novela que ela começou a buscar conhecimento formal, lendo Stanislávski e iniciando sua "biblioteca teatral". "A Jéssica foi a abertura de uma porta de ensinamentos que a TV Globo me deixou até hoje", reconhece.

Sobre a famosa fala "Posso fazer uma perguntinha?", que virou meme e conquistou uma nova geração pelo Globoplay, Mylla se surpreende. "Na época, não existia meme, a gente não voltava a cena toda hora em qualquer dispositivo. Hoje, o jovem consegue enxergar mais detalhes. É muito importante ver a opinião do público jovem."

Eleonora e Carlota

Mylla também refletiu sobre duas de suas personagens mais impactantes. Em Senhora do destino (2004), interpretou Eleonora, uma estudante de medicina homossexual que, à frente de seu tempo, abordava inclusive a adoção por casais homoafetivos. "Vocês acreditem ou não, não foi só o fato de ser homossexual, mas também a adoção. A novela foi bem antes da lei de 2010. É grandioso para nós, atores, fazer um papel desse e ver o tamanho da repercussão, que pode até influenciar uma mudança de lei."

Já em A viagem (1994), atualmente na quinta reprise na TV Globo, deu vida a Carlota, um "espírito de luz". "Ela era um elo entre o espírito que acabou de desencarnar e o que ele passou na vida", detalha. "Acho que é um conforto para as pessoas que têm algum tipo de problema grave na hora da morte, ou perderam um familiar de repente. Foi um trabalho espiritual muito lindo."

Novos rumos

Após anos na televisão — onde fez ainda papeis de destaque em Deus nos acuda (1992), Engraçadinha (1995) e Quem é você (1996) —, Mylla e o marido, Tutu Sartori, fundaram a imobiliária Acto, hoje parte de uma plataforma proptech, a Pilar. Ela nega que tenha sido uma "reinvenção", mas sim um paralelo que sempre existiu. "Muitos atores têm isso, e não divulgam. Hoje, eu divulgo, e acabo até encontrando pessoas da televisão no mercado imobiliário", explica.

Esse espírito empreendedor se expandiu para a produção audiovisual. Atualmente, a geminiana inquieta está envolvida em dois projetos: uma série documental sobre transformação social em parceria com a ONG Elos e um longa-metragem de comédia romântica.

"Na série, usaremos nossa expertise com imóveis para construir algo para a comunidade. É uma sementinha que vai ser plantada no mundo inteiro", entusiasma-se. Sobre o filme, comemora: "Estou muito feliz, como produtora, de poder executar um projeto desse, uma comédia romântica com narrativa de dialeto, que vamos fazer acontecer no Nordeste."

Olhando para trás, para a jovem que começou na dança, Mylla não daria um conselho específico, mas sim uma orientação sobre a mentalidade. "Você vê, eu comecei dançando e virei produtora. Acho que você não nunca que fechar uma porta. Olho todas as portas como grandes oportunidades... Quem diria, de repente você começa de um jeito e acaba de outro. Tem que ficar esperto nessas oportunidades que a vida te dá."

E para o futuro? A resposta é a mesma que guiou seu passado: explorar. "Ainda tenho muito a explorar. Como produtora, é um gigante que estou abrindo. Na imobiliária, estamos indo para o mundo... A pessoa precisa ir se aprimorando cada vez mais, não pode começar e largar."

 

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