Encontro do G20

Guerras impedem comunicado oficial da reunião de ministros de finanças

Embora o encontro fosse de ministros das finanças, alguns países queriam incluir temas geopolíticos, como a guerra na Ucrânia e os ataques na Faixa de Gaza, no documento final

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, presidiu a reunião dos ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G20 -  (crédito:  Diogo Zacarias)
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, presidiu a reunião dos ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G20 - (crédito: Diogo Zacarias)
postado em 01/03/2024 03:55

Depois de uma intensa agenda de dois dias de conversas, o encontro dos ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do grupo das 20 maiores economias do mundo, o G20, em São Paulo, acabou, ontem, sem chegar a um comunicado conjunto. O motivo, foram as divergências sobre a questões ligadas aos conflitos em Gaza e na Ucrânia.

O ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, que presidiu os debates, disse que, apesar do impasse entre os países a respeito dos conflitos geopolíticos tenha travado o texto, nos temas econômicos, os países chegaram a um consenso.

"Nós havíamos nutrido a esperança de que temas mais sensíveis e relativos à geopolítica fossem debatidos exclusivamente nas trilhas diplomáticas, isso acabou contaminando o estabelecimento de um consenso da nossa [trilha de finanças]", disse Haddad. "No que diz respeito aos temas referentes ao nosso grupo, chegamos a uma redação consensual, sobre os temas iminentemente econômicos", completou.

A tentativa brasileira era, a todo custo, retirar a Rússia e Israel do texto, para conseguir formatar a declaração conjunta, já que todo o resto do comunicado foi fruto do consenso entre os participantes. Mas aquilo que seria uma nota de rodapé no comunicado acabou frustrando a intenção brasileira de dar peso ao encontro. Segundo Haddad foi por "apenas uma palavra" que não foi possível chegar ao acordo.

Desigualdade

Ao final do encontro, o que acabou sendo divulgado foi uma nota da presidência brasileira do G20, o que tem sido uma prática desde o início da guerra da Ucrânia, já que a Rússia é integrante do G20.

"Em 2024, nos concentraremos em tornar a desigualdade um ponto central de preocupação política; melhorar a representação e a voz dos países em desenvolvimento na tomada de decisões em instituições econômicas e financeiras globais a fim de oferecer instituições mais eficazes, credíveis, responsáveis e legítimas; trabalhar por Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (BMDs) melhores, maiores e mais eficazes", diz o documento divulgado pelo Brasil.

Otimismo

Mesmo sem o documento conjunto, Haddad comemorou que as propostas brasileiras, como a cooperação tributária para taxar os super ricos, foram bem aceitas pelo grupo. Haddad também ressaltou o destaque que vem assumindo a questão do combate às desigualdades, vista, cada vez mais, como um tema central na agenda econômica global.

Outros pontos destacados por Haddad foi a adesão dos participantes à proposta brasileira de se rever a governança das entidades multilaterais como o Fundo Monetário Internacional e de torná-las mais fortes e participativas. O documento da Fazenda relata que os ministros da Fazenda das 20 maiores economias do mundo reconhecem que o cenário apresenta desafios econômicos, sociais e ambientais, mas apontara, para o aumento da probabilidade de "um pouso suave na economia global", com resiliência do crescimento, mesmo com "divergências" entre países.

"Prevê-se que o crescimento global se estabilize em 2024 e nos próximos anos em um nível contido, aumentando o desafio de alcançar os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável). A dinâmica do mercado de trabalho tem sido desigual entre as economias. Ao mesmo tempo, a inflação recuou na maioria das economias, em grande parte, devido a políticas monetárias apropriadas, ao alívio dos gargalos na cadeia de abastecimento e à moderação dos preços das commodities", diz o texto.

Para manter esse cenário positivo, os ministros da Fazenda destacaram a necessidade de "políticas fiscais, monetárias, financeiras e estruturais bem calibradas e comunicadas para promover um crescimento forte, sustentável, equilibrado e inclusivo, manter a estabilidade macroeconômica e financeira e ajudar a limitar os impactos negativos", mas sempre apontando para riscos no cenário econômico global no próximo período.

O comunicado da presidência brasileira do G20 termina reafirmando o apoio ao continente africano e a ambição de avançar em soluções concretas até o próximo encontro do grupo em abril, em Washington, nos Estados Unidos.

O encontro teve início na última quarta-feira, e contou também com representantes de organismos internacionais, como Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco dos Brics.

 

 

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