Crítica

O brilho eterno da saudosa mente de Amy Winehouse

Cinebiografia promove uma devassa na vida de Amy Winehouse em filme dirigido por Sam Taylor-Jonhson, a mesma de '50 tons de cinza'

 Cena do filme Back to black, com Marisa Abela -  (crédito:  Universal Pictures/Divulgação)
Cena do filme Back to black, com Marisa Abela - (crédito: Universal Pictures/Divulgação)

Crítica // Back to black ★ ★ ★

Muitos trataram com desdém a escalação de Marisa Abela para viver a emblemática figura de Amy Winehouse no filme assinado por Sam Taylor-Johnson (diretora do desastroso 50 tons de cinza). Daí, sem excesso de boa vontade, pode-se bater o martelo para uma surpresa positiva. A chave para o resultado a contento está no fator autenticidade: com roteiro de Matt Greenhalgh (de Estrelas de cinema nunca morrem), vale muito ressaltar a capacidade de Marisa Abela cantar, de fato, em muitas das cenas.

O filme, grosso modo, confirma as versões de senso comum imperantes na vida da moça perseguida por paparazzi, e por um "destino freudiano" — com o pai Mitch (Eddie Marsan) norteando passos da carreira e da vida dela. Cynthia (papel de Leslie Manville) é sua avó e "ícone" de estilo, num cotidiano arcaico em que Amy abraça o retrô, curtindo Beatles, Fellini e Truman Capote. No plano jazzista, ela entoa Flight me to the moon e cantarola What is it about men. O pai a chama de "rainha do drama" e o ainda candidato a namorado, Blake (Jack O'Connell, de Ferrari) se decepciona ao vê-la menos rock'n'roll do que julgava. Espirituosa, ela se avalia, numa piada, como pouco feminista, e assume gostar de "homens até demais". Numa breve e forte participação como Chris, Ryan O'Doherty se vê cantado, no The Dublin Castle, na letra de You should be stronger then me, com citações a "maricas" e "gay". Nada fácil.

A codependência tóxica e o inevitável caminho para a reabilitação, a bulimia e a compulsão do vício se afirmam com a dinâmica descompromissada junto a Blake e ao jogo midiático para o qual ela não dava a mínima. Numa mesa de sinuca, Blake a apresenta (via jukebox) às sessentistas cantoras do The Shangri-Las, e a performance dele rouba a cena, numa hilária dublagem. Seguem-se, entre premiações com Grammy, as baixarias no meio da rua, a fase "boa menina", as declarações de amor a Dinah Washington, Lauryn Hill e Sarah Vaugh, além do deboche às moças do Spice Girls.

Momentos meio de novelão se mesclam ao registro da degradação física da cantora, morta ao 27 anos, e inchada de atitudes. Fica bem contado enredo de oportunismo que cercou a romântica cantora, com a vida tatuada pelo desejo de "tirar algo de bom do ruim (no exercício da música)", afogada pela intenção de estar "no bolso" de seus amores. Love is a loosing game, cantou Amy, tão focada em expressões como abraços e apegos, e que, no roteiro, vê a "música como reabilitação" para seu alcoolismo. Ao espectador resta, com desconforto, testemunhar a derrocada e os bastidores, nos shows em que parecia iô-iô, amparado pelo staff de seguranças. That's life — em meio à gangorra da vida — seriam as palavras eternizadas por Frank Sinatra, e que tem tal música acoplada a tanto drama.

 

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postado em 17/05/2024 09:01 / atualizado em 17/05/2024 09:01
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