
Há 17 anos em cartaz, o espetáculo Palavra de mulher traz de volta a Brasília o trio formado por Lucinha Lins, Tânia Alves e Virgínia Rosa reunidas em torno da música de Chico Buarque. Com um repertório formado por títulos como Basta um dia, Teresinha, Trocando em miúdos, Sob medida, O meu amor, Viver do amor, Folhetim, Olhos nos olhos, Tatuagem, A história de Lily Braun, Bastidores e O que será, entre outros, o espetáculo dirigido por Fernando Cardoso faz um passeio pelas personagens femininas das músicas do compositor.
No palco, as três cantoras estão unidas por um fio narrativo no qual encenam duas prostitutas e uma dona de um cabaré. "Achei que era um ambiente interessante, a moldura perfeita para as músicas escolhidas, um ambiente que fala das dores de amor, do sofrimento, de uma coisa passional, porque as músicas selecionadas são muito passionais", avisa o diretor. Todas as músicas, quase 30 no total, tratam de histórias de mulheres e se encadeiam numa dramaturgia subliminar na qual uma canção puxa a outra. A trama é construída a partir dessa estrutura. "Essas três mulheres são múltiplas em cena porque assumem os personagens das músicas que estão cantando. E as personagens são tão ricas que, às vezes, se contradizem na própria música", explica o diretor. " É um espetáculo completamente atemporal, pode ser apresentado daqui a 50 anos como ele é", avisa Lucinha Lins.
Tânia e Virginia são duas prostitutas que trabalham no cabaré comandado por Lucinha Lins. Não há personagens com nomes, embora haja um pouco de texto para conduzir a dramaturgia. "Não é um teatro então não tem personagem, cada música é uma personagem diferente. Cada uma tem seu comportamento, suas emoções, seus sentimentos. E são mulheres completamente diferentes umas das outras. É um show musical teatralizado", explica Tânia Alves, que fez, de Chico, Calabar e Ópera do malandro.
Tanto Lucinha quanto Tânia tiveram experiências diretas com Chico Buarque. Lucinha esteve no filme Os saltimbancos Trapalhões e no musical O Corsário do Rei, ambos com a assinatura de Chico Buarque na trilha. "E Tânia foi uma das primeiras a fazer Ópera do Malandro, em São Paulo. Foi Chico quem a levou para a Polygram", lembra Cardoso. "Em determinados momentos do musical, as atrizes quebram a quarta parede para fazer um comentário sobre sua história com Chico. Existe uma intimidade delas com a obra."
Virgínia Rosa lembra que o repertório do espetáculo é muito dinâmico e variado, além de enfocar o aspecto mais feminino da obra de Chico Buarque. "As músicas refletem sobre a alma feminina justamente porque ele é um escritor, um poeta, um compositor muito sensível e teve um interesse em ir fundo nesse universo feminino, com uma disponibilidade que traz um olhar e um sentimento femininos ao escrever as canções. É como se fosse uma mulher escrevendo sobre as mulheres", diz a cantora.
Lucinha Lins gosta de imaginar que, em outra vida, Chico Buarque foi "uma mulher maravilhosa que sofreu muitos problemas". "Chico tem o poder de refletir e traduzir os sentimentos femininos de uma maneira espetacular. É impossível não se emocionar. Tem músicas que acho que ele fez só pra mim, de tanto que eu, como mulher, me identifico. É muito bonito a maneira de ele mostrar a alma feminina", diz a cantora.
Palavra de mulher
Com Lucinha Lins, Tânia Alves e Virgínia Rosa. Direção: Fernando Cardoso. Sábado (8/3), às 20h, e domingo, às 19h, no Teatro Newton Rossi, no Sesc Ceilândia. Entrada gratuita, mediante doação de 1 kg de alimento não perecível. Ingressos serão distribuídos uma hora antes do início do evento. Não recomendado para menores de 12 anos