MÚSICA

Natal em coro: conheça o trabalho do Cantus Firmus

Coral tradicional da cidade, o Cantus Firmus começou com apresentações em creches e serenatas de Natal. Hoje, é uma rede de corais com participantes de todas as idades

O espírito natalino combina tanto com o canto que, nessa época do ano, é quase comum esbarrar em corais de Natal com repertório conduzido pelos clássicos das festas, mas também da história da música. Brasília tem muitos corais, e o Cantus Firmus é, certamente, um dos mais atuantes. Criado em 1992 pela maestrina Isabela Sekeff com o objetivo de realizar apresentações em creches para complementar um projeto de musicoterapia no qual trabalhava, o Cantus Firmus tomou corpo, cresceu, criou raízes brasilienses e conquistou público em outros países. 

Foram muitas viagens ao redor do mundo nos últimos 33 anos. Este ano, o coral cantou em Salzburgo, cidade austríaca  na qual nasceu Wolfgang Amadeus Mozart. "Cantamos na catedral da cidade onde Mozart trabalhou e foi batizado", conta Isabela. "Em 2025, nos apresentamos em Brasília, fizemos um concerto especial na Martins Penna, recebemos um coro da Finlândia e cantamos também na Alemanha e em Viena. Na Alemanha, cantamos em um festival na região da Baviera." Em Viena, a capital austríaca, o Cantus Firmus se apresentou na Musikverein, considerada uma das mais importantes salas de concerto do mundo. "Participamos de um evento onde cantamos solo, e fizemos uma missa do Schubert com coro de 1000 vozes", conta a maestrina. 

As serenatas de Natal viraram uma tradição do programa do grupo. São 33 anos entoando os clássicos natalinos em espaços públicos e privados da cidade. "O nosso coral nasceu há 33 anos inspirado na serenata de Natal da UNB. Na época, eu era uma aluna de regência, fazia estágio lá. Em uma das apresentações, em uma creche, um menino me abraçou muito forte e falou no meu ouvido: por que você só vem aqui no Natal?", lembra Isabela. "A partir daí, eu fundei o cantus."

Naquele mesmo ano, começaram as serenatas, cada uma delas dedicada aos cantores do coral e a quem eles desejavam oferecer. Virou uma tradição do Cantus Firmus. Hoje, cada cantor tem o direito de oferecer uma serenata. "E assim nos dividimos oferecendo nossa serenatas entre amigos, familiares, colegas do trabalho e outros", celebra a maestrina. "Já cantamos para um rapaz que trabalhava no empilhamento de um grande supermercado da cidade, às 3h da manhã." 

Hoje com 50 vozes, o Cantus Firmus segue como uma referência de canto e coral genuinamente brasiliense e faz parte de uma rede maior, fundada pela maestrina, na qual estão o Cantus Infantojuvenil, que recebe crianças entre 7 a 14 anos, e o Cantus Comunidade, com 150 cantores, um coro para todos que querem começar a cantar. Como o Cantus Firmus é voltado para a alta performance, é preciso fazer um teste para entrar. Quando ocorre a abertura de vagas, os testes são anunciados no Instagram do coral. Em entrevista, Isabela Sekeff fala um pouco sobre a trajetória do grupo e os desafios de cantar em um coral.

Entrevista // Isabela Sekeff, regente

 

Como começou o projeto Cantus Firmus? Há quanto tempo atuam na cena cultural?

O coral Cantus Firmus nasceu em 1992, com apresentações de caráter social, para creches e hospitais. Aos poucos, o trabalho se tornou cada vez mais intenso e o projeto começou a alçar voos maiores. Hoje, somos um coro com 33 anos de estrada, já cantamos em vários lugares do Brasil e outros países do mundo. Participamos de concursos internacionais, com medalhas de ouro e prata.

O coral já se apresentou em diversos países ao redor do mundo, incluindo Estados Unidos, Alemanha e Itália. Para você, como a repercussão internacional impacta o projeto?

A repercussão internacional traz duas grandes vantagens para o coral. Primeiro, o reconhecimento dentro do cenário brasileiro, porque existe um retorno grande do público nacional. Segundo, traz muita maturidade para o coro, já que aprendemos muito em cada viagem, ao ouvir e dividir o palco com outras culturas e outras produções musicais. 

Qual a experiência de se apresentar para o público do exterior e quais as principais diferenças com o Brasil?

No Brasil, o canto do coral não é muito valorizado. Existem mais orquestras sinfônicas apoiadas pelo governo do que corais. Então, cantar no Brasil é sempre um trabalho de resistência e conscientização da plateia. No exterior, o canto coral tem um espaço bem mais valorizado nas escolas, universidades e ações públicas. Então, é muito gostoso poder cantar e levar, ao mesmo tempo, um repertório coral brasileiro, que nos representa e nos valoriza. 

Ao longo dos anos, que momentos e apresentações marcaram a história do Cantus Firmus?

São muitos momentos que nos marcaram! Realço quatro apresentações: nossa primeira viagem para o Canadá, em que se celebrava os 500 anos de descoberta do país com a presença da póstuma Rainha da Inglaterra. Além disso, uma turnê que fizemos pelo País Basco, onde passamos 15 dias e fizemos 20 concertos. Foi uma viagem muito intensa e com muita experiência de troca. Em terceiro lugar, lembro da nossa viagem para a África do Sul, para participar do maior concurso de coros do mundo, o X World Choir Games, e trouxemos duas medalhas de ouro. A última é Viena, quando tivemos a oportunidade de cantar no Musikverein, uma das maiores salas de concerto do mundo. 

Que repertório compõe as apresentações?

Músicas de natal de várias épocas e nacionalidades. É muito legal a reação da plateia ao reconhecer as músicas e cantar com a gente! 

Na sua opinião, o canto de Natal ainda sensibiliza o ouvinte? De que forma a arte do coral se relaciona com o Natal e com o espírito natalino?

Sim, muito! A música é uma arte capaz de nos sensibilizar por meio da audição e capaz de abrir vários caminhos para a emoção. Escutar uma música de Natal traz memórias afetivas guardadas desde a infância. São aquelas relacionadas às imagens familiares e as lembranças gostosas, recordações que ficam guardadas e são abertas por meio das músicas. Na minha opinião, é um dos momentos mais incríveis de manifestação coletiva pela música.

 

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

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