LUTO

Brigitte Bardot deixa legado de ativismo pela causa animal

De protetora dos bichos a ícone do cinema e da moda, Birgitte Bardot inspirou o cinema e as passarelas

Em 1973, Brigitte Bardot abriu mão dos holofotes e se aposentou da profissão de atriz aos 38 anos para se dedicar integralmente à defesa dos animais. Em 1986, criou a Fundação Brigitte Bardot, financiada inicialmente com a venda de joias e objetos pessoais, e lutou, a partir da instituição, contra a caça de focas no Canadá, as touradas na Espanha, o consumo de carne de cavalo e o uso de animais em testes laboratoriais, tornando-se uma das vozes mais ativas da militância animal na França.

No ano passado, a francesa concedeu uma entrevista à Agence France-Presse (AFP), em que afirmou ter "muito orgulho do passado como atriz" e que o sucesso mundial que conseguiu alcançar é de grande ajuda na proteção dos animais. Na autobiografia Initiales B.B, lançada em 1995, a artista definiu o período no cinema como um rascunho da própria vida, e ressaltou que a missão mais importante que recebeu foi dar voz à causa animal.

A instituição Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (PETA) chegou a conceder à francesa, em 2001, o prêmio PETA Humanitarian Award, como reconhecimento pela luta em defesa dos animais, especialmente contra a caça às focas.

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Em maio deste ano, a atriz revelou à imprensa internacional que a chave de virada para dizer adeus ao cinema e abraçar o ativismo foi justamente durante as gravações do último filme da carreira, A edificante e alegre história de Colinot, onde conheceu, entre os figurantes, uma senhora e sua cabra de estimação.

Na entrevista, Brigitte relatou que ia vê-los sempre que tinha uma folga entre as filmagens, até que um dia a senhora lhe disse que, durante a Primeira Comunhão do neto, iriam fazer um grande churrasco com o animal. "Fiquei horrorizada! E comprei a cabra imediatamente. Levei-a para o meu hotel quatro estrelas; ela dormiu no meu quarto e até na minha cama com meu cachorrinho", contou a artista.

Personalidade controversa

Aposentada da carreira artística, Brigitte Bardot teve os últimos anos de vida marcados por declarações polêmicas, frequentemente proferindo insultos homofóbicos e incitando ódio racial. Em 2008, quando a atriz foi autuada por dizer que a comunidade muçulmana estava “destruindo seu país e impondo seus atos“, a promotora Anne Fontette disse estar cansada de processar a atriz, que, desde 1997, havia sido multada quatro vezes por falas semelhantes.

Em 1999, a atriz já havia sido multada por falar que a terra natal dela estava sendo “invadida por uma superpopulação de estrangeiros, especialmente muçulmanos". Em 2021, ela foi condenada na França por insultos racistas contra moradores da ilha de Reunião, após enviar uma carta com declarações consideradas ofensivas, se referindo a eles como nativos que teriam “preservado seus genes selvagens”. Antes, ela havia enviado uma carta, em 2019, ao então delegado do governo da ilha, denunciando a "barbárie dos habitantes de Reunião com os animais". Ela se desculpou posteriormente.

A atriz também esteve no centro de controvérsias em 2018, durante o auge do movimento feminista Me Too, quando tentou minimizar denúncias de assédio feitas por outras atrizes. Em entrevista à imprensa internacional, ela afirmou que muitas acusações eram “exageradas” ou usadas como “forma de autopromoção”.

Na esfera pessoal, a vida de Brigitte também foi marcada por declarações polêmicas. Em Initiales B.B, a atriz chegou a comparar a gravidez de seu filho Nicolas-Jacques Charrier, nascido em 1960, com "um tumor” que crescia dentro dela. "Eu olhava para minha barriga lisa e esbelta no espelho como para uma querida amiga sobre a qual eu estava prestes a fechar a tampa de um caixão", escreveu a francesa no livro.

Ainda na autobiografia, Brigitte definiu o parto como uma experiência traumática: “A histeria que me cercava era uma loucura. A sala de parto instalada na minha casa, os fotógrafos atrás das janelas, os que se disfarçavam de médicos". Nicolas foi criado pela família do pai, Jacques Charrier, de quem a atriz se divorciou em 1962.

Antes do lançamento do livro, o filho e o ex-marido tentaram censurar na Justiça as passagens em que eram mencionados, sem sucesso. Após a publicação, porém, ela foi obrigada a pagar cerca de R$ 200 mil em multas aos dois por invasão de privacidade.

AFP - A atriz comparou a gravidez do filho, Nicolas-Jacques Charrier, a um tumor

Temporada no Brasil

No auge da carreira, Brigitte Bardot desembarcou no Rio de Janeiro em 1964 com o objetivo de fugir da perseguição dos paparazzi. A atriz, porém, foi recebida por mais de 200 fotógrafos e jornalistas que a aguardavam no aeroporto carioca e acabou concedendo uma entrevista coletiva em troca de alguns dias de tranquilidade.

Acompanhada pelo franco-marroquino Bob Zagury, jogador de basquete e seu namorado à época, a francesa morou em Búzios por três meses. Chegando lá, encontrou um vilarejo de pescadores sem infraestrutura, o que encantou a artista, que estava em busca de tranquilidade. À imprensa internacional, Brigitte afirmou guardar recordações únicas do período: “Uma lembrança mágica, magnífica”.

AFP - Buscando fugir dos holofotes, a atriz morou em Búzios por três meses

“Foi o lado selvagem do lugar que me seduziu. Na época, era apenas uma aldeia de pescadores sem água encanada ou eletricidade. Vivíamos como Robinson Crusoé em praias selvagens e desertas. As ruelas eram cheias de leitões pretos e galinhas. Nós vivíamos de pesca, farofa, mangas e muito sol”, descreveu.

A paixão por Búzios foi tamanha que, em dezembro do mesmo ano, Brigitte retornou para passar o Natal e o réveillon. Dessa vez, no entanto, a passagem foi breve, durando apenas 10 dias. A temporada da estrela do cinema no município carioca trouxe projeção internacional ao local, transformando Búzios em destino turístico.

Em homenagem à francesa, foi criada a Orla Bardot, onde foi instalada uma estátua de bronze da atriz. Nas redes sociais, a prefeitura de Búzios lamentou a morte da artista: “Búzios te guarda em silêncio e em imagem. Nas fotografias que atravessam décadas, no olhar livre que nunca pediu permissão, nos pés descalços que tocaram essa terra como quem reconhece um lar. Cada foto sua é mais do que registro é presença viva, é gesto de liberdade congelado no tempo”.

 

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