Após fechar abaixo dos 100 mil pontos na segunda-feira (31/8), em mais um dia de incertezas sobre os riscos fiscais envolvendo o governo, o índice Ibovespa subiu 2,82% e alcançou os 102.167 pontos nesta terça-feira (1º/9), primeiro pregão do mês de setembro. No câmbio, o dólar operou em forte queda após o anúncio do governo de que enviará reforma administrativa ao Congresso na próxima quinta-feira (3/9). A moeda americana fechou vendida a R$ 5,38, com queda de 1,74%. Ao longo do dia, chegou a valer R$ 5,33.
O dia começou movimentado. Logo de manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2020. A queda foi de 9,7%, abaixo das previsões do mercado, que apostava em 9,4%, configurando a maior queda no período desde 1996. Em relação ao mesmo período do ano passado, o tombo foi de 11,4%. Porém, segundo especialistas, mesmo que essa fosse a principal notícia do dia, não seria suficiente para causar grandes impactos no humor dos investidores.
É o que explica Alexandre Amorim, gestor de investimentos da ParMais. Para ele, a diferença entre o esperado pelo mercado e o que o IBGE divulgou não foi tão alta. "Já houve previsões muito piores. Não é nada que assuste, foi uma diferença fácil de digerir. A gente viveu um momento tão ímpar, com disparidade e variações em diversos setores da economia, que essa diferença não foi tão relevante. Mesmo que não houvesse mais nada no radar, é bem possível que o resultado seria minimamente afetado por esses resultados", explicou.
De manhã, quando o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, apareceram diante das câmeras para anunciar a extensão do auxílio emergencial e o envio da reforma administrativa, a reação do mercado foi de surpresa — positivamente falando. Amorim pontua que os investidores já estavam descrentes com a agenda de reformas para este ano. "O mercado não estava esperando. Ao contrário do que se tem noticiado, o governo tem se articulado bem para essas reformas. Não se esperava esse anúncio, mas é preciso ver como será feito. Isso vem de encontro com o maior problema que o mercado estava vendo, que é a questão fiscal", disse ele.
Para Renan Silva, economista da Bluemetrix Ativos, o anúncio da reforma administrativa manda uma mensagem de responsabilidade com recursos públicos. Vale lembrar que, em agosto, as discussões em torno da possibilidade de o governo furar o teto de gastos promoveram quedas expressivas na bolsa brasileira. Agora, explica Renan, há uma reafirmação da disciplina fiscal.
"Existe um conjunto de coisas positivas. A reforma da previdência era a mais importante da agenda e já aconteceu; a reforma administrativa é a segunda mais importante; a tributária está na esteira. O Congresso agora enxerga um bônus e o mercado faz essa leitura. Outra coisa importante é o resultado do Banco Central no primeiro semestre com operações cambiais. Os recursos estão sendo transferidos para o Tesouro, então o mercado tem essa leitura de que haverá um alento. Há uma perspectiva boa agora", detalhou.
Silva disse ainda que a decisão do governo de estender o auxílio emergencial e reforçar o Bolsa Família — deixando seu substituto, o Renda Brasil, para depois —, não alterou os ânimos no mercado. "Acho que faz parte dessas realizações essa transferência do BC para o Tesouro Nacional. Isso permite ao governo manter os estímulos. O reforço ao Bolsa Família incentiva o consumo e melhora o PIB. Principalmente nesse segundo semestre, que há empresas sofrendo muito. Ao invés de implementar o Renda Brasil, o governo decidiu reforçar o Bolsa Família. Foi uma decisão madura e, ao mesmo tempo, não representa uma piora no orçamento", completou.
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*Estagiário sob a supervisão de Fernando Jordão
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