Há atrizes que chegam primeiro pelo gesto. Antes mesmo da palavra, o corpo anuncia uma intenção, uma escuta, um modo de estar no mundo. Gabriela Medvedovsky é dessas. Bailarina formada ainda adolescente, ela aprendeu cedo que contar histórias também passa pelo eixo, pelo peso, pelo silêncio entre um movimento e outro. Talvez por isso sua trajetória artística — iniciada na televisão como uma mãe adolescente que lida com o peso da responsabilidade precoce aliada ao próprio peso do corpo em Malhação e que chega agora com um papel mais maduro em Três Graças — pareça menos uma sequência de papéis e mais um percurso orgânico, em constante transformação.
A estreia nos palcos veio com Godspell, em que viveu Robin, personagem que já trazia algo de coletivo, de partilha. Pouco depois, em 2017, o país passaria a reconhecer seu rosto em Malhação — Viva a diferença. Como Keyla, uma das cinco protagonistas, Gabi ajudou a inaugurar uma nova relação entre a novela e o público jovem, mais conectado, mais atento às narrativas de afeto, identidade e pertencimento. O sucesso atravessou fronteiras: a série conquistou o International Emmy Kids em 2018 e seguiu viva no spin-off As Five, que acompanhou aquelas meninas já adultas, tentando reorganizar o mundo — e a si mesmas.
Entre uma fase e outra, a paulistana criada em Porto Alegre (RS) fez escolhas que nem sempre são visíveis na superfície, mas que sustentam tudo. Formou-se em publicidade e propaganda, mergulhou em estudos, viajou. Nos últimos dois anos, frequentou seminários no Estudio Corazza, em Madri, além de cursos ligados a Ivanna Chubbuck e ao Lee Strasberg Theatre & Film Institute. Não para se filiar a uma única escola, mas para ampliar o repertório. "Quanto mais a gente estuda, mais ferramentas tem", costuma dizer, com a serenidade de quem sabe que técnica é abrigo — e não prisão.
Em 2021, veio Pilar, protagonista de Nos tempos do imperador: a primeira médica do Brasil, mulher à frente do seu tempo, enfrentando estruturas rígidas com ciência e convicção. Agora, Gabi retorna às novelas da TV Globo na faixa das 21h, na produção assinada por Aguinaldo Silva, Virgílio Silva e Zé Dassilva, sob direção artística de Luiz Henrique Rios. "Me interessou contar uma história como a de Três Graças como um todo. Achei a trama geracional muito interessante. Além disso, a Juquinha me interessou pela ideia de ter experiências em uma profissão tão diferente da minha e tão importante também", avalia.
Do cabelo de fogo ao universo masculinizado
A mudança é visível logo de cara: o cabelo, tingido de um ruivo-fogo inédito, anuncia Juquinha, estagiária da Academia de Polícia que se torna policial. Mas a transformação vai muito além da estética. Para viver Juquinha, Gabi mergulhou em um universo distante do seu cotidiano: aulas intensas de jiu-jítsu e defesa pessoal, visitas a delegacias de São Paulo — como o Deic —, conversas, observação atenta. O objetivo não era reproduzir gestos técnicos, mas compreender o que sustenta alguém que escolhe uma profissão atravessada pelo risco e pela violência. "Foi muito importante visitar delegacias e conhecer os profissionais da polícia civil para entender como é a realidade e o dia a dia dessas pessoas. Ver a presença feminina também foi muito legal e me inspirei em algumas pessoas com quem cruzei nessas visitas", conta a atriz de 33 anos.
Para Gabi, um dos grandes desafios foi o contato com o mundo da polícia, que é um universo mais distante." Me conectar com as motivações da escolha de uma profissão onde você arrisca sua própria vida para fazer justiça e proteger ao outro, acho isso bonito, é um altruísmo genuíno. E me inspirou muito nesse desafio", explica ela, que não esteve apenas nas cenas físicas ou no contato com a dureza desse universo, mas em acessar a empatia que existe ali, mesmo onde o mundo parece mais áspero.
A dança, mais uma vez, serviu de ponte, agora aliadas às aulas de jiu-jitsu e defesa pessoal. "Elas me ajudaram principalmente a encontrar o corpo da Juquinha, a postura, o eixo e o peso dela. Eu venho da dança então eu gosto muito de trabalhar com o corpo, para mim o corpo é essencial na construção da personagem", relata.
Coragem e delicadeza que viralizam
Hoje, Gabi vive intensidade em função de Juquinha. E comenta sobre as diferenças e semelhanças com a personagem. "Eu admiro muito a coragem da personagem, de enfrentar o que ela quer, de fazer o que ela acredita e se posicionar quando acha que é necessário. Sinto que, em relação a determinação, somos parecidas, em coragem também, quando se trata de tomar decisões e enfrentar questões. Então, acho que sim, tem um universo novo, mas também temos muitas semelhanças", conta
Trabalhar em uma novela das nove traz outra escala de visibilidade, outro tipo de repercussão. Gabi sente isso, mas não como peso. Para ela, a responsabilidade é a mesma: entregar o melhor trabalho possível, independentemente do horário. E há, claro, o privilégio de dizer textos em que se confia. Os três Silvas, formam, segundo a atriz, "uma tríade poderosa", capaz de criar personagens cheios de camadas e contradições — exatamente o tipo de material que a instiga. "É muito bom ler um texto em que você confia e que tem personagens com camadas e possibilidades", celebra.
Em Três Graças, Juquinha é também Eduarda, que, antes de ser policial, é uma moça de família rica paulistana cheia de afetos e atitudes que vive um romance com Lorena (Alanis Guillen), em uma história entre duas mulheres pautada na delicadeza e que vem encontrando eco afetivo no público. "Já estamos recebendo um retorno muito legal desse casal", comemora, orgulhosa, limitando-se a não explanar muito sobre o rumo do casal homoafetivo que viralizou positivamente até fora do país.
O casal "Loquinha" virou assunto global, com fãs de países como EUA, Itália, Tailândia e Armênia acompanhando e celebrando a representatividade. A repercussão foi tão grande que a TV Globo começou a disponibilizar legendas em inglês e espanhol para a novela, para alcançar mais fãs internacionais. "Espero que siga assim, conquistando o público e reverberando positivamente esse amor genuíno e leve", aposta.
Com a terceira temporada de As Five já exibida e, por ora, sem previsão de continuidade, a personagem Keyla repousa em silêncio para Juquinha ocupar o centro da cena. Mas Gabi olha adiante. Quer voltar ao teatro, fazer cinema, atravessar personagens complexas, contraditórias, humanas. Quer — e diz isso com clareza — que as mulheres sejam vistas para além dos estereótipos, com todas as suas ambiguidades e potências.
Saiba Mais
-
Diversão e Arte Brigitte Bardot: os melhores filmes da atriz e onde assisti-los
-
Diversão e Arte Ex-ator mirim é encontrado em situação de rua e vai parar no hospital
-
Diversão e Arte 'Stranger Things': irmãos Duffer explicam reação de Mike sobre Will
-
Diversão e Arte Sasha Meneghel faz topless na praia ao lado do marido e de Xuxa
