Por Isabella Paz—O genial Paul Klee, pintor suíço que dominava extraordinariamente as cores, filho de pai músico e de mãe cantora, afirmou que "a arte existe para revelar as dimensões invisíveis da realidade". Sobre os seus quadros, ele escreveu: "Cada linha é um caminho percorrido pelo ponto que saíra para passear". Pergunto: para onde esse ponto ousará ir, quando estiver sob os olhares de milhares de espectadores? Caro (a) leitor (a), acesse as obras de Klee pela internet ou por meio de uma boa livraria próxima, se ela ainda existir!
Se estiver na Europa ou NY, procure os museus. Paul foi professor da Bauhaus, nos ensinou a olhar de modo diferente. Seus quadrados e retângulos vibrantes não são estáticos. A arte é como uma dança, vital, fluida, tal qual "A dança", de Henri Matisse!
Visito a casa de um cineasta em Brasília. A primeira cena que vejo é composta por pessoas sentadas diante de computadores. Não é a cena do filme, é a cena da produção do filme. Essas pessoas estão sendo coordenadas por uma moça que anda de um lado para o outro, direcionando-as em suas ações e falando ao celular. Minha primeira impressão é a de estar numa central de atendimento, pois todas têm um microfone acoplado à boca e se comunicam sem parar. Adiante, atores repassam a leitura de textos; em um dos cômodos músicos repetem trechos de uma canção; e na varanda cenógrafos organizam materiais que integrarão alguns dos cenários.
Caminho em direção a uma sala ampla, onde o diretor está com cinegrafistas vendo cenas projetadas em um telão. Dois cachorros simpáticos percorrem todos os espaços e, finalmente, chego à cozinha para o cafezinho que acabou de sair, mas a cozinha também não está vazia. Há pães de queijo recém-assados e mais pessoas, que revisam detalhadamente o roteiro. Descubro que as "telefonistas" exercem diversas funções, desde o controle da agenda de toda a equipe até o preenchimento de formulários burocráticos para prestação de contas aos patrocinadores, passando pela contratação de serviços vários: costureiras, maquiadores, locação de espaços, aluguel de objetos e assim por diante. Todo essa grande engrenagem irá continuar se movimentando até que a obra esteja concluída e chegue a você, espectador.
É para isso que o artista, solitário como na pintura, ou inserido em uma equipe como no cinema, ainda que não receba o reconhecimento merecido pelo seu esforço e obra, ou ainda que sofra os reveses que o ofício lhe exige, continua acreditando no valor da arte e realizando-a! Michelangelo acreditou! Sobre um andaime de madeira com cerca de 18 metros de altura, que ele mesmo construiu, trabalhou em pé durante quatro anos com o pescoço retorcido para o teto, comendo gesso e tinta, para pintar o teto da Capela Sistina, a pedido do papa Júlio II. E ainda que tenha tido de pagar o preço por adquirir dores no corpo e problemas de visão, sim, ele o fez!
Quantos não são os músicos que, por repetirem exaustivamente movimentos ao tocarem seus instrumentos ou por estarem expostos a altos decibéis, desenvolvem problemas emocionais ou lesões físicas, por vezes, irreversíveis? Ou bailarinos que por dançarem sobre o gesso das sapatilhas, devido à alta pressão exercida sobre os pés, são "presenteados" com entorses, tendinites ou fraturas? Perguntemos à primeira bailarina do Teatro Municipal do RJ, Ana Botafogo, qual o preço e o valor por ter se dedicado à dança, e por ter possibilitado que espectadores do Brasil e do mundo fluíssem com ela em seus saltos magníficos e gingados potentes, se deliciando com a delicadeza plástica de seu corpo em cena.
A cena principal do Gênesis, que contém o Criador e a sua criação, representada por Michelangelo na Capela Sistina, está impressa no cartaz do Prêmio Profissionais da Música 2025, do qual participei palestrando sobre a musicoterapia e seus benefícios, essa terapia de vanguarda. Idealizado pelo músico Gustavo Vasconcellos, o Prêmio foi concebido para pôr em evidência justamente os músicos e todos que compõem a enorme cadeia de produção musical, pelo valor que representam para a sociedade.
Sem esse time de artistas não haveria arte, e nem tudo o que existe ao redor dela e por causa dela. (Pausa de semibreve) Quando formos ao cinema da próxima vez, levantemo-nos ao final para esticarmos as pernas, mas sobretudo para aplaudir nos créditos os artistas incansáveis! Sem o esforço invisível, não há magia visível.
