Crítica // Tuesday — O último abraço ★★
Esqueça o Garibaldo inofensivo de Vila Sésamo. O pássaro falante que protagoniza este filme, a meio caminho do nonsense, determina ações definitivas na trajetória dos humanos, sempre comandando tramoias obscuras. Dispersivo, e sem foco, o roteiro impulsiona uma narrativa original — a partir do toque das asas do bichano, a pessoa recebe a sentença da própria morte. De refilão, o filme parece um live action para adaptação do desenho O menino e a garça, premiado, dada a genialidade de Hayao Miyazaki.
O tom, aqui, é bizarro e não disfarça a fonte que parece vir de Charlie Kaufman (de Estou pensando em acabar com tudo). Enquanto a mãe de uma moça moribunda, interpretada à perfeição por Lola Petticrew, vende peças de animais empalhados (entre os quais os de uma coleção de ratos capaz de externar críticas ao Vaticano), o alarmante pássaro reitera com a filha dela, que "toda a vida tem um fim".
Junto com o desespero na negociação por mais algumas horas de vida, Tuesday (a moça em estado terminal) interage com um mundo caótico que parece administrado por Inteligência Artificial (em estágio extra automático). Causa aflição a perda do fio da meada do longa descabido de Daina Oniunas-Pusic, e no qual a atriz Julia Louis-Dreyfuss, sem a menor convicção, interpreta uma mãe desnorteada. Com algumas situações vividas no limbo, o filme assume ligeiras semelhanças com o interessante Ressurreição (1980). De resto, o espectador é convidado a testemunhar perturbações, uma reaproximação familiar e um processo alegórico para a aceitação da morte.
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