FEDERAL RESERVE

Fed antecipa fim dos estímulos monetários e adota tom agressivo contra inflação

Banco Central dos Estados Unidos abandona o termo "temporário" para a inflação e acelera ritmo de redução de liquidez no mercado de US$ 15 bi para US$ 30 bi, a partir de janeiro. Alem disso, sinaliza três altas na taxa de juros em 2022

Rosana Hessel
postado em 15/12/2021 20:34
 (crédito: NICHOLAS KAMM)
(crédito: NICHOLAS KAMM)

O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) pegou o mercado de surpresa ao acelerar o ritmo do aperto monetário, ampliando a redução de compras de títulos de US$ 15 bilhões para US$ 30 bilhões e ainda sinalizou três altas de juros em 2022. Para analistas do mercado, o tom do comunicado foi mais duro contra a inflação e, por conta disso, foi classificado como "hawkish" (derivado de falcão), ao substituir o termo "transitório" para "elevado".

Após a reunião Comitê Federal de Mercados Abertos (Fomc), manteve a taxa de juros de referência entre zero e 0,25% ao ano e anunciou o aumento no ritmo de redução dos estímulos monetários na economia a partir de janeiro, para US$ 30 bilhões mensais.

A decisão foi unânime entre os representantes regionais do Fed e o colegiado indicou que deverá encerrar em março o programa de estímulo monetário, de compra de títulos, que foi adotado durante a pandemia da covid-19, injetando US$ 120 bilhões por mês na economia.

O Fomc também sinalizou que deverá promover três altas de 0,25 ponto percentual nos juros no ano que vem, a fim de conter a inflação. Em novembro, o índice de preços ao consumidor registrou alta de 6,8% no acumulado em 12 meses, a maior variação para o período desde junho de 1982, ou seja, em 39 anos.  

A previsão do mercado era que o fim do programa de estímulo monetário terminasse apenas em junho de 2022. Com a antecipação, o dólar voltou a subir frente ao real, pois países emergentes devem sentir o baque de um novo ciclo de alta de juros na maior economia do planeta e do enxugamento do excesso de liquidez do mercado internacional. Não à toa, a divisa norte-americana encerrou em alta, cotada a R$ 5,70, o maior patamar desde abril.

Pelas estimativas do economista Gregory Daco, da Oxford Economics, além de realizar três aumentos dos juros em 2022, "outras três altas devem ocorrer em 2023 e outras duas, em 2024, trazendo a taxa de referência para 2,1% ao ano". 

João Beck, economista e sócio da BRA, escritório credenciado da XP Investimentos, destacou que o Fed deixou bem claro no comunicado que está preocupado com a inflação. "O comunicado adotou o tom duro já esperado, porém bem diferente do início do ano. E deve alinhar a expectativa de mercado para altas de juros antes do esperado para maio ou talvez até março", afirmou.

"Em sua fala, Powell reiterou o comunicado do Fomc e usa um discurso oposto ao início do ano. É um Powell bem mais hawkish. Uma curiosidade do mercado seria o tom com que a nova variante ômicron seria tratada e Powell disse que o mundo está mais vacinado e aprendeu a conviver com o vírus. Outra dúvida é o timing, ou seja, o gap temporal entre o tapering e o aumento de juros. Powell deixou esse tema ainda em aberto, mas frisou que a alta de juros só vem após finalizado o tapering", destacou, em referência ao fim do programa de estímulo monetário.

De acordo com ele, a redução de estímulos e o arrocho da economia dos Estado Unidos subindo juros pode ocasionar uma queda na Bolsa de Valores e, provavelmente, haverá uma correção nos preços de alguns ativos, como criptomoedas e ações de empresas de tecnologia, devido às distorções por conta dos juros muito baixos e do excesso de liquidez.

"Mas a notícia é positiva. Significa que o país está conseguindo andar com as próprias pernas. Sem a bengala de tantos pacotes de estímulos feitos em tempos passados. Lógico que isso ainda dependerá de dados da atividade nos trimestres seguintes. Mas se forem positivos, significa um crescimento sem ser artificial e sem as muitas distorções causadas por tantos pacotes de estímulo", acrescentou.

Na avaliação de Beck, o impacto no Brasil será "pequeno". "A alta de juros lá fora pode ser uma atrativo para um fluxo de recursos saindo de países emergentes, o que pressiona nossos juros por aqui. Os futuros de DI sobem hoje. Mas o tom geral hawkish do Fomc e do Powell já eram esperados", disse.  "A taxa de juros muito baixa por muito tempo faz com que obviamente haja um estímulo em empresas de tecnologia a criptoativos em busca de rentabilidade. Poderemos ver durante um tempo a reversão dessa tendência", acrescentou.

 


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