Cinema

Elas aprontam o quanto podem: leia crítica de premiado filme feminista

Dirigido pela canadense Chloé Robichaud, longa revela a aproximação de duas vizinhas que aprontam extravagâncias únicas no cinema

Crítica // Entre duas mulheres ★★★★

No isolamento de um filme de Bergman, há 60 anos, Persona trouxe a ocasião em que "duas mulheres pecavam", pelo que dizia o título. Prêmio Especial do júri em Sundance, a nova produção da jovial canadense Chloé Robichaud traz, para além do péssimo começo e um título confuso (Entre duas mulheres), um relato escancarado de relações abertas em que, vizinhas, Violette (Laurence Leboeuf) e Florence (Karine Gonthier-Hyndman) compactuam, e afinam situações descabidas de traições junto aos companheiros (respectivamente), Benoit (Félix Moati) e David (Mani Soleymanlou).

A harmonia doméstica já se encontra desvirtuada: com toda a naturalidade, Benoit dá escapadas com uma colega de trabalho e David, sob efeito de avalanches de remédios, diz amar a companheira "como amaria a uma planta". Comportamentos estranhos se empilham, à medida que as moças, cada uma municiada de razões, decreta que a monogamia foi produto de invenção.

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Baseado em peça de Catherine Léger, o filme semeia, em constância, uma instabilidade masculina, a partir da citação de relações muito frágeis, de humilhações públicas, e até da necessidade de "licença" para que mulheres "com pouca roupa" sejam cortejadas (numa cena que traz nítida provocação da parte de Florence). As piadas são muitas, e cada vez mais se afunilam, convergindo para situações extremas, desde o desconhecido que se prontifica a ofertar sexo, "sem problemas", até a colocação em prática de puladas de cerca, junto à toda a sorte de estereótipos, seja com encanadores e tipos braçais dos mais variados. Apesar de toda a graça, o filme consegue alcançar uma consistência maior, no desfecho.

 

 

 

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