Crítica

Sem saída: leia das confusões no longa Perfeitos desconhecidos

Num clima de crônica que se desdobra em frente ao espectador, a estreante Júlia Jordão investe em humor e reflexão, ao contar dos riscos de se participar de inofensivo churrasco

Crítica // Perfeitos desconhecidos ★★★

Em cena, um simples churrasco carioca e uma penca de desdobramentos inesperados para a confraternização: passados mal-recebidos de muitos convidados se juntam a anfitriões que ficam bem passados com a falta de limites daqueles vistos como grandes amigos. No primeiro longa, a diretora Júlia Jordão tem por respaldo o sucesso do filme italiano Perfetti sconosciuti, em que se baseia. O título fez história, como a obra listada no Guinness Book como a que mais gerou remakes, em todos os tempos.

O aprofundamento nas relações tocará um imenso grupo que inclui a família prestigiada pelos convivas: a psicóloga Carla (Sheron Menezzes), o cirurgião Gabriel (o eficiente Danton Mello) e a filha deles, a influencer Alice (Madu Almeida), namorada de Renato (Luigi Montez), o nerd de plantão. Com uma dinâmica intensa, no roteiro a cargo da dupla Patrícia Corso (do drama A porta ao lado) e Clara Peltier, os desencontros entre outros três personagens serão intensos. A premissa está no pacto de um jogo consentido por todos — celulares, à mostra e desbloqueados, indicam que haverá uma devassa no conteúdo de inúmeros segredos virtuais.

Particularizando cada drama, mas compartilhando cada efeito na jornada coletiva, o enredo — traçado pelas roteiristas conhecidas pela colaboração na série Os homens são de Marte... E é pra lá que eu vou — ganha muita qualidade, ao explorar as figuras de Paula (a sempre sensacional Débora Lamm), uma jornalista, e o par romântico dela: a professora Luciana (Giselle Itié). Apesar da panca de desenvolto e safo, João (Fabrício Boliveira), um amigo fracassado, se provará diferente do esperado.

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Graça e desespero se mesclam, ao se ver arranhada a superfície de casamentos já postos à prova, e um gritante jogo de aparências (repressores de frustrações). Para além de constrangimentos e de uma exagerada intensidade de convívio (que evoca O banquete, de Daniela Thomas), pesará a glória e as conquistas daqueles que vierem a chamuscar, publicamente.

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