Pregão

Ibovespa leva tombo e fecha agosto abaixo de 100 mil pontos

A pressão envolvendo questões fiscais e o Orçamento de 2021 do governo foi o principal assunto do dia e vinha dominando as discussões durante a segunda quinzena do mês

Israel Medeiros*
postado em 31/08/2020 19:51 / atualizado em 31/08/2020 19:51
 (crédito: NELSON ALMEIDA/AFP)
(crédito: NELSON ALMEIDA/AFP)

No último pregão de agosto, o índice Ibovespa confirmou o "mal-humor" dos investidores no mercado brasileiro, que tem sido cenário de muito estresse e incertezas: fechou abaixo dos 100 mil pontos (99.369) com tombo de 2,72% nesta segunda-feira (31/8). Já o dólar se valorizou 1,20% frente à moeda brasileira, vendido a R$ 5,47. A pressão envolvendo questões fiscais e o Orçamento de 2021 do governo foi o principal assunto do dia e vinha dominando as discussões durante a segunda quinzena do mês. Mas o comportamento no cenário doméstico foi diferente do que se viu no exterior.

Nas bolsas internacionais, as expectativas por vacinas contra covid-19, os bons indicadores de desempenho das economias em vários países e incentivos fiscais de Bancos Centrais fizeram o apetite por risco dos investidores aumentar nas últimas semanas. Por aqui, a história foi outra: o presidente Jair Bolsonaro flertou com a possibilidade de furar o teto de gastos, o que poderia resultar em um desequilíbrio fiscal das contas públicas. O clima esquentou quando ele rejeitou o modelo do substituto do Bolsa Família, o Renda Brasil, apresentado pelo Ministério da Economia.

O resultado foi uma queda de 3,44% no índice Ibovespa no acumulado do mês de agosto. Especificamente nesta segunda, a situação se repetiu, com bons resultados no exterior e fuga de capital estrangeiro. É o que explica Rodrigo Moliterno, sócio fundador da Veedha Investimentos.

"A semana será bastante agitada. A gente tem a questão da entrega do orçamento, a definição da prorrogação do auxílio. Ainda pairam as notícias de um desentendimento entre Guedes e Bolsonaro. Em relação ao Renda Brasil, deve ficar para outra hora. Tem também anúncio do PIB esta semana. É uma semana com bastante anúncios e movimento na questão política. Isso vem interferindo no mercado e continua assim", detalhou.

Ele também comentou o fato de os Estados Unidos terem anunciado uma redução da cota de aço comprada do Brasil. Os americanos alegaram falta de demanda. "Daqui pra frente, vamos ver cada vez mais as economias tentando se proteger. Para o Brasil é ruim por ser um grande exportador de commodities. Brasil precisa saber contornar isso. Os EUA terem reduzido a importação de aço do Brasil foi uma questão pontual para proteger a indústria de lá", explicou.

Sobre isso, Moliterno disse ainda que, o fato de o Brasil ser exportador de commodities é um problema em um momento como esse, onde a economia de outros países é baseada na cautela. Apesar de a redução da cota ser uma notícia negativa, por outro lado, houve um acréscimo no valor do minério, que impactou positivamente as empresas que foram afetadas pela redução da cota.

"O Brasil continua sendo o grande fornecedor. A gente tem a Vale que é uma das maiores mineradoras do mundo. A tendência é que, tanto no caso do minério quanto em proteínas – onde também temos as maiores empresas do mundo –, voltem a comprar de nós. O dólar alto ajuda, nós chegamos com preço mais competitivo", afirmou.

A segunda-feira foi marcada também pela queda nos papéis da companhia aérea Gol.

"No setor de aviação, a Gol teve queda por causa do vencimento de uma dívida de US$ 300 milhões. Há dúvidas se ela vai conseguir pagar, por isso os papéis caíram hoje. Já nas IPOs (oferta inicial de ações de empresas) que estavam sendo preparadas, as empresas estão tendo que baixar o preço para poder ter demanda e abrir capital. Aumentou-se o risco-país, então os investidores querem um prêmio para entrar no ativo", completou Rodrigo Moliterno.


*Estagiário sob a supervisão de Vicente Nunes

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