conjuntura

Inflação tem pior índice para janeiro desde 2016; alimentos puxaram alta

IPCA desacelera, mas índice de 0,54% é o maior para o mês desde 2016. Em 12 meses, alta acumulada chega a 10,38%

Fernanda Strickland
postado em 10/02/2022 06:00
 (crédito: Davizro Photography / Shutterstock)
(crédito: Davizro Photography / Shutterstock)

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, desacelerou para 0,54% em janeiro, após ficar em 0,73% em dezembro do ano passado, mas foi o maior resultado para o mês desde 2016. Nos últimos 12 meses, o indicador acumula alta de 10,38%, acima dos 10,06% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A alta foi influenciada, principalmente, pelo grupo alimentação e bebidas, que subiu 1,11% e teve o maior impacto no índice do mês (0,23 pontos percentuais). Entre os alimentos, os principais destaques de alta ficaram com as carnes (alta de 1,32%) e as frutas (3,40%). Além disso, os preços do café moído (4,75%) subiram pelo 11º mês consecutivo, acumulando elevação de 56,87% nos últimos 12 meses. Cenoura, (27,64%, cebola (12,43%), batata-inglesa (9,65%) e tomate (6,21%) também tiveram aumentos expressivos.

Dragão Persistente
Dragão Persistente (foto: Editoria de Arte do Correio)

Segundo o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o efeito da alta dos alimentos é temporário. "Os produtos de feira livre normalmente sobem durante o verão, mas depois costumam cair de preço. Desta forma o efeito não é permanente, portanto não chega a comprometer a inflação de 2022", disse.

Braz observou, porém, que os preços dos bens duráveis chamaram a atenção. "Os carros novos e usados continua subindo, os artigos de residência e eletrodomésticos também aumentaram no mês. Isso mostra os espalhamentos das pressões inflacionárias", salientou. Segundo o IBGE, 73% dos itens pesquisados tiveram aumento de preços em janeiro.

O grupo transportes, por sua vez, ajudou a segurar o índice, ao apresentar recuo de 0,11%. Esse foi o único dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados a ter queda em janeiro. O recuo é consequência, principalmente, da queda nos preços das passagens aéreas (-18,35%) e dos combustíveis (-1,23%). Além da gasolina (-1,14%), também caíram os preços do etanol (-2,84%) e do gás veicular (-0,86%). O óleo diesel (2,38%) foi o único a subir em janeiro. Outros destaques negativos foram os recuos dos transportes por aplicativo (-17,96%) e o aluguel de veículos (-3,79%).

O estudante Manuel de Freitas, 25 anos, residente no Gama (DF), contou que acabou de chegar de uma viagem. "Comprei as passagens ainda em 2021, aproveitando uma promoção, pois elas estão bem caras", disse.

O analista da pesquisa do IBGE, André Filipe Almeida, explicou que contribuíram para a queda dos combustíveis os reajustes negativos aplicados nas refinarias pela Petrobras em dezembro. "Isso ajuda a entender o recuo nos preços em janeiro", afirmou.

Meta

Segundo o mestre em economia Benito Salomão, a inflação tende a terminar 2022 acima da meta do governo. "Os comunicados do Banco Central têm mostrado que ele vai agir para tentar fazer a inflação convergir a partir de 2023", afirmou. "Para este ano, não há muito o que fazer. Porém deve haver uma desinflação, que está relacionada com o aperto monetário que já foi feito. Como o pacote de combustíveis, que deve reduzir o indicador a curto prazo, as chuvas podem contribuir para a queda de preço na energia elétrica, porque os reservatórios devem ficar mais cheios", explicou.

O objetivo perseguido pelo Banco Central é de 3,5% neste ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Para Salomão, neste ano, a inflação deve permanecer forte, em torno de 7%. "O que, na minha opinião, ainda é muito elevado. É o dobro do teto da meta", afirmou. "Vai ser um grande desafio para o BC, porque a política fiscal está sendo expansionista", disse.

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