PIB

Prévia do PIB tem queda em agosto puxada por recuos no varejo e na indústria

IBC-Br mostra queda de 0,15% no mês, na comparação com julho. Desaceleração é três vezes maior que a esperada por especialistas. Ainda assim, Banco Central aponta alta na comparação com 2020

Fernanda Fernandes
postado em 15/10/2021 10:40 / atualizado em 16/10/2021 08:38
 (crédito: Danilson Carvalho/CB/D.A Press)
(crédito: Danilson Carvalho/CB/D.A Press)

A desaceleração do ritmo de crescimento do comércio varejista e da atividade industrial já tem ecoado na prévia do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados do Banco Central. A autarquia afirma que, em agosto, a economia recuou 0,15%, na comparação dessazonalizada com julho, quando houve alta de 0,6%. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) foi divulgado pelo BC, nesta sexta-feira (15/10), e demonstra desaceleração bem acima da esperada por especialistas do mercado, que previam queda em torno de 0,5%. Ainda segundo o banco, apesar da queda no mês, no acumulado em 12 meses o índice aponta alta de 3,99% e na comparação com agosto de 2020, se mantém em alta de 4,74%, especialmente em razão da baixa base de cálculo registrada no ano passado.

O BC afirma que a queda do indicador em agosto foi puxada pela desaceleração de 0,7% da produção industrial e de 3,1% das vendas do varejo durante o período, em especial do recuo de 2,5% nos setores de vendas de veículos, motos, partes e peças - que têm enfrentam a escassez de componentes, e de material de construção. Esse recuo poderia ter sido ainda maior, não fossem as altas consecutivas no setor de serviços, que em agosto cresceu 0,5%.

Na avaliação de Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos, a preocupação em relação ao desempenho da atividade econômica no terceiro trimestre aumentou com a nova prévia do PIB demonstrada nesta sexta. “Teve esse viés de correção para baixo do PIB, que reduziram nossas projeções que estavam ao redor de 0,5% para algo ao redor de 0,2%”, afirma a especialista. Segundo Abdelmalack, tudo indica que o IBC-Br em setembro também será negativo. “A gente sabe que o que vem aumentando a atividade econômica no segundo semestre é o setor de serviços, uma vez que o varejo teve uma decepção em agosto e a indústria enfrenta toda uma problemática por conta da falta de insumos”, explica.

O economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes, afirma que o ritmo no setor de serviços, que tem freado a desaceleração da atividade econômica, deverá cair nos próximos meses. “A recuperação tende a se dar de forma mais lenta, por dois motivos: os ganhos tendem a ser menores, se aproximando ao nível pré-pandemia, e por conta da alta nos juros e da inflação”, disse ao Correio Braziliense, na última quinta-feira (14/10).

Economia patina

Segundo Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos, após a alta registrada no PIB do primeiro trimestre deste ano, a economia brasileira voltou a “patinar” e parece estar em compasso de espera. Para o especialista, os resultados negativos na prévia de agosto são reflexo de um combo grande de fatores que fazem pressão econômica e que irão refletir tanto este ano, como no próximo. “Esse resultado veio abaixo do esperado, depois de duas altas seguidas. Com isso, o PIB de 2021 deverá fechar abaixo dos 5% e, em 2022, se continuar nesse ritmo, pode chegar abaixo de 1%”, afirma Carvalho.

Entre os fatores de pressão inflacionária e desaceleração econômica, o economista aponta tanto problemas domésticos, como o impacto da inflação global, em torno de 4%. "Ruídos políticos, altas de juros, perda de confiança do consumidor e do empresário, crise hídrica, dólar alto, commodities caras e falta de matérias primas. Tudo isso refletiu nas quedas no varejo e na baixa produção industrial”, pontua.

Utilizado como principal indicador para acompanhamento mensal e cálculo do PIB, o IBC-Br acompanha com frequência a evolução da atividade econômica, observando as tendências de cada trimestre. Apesar de o Banco Central já sinalizar uma desaceleração no PIB nos próximos meses, as Estatísticas Fiscais do 2º semestre, divulgadas também nesta sexta, pelo Tesouro Nacional, mostram alta de 55,4% na arrecadação de receitas do governo central, estados e municípios, na comparação com o segundo trimestre de 2020. Além de queda de 13,1% nas despesas, comparadas aos períodos mais críticos da pandemia.

 


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