
Por Graça Seligman — Moro no Lago Norte e, ao sair de casa, passo pela escola INDI, que fica em frente à casa do maestro Jorge Antunes. Ele é conhecido por ter executado a Sinfonia das Diretas em 1984, uma peça musical tocada por buzinas em protesto contra a ditadura. Na casa do maestro, acompanhei com tristeza um placar que mostrava a vergonha de termos o nosso Teatro Nacional fechado por mais de 10 anos. Recentemente, recebemos a boa notícia da reabertura da sala Martins Pena, um dos espaços do nosso teatro. Não adianta lamentar o passado; o importante é seguir em frente, esperando que não demore outra eternidade para concluir as demais salas e foyers do nosso principal espaço cultural.
A deterioração de um espaço tão significativo para a cultura e arquitetura brasileiras é uma grande perda. O teatro não é apenas um local de apresentações, mas também um símbolo da identidade cultural da cidade. Com seu jardim interno de Burle Marx e a grande Sala Villa-Lobos, com capacidade para 1.400 lugares, é o único espaço com palco capaz de apresentar espetáculos de dança, orquestras e óperas.
As lideranças públicas que passaram pelo GDF nesses 10 anos de teatro fechado refletem a falta de prioridade na manutenção e valorização de espaços culturais, essenciais para a vida artística e social da cidade. Hoje, há um movimento para construir um Museu da Bíblia. Nada contra, mas por que não se mobilizaram para manter e recuperar o grande Teatro Nacional, construído com recursos da sociedade? Como aceitaram liderar a capital e deixar fechado um dos teatros mais importantes do Brasil por tanto tempo?
Não podemos esquecer do legado cultural que já existe e precisa ser preservado. O investimento em cultura é fundamental não só para a comunidade artística, mas para toda a população do DF. Comparar o Teatro Nacional de Brasília com grandes teatros do mundo ajuda a entender seu valor. Ele é nosso equivalente ao Palais Garnier de Paris, à Scala de Milão, ao Royal Opera House de Londres, ao Teatro Colón de Buenos Aires e ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Esses teatros são marcos históricos que atraem o mundo e constroem a identidade cultural das cidades e países onde estão localizados.
A preservação e valorização do Teatro Nacional de Brasília devem posicioná-lo como o centro cultural essencial da capital brasileira. Nesse teatro, já se apresentaram grandes nomes como Claudio Santoro, João Gilberto, Tom Jobim, Gilberto Gil, Gal Costa, Chico Buarque, Ballet Corpo, Rita Lee, Mercedes Sosa, Astor Piazzolla, Yma Sumac, os balés russos Bolshoi e Kirov, o balé da Ópera de Paris, Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Dulcina de Moraes, Glauce Rocha, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Cássia Eller, Djavan, entre outros.
A falta de sensibilidade em relação à cultura pode ser atribuída à ignorância sobre seu valor e impacto positivo na sociedade. Por isso, cortes nos orçamentos governamentais frequentemente afetam a cultura. Para mudar essa realidade, é fundamental que a sociedade civil, artistas e instituições culturais se mobilizem para reivindicar mais atenção e investimento em cultura. A educação cultural também é crucial para criar consciência sobre o valor das artes e suas contribuições para a sociedade. Foi triste ver um espaço tão significativo fechado por tanto tempo.
A reabertura da sala Martins Pena é um sopro de esperança, mas é essencial que não seja um evento isolado. A pressão da sociedade civil e dos artistas é crucial para garantir que o teatro e outros espaços culturais sejam mantidos e valorizados. A educação cultural pode ajudar a formar uma nova geração que compreenda a importância das artes em suas vidas. A luta por mais investimentos em cultura deve ser contínua e coletiva. Espero que essa nova fase do Teatro Nacional inspire outras ações semelhantes na cidade e que possamos ver uma revitalização cultural significativa no DF.