Em cartaz na Casa da Cultura da América Latina (CAL), a exposição Abolicionistas brasileiras propõe um passeio poético e histórico pelo universo de oito mulheres que estiveram presentes e foram fundamentais nas lutas abolicionistas do Brasil. Idealizada pela curadora Ana Carla Soler, a exposição parte da atuação de Maria Firmina dos Reis, Adelina, Aqualtune, Luiza Mahin, Anastácia, Esperança Garcia, Maria Felipa e Maria Tomásia Figueira Lima para recuperar várias dimensões da abolição da escravatura na trajetória do país.
Um primeiro núcleo da exposição apresenta um retrato dessas mulheres feito pelas artistas contemporâneas Guilhermina Augusti, Renata Felinto, Sheyla Ayo, Stefany Lima, Mariana Maia, Roberta Holiday, Thais Iroko e Thaís Basílio, uma leitura para o perfil das personagens históricas. "Apresentei material de pesquisa histórica para essas artistas e criamos um método de trabalho. Elas escolheram como contar a história dessas mulheres e retratos não foi o caminho que várias escolheram", explica Ana Carla. "Muitas trouxeram a história de vida delas na essência do trabalho, então temos desde instalações, esculturas, objetos e trabalhos relacionados às histórias dessas mulheres." Esse conjunto foi chamado pela curadora de Coleção abolicionista.
Em um segundo núcleo, artistas contemporâneas refletem sobre o período pós-abolição da escravatura e sobre quais foram as consequências desse processo. A curadora cita a pesquisadora Grada Kilomba para explicar a ideia dessa produção. "Ela fala que ainda vivemos em um período histórico, como se ainda estivéssemos no processo pós-abolição porque ainda vivemos as consequências, e ela fala sobre racismo estrutural, desigualdade. Só vamos poder dizer que saímos quando superarmos as consequências", garante. Os trabalhos, nesse segmento, trazem apontamentos com as urgências que a sociedade contemporânea vive hoje em relação ao processo de pós-abolição. "Esse núcleo se organiza a partir de questões políticas e direitos básicos, e alguns trabalhos refletem sobre saúde, educação, habitação", explica a curadora.
Um terceiro grupo de trabalhos reflete sobre a genealogia e a herança genética negadas à população negra, uma vez que todos os antepassados foram sequestrados em outro continente. "Essa herança foi, estrategicamente, apagada. São trabalhos que falam sobre essa reivindicação e sobre como a estrutura matriarcal se apresenta em forma de resistência", diz Ana Carla. Um último núcleo traz a fé, a espiritualidade e a religião como temas. São, na leitura da curadora, instrumentos de permanência e resistência da cultura com obras que mostram como as religiões de matriz africana foram fundamentais para preservar as heranças culturais dos povos trazidos à força para o Brasil.
Serviço
Abolicionistas Brasileiras
Curadoria: Ana Carla Soler. Visitação até 11 de janeiro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h e aos sábados, 8h às 12h, na Casa da Cultura da América Latina (CAL/UnB SCS Quadra 4 Bloco A Lote 170). Entrada gratuita
