
As declarações do presidente argentino, Javier Milei, sobre uma possível saída da Argentina do Mercosul para firmar um acordo comercial com os Estados Unidos reacenderam o debate sobre o futuro do bloco sul-americano. Crítico histórico da integração regional, Milei classificou o Mercosul como uma "prisão" e reforçou a defesa de uma flexibilização nas regras para que os países possam negociar diretamente com outras nações. Especialistas concordam que o bloco precisa urgentemente de flexibilização para se adequar às demandas do comércio global.
"Estamos trabalhando fortemente na possibilidade de criar um tratado de livre comércio. De fato, a recentemente assumida presidência do Mercosul disse que deveríamos avançar para ter a independência de cada país com acordos de livre comércio. O Mercosul não pode ser um obstáculo para isso. Enquanto trabalhamos em paralelo com o governo dos EUA por um acordo de livre comércio, trabalhamos portas adentro no Mercosul para ele que não seja um impedimento", afirmou Milei, ontem, em entrevista à Bloomberg, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
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Criado em 1991, o Mercosul reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai com o objetivo de promover a integração econômica e comercial na região. Contudo, os desafios do bloco aumentam, como a lentidão em negociações externas, os conflitos entre os interesses nacionais e as amarras que dificultam a flexibilização dos acordos bilaterais. Segundo os analistas, a crise atual pode servir como uma oportunidade para reformular as regras e garantir a relevância do grupo.
Arthur Pimentel, presidente do Conselho de Administração da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), defendeu uma abordagem mais flexível para o Mercosul. Segundo ele, o bloco precisa se modernizar e ampliar o número de membros. Para o diretor de Comércio Exterior da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), Arno Gleisner, há falta de progresso desde a fundação do Mercosul. "O bloco tem patinado ao longo das décadas e não conseguiu se adaptar ao cenário geopolítico mundial. Precisamos remodelar sua estrutura para que os países membros tenham mais autonomia sem comprometer os benefícios coletivos", avaliou.
O cientista político Leonardo Paz avalia que a saída da Argentina do Mercosul seria um movimento mais simbólico do que prático. "A Argentina tem um setor produtivo fragilizado e dependente dos benefícios tributários do Mercosul. Um acordo com os EUA, sem as proteções atuais, levaria a indústria argentina a um colapso", afirmou Paz. Ele lembrou que o comércio entre Argentina e EUA representa uma fração mínima em comparação com as trocas comerciais do Mercosul, o que tornaria essa saída economicamente inviável.
Especialistas convergem na avaliação de que a saída da Argentina do bloco traria prejuízos não apenas para o país vizinho, mas também para o Brasil. O comércio entre os dois países é 10 vezes maior do que o fluxo entre Argentina e EUA. Além disso, o Mercosul é uma plataforma estratégica do Brasil para exportar manufaturas e produtos agrícolas, setores seriam impactados pelas mudanças na aliança.
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