Artes cênicas

Deu tilt no clima: peça para crianças trata do aquecimento global

Peça traz enredo ancorado nas mudanças climáticas para falar de meio ambiente com as crianças

Um supostamente inocente saco plástico passa voando sobre a casa de uma palhaça responsável por  manter o céu com as nuvens que dão a chuva ao mundo. É noite, o saco entope a chaminé, as nuvens somem e, enquanto tenta consertar o estrago, a palhaça precisa cuidar da filha, da casa, de outras pessoas e de uma lista de tarefas. Instalado com sucesso, o caos tem consequências catastróficas para o clima do planeta e precisa ser revertido o quanto antes. Em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) até 10 de agosto, a peça Fábrica de nuvem, com direção de João Ferreira, é uma maneira lúdica de falar com as crianças sobre as mudanças climáticas e o meio ambiente. 

João Ferreira começou a conceber o espetáculo  a partir da imagem  poética de uma casa em uma nuvem. Ele pensou então em uma fábrica e fez a ligação com os  rios voadores, as nuvens condensadas que levam a chuva do norte para o sul do país. "Essa nutrição de chuva que o Norte do país tem com o Sudeste ficou forte para mim e queria trazer essa imagem, que é bonita, desses rios que voam. Dessa interdependência do clima do Brasil, do sul com o Norte. Comecei a me questionar sobre essas devastações no Norte, sobre as queimadas: nós achamos que o problema não é nosso porque o fogo não é no nosso quintal", explica.

Vencedor de quatro prêmios no 8º Prêmio CBTIJ, incluindo Melhor Espetáculo, Fábrica de nuvem faz parte de uma trilogia que tem também Lua gigante, sobre o tédio e a criatividade. Educador, João Ferreira acredita que assuntos sérios como o das mudanças climáticas podem e devem ser levados para as crianças. "Acho que esses temas que nos rodeiam também podem ser digeridos na infância", explica. "Esse assunto do clima e de mudanças climáticas também é das crianças e, talvez, seja mais deles, porque o futuro é deles, a gente vai passar e eles vão ficar aqui. Isso tudo me ajudou a trazer os ingredientes para essa história."

A atriz Flávia Costa vive a personagem responsável pela fábrica e traz para o palco outra preocupação do diretor: "É forte o papel social que essa mulher desempenha. A mulher, principalmente a empobrecida, é a que mais sofre as consequências das mudanças de clima, então a personagem traz uma questão importante que é todo esse trabalho invisibilizado. Ela cuida da casa, da filha, da fábrica e de si." Além disso, o diretor também queria falar de mitos nacionais, uma maneira de sobrepor personagens da cultura brasileira aos herois estrangeiros que povoam a mente das crianças brasileiras. "Eu queria personagens da nossa cultura para ajudar nessa construção do imaginário da nossa identidade. Os personagens vêm da região Norte, tem cobra-boitatá, boi-bumbá e a sereia do rio", avisa o diretor.

 


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