Para Brigitte Bardot, a maternidade nunca foi um desejo, mas, sim, uma imposição atravessada pela fama, pelo casamento e por um corpo que, naquele momento, já não sentia como seu. Ícone do cinema, símbolo sexual dos anos 1950 e 1960 e, mais tarde, uma das mais conhecidas defensoras dos animais no mundo, a atriz sempre rejeitou o rótulo de “mãe”, apesar de ter tido um filho durante o auge da carreira.
Em 11 de janeiro de 1960, Bardot deu à luz Nicolas-Jacques Charrier, fruto de seu casamento com o ator Jacques Charrier. A experiência, longe de ser celebrada, tornou-se um dos períodos mais dolorosos de sua vida — sentimento que ela descreveu sem eufemismos na autobiografia Initiales BB, lançada em 1995. No livro, a atriz narra a gravidez como um luto antecipado por si mesma. “Eu olhava para minha barriga lisa e esbelta no espelho como para uma querida amiga sobre a qual eu estava prestes a fechar a tampa de um caixão”, escreveu.
O casamento com Charrier terminou em 1962. A guarda de Nicolas ficou com o pai, e o menino foi criado majoritariamente pelos avós paternos. Décadas depois, o passado voltou ao centro de uma disputa pública: segundo a revista People, antes da publicação da autobiografia, Nicolas e o pai tentaram impedir judicialmente que Bardot mencionasse trechos relacionados a eles no livro, sem sucesso. Após o lançamento, ambos processaram a atriz por invasão de privacidade, e um tribunal de Paris determinou que ela pagasse cerca de R$ 200 mil em multas.
Nas memórias, Bardot associa diretamente sua tentativa de suicídio, em setembro de 1960, à pressão exercida pelo marido para que abandonasse o cinema e se dedicasse exclusivamente à maternidade. Para ela, a proibição simbolizava o fim da autonomia: “Eu queria me libertar – em todos os sentidos da palavra – eu queria e não conseguia, porque era prisioneira do meu nome famoso demais e da natureza possessiva de Jacques, prisioneira do meu corpo, do meu rosto, do meu filho”.
Em outro trecho, a atriz usa uma das imagens mais controversas do livro ao comparar a gravidez de Nicolas a “um tumor crescendo de mim”, frase que cristalizou o conflito entre sua identidade pública e a maternidade forçada. Já adulto, Nicolas manteve pouco contato com a mãe e deixou a França ainda jovem, mudando-se para a Noruega. Hoje, aos 65 anos, ele vive no país e é pai de duas filhas. Em junho de 2024, Bardot explicou à revista Le Point que evitava falar sobre o filho em entrevistas porque havia prometido a ele que não o mencionaria mais publicamente.
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