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Aumento da exportação ajuda a elevar o consumo dentro do país, explica Ipea

O pesquisador José Eustáquio Vieira avalia que mão de obra estrangeira é benéfica para aumentar a produtividade da agropecuária brasileira

CB Fórum sobre o cenário dos investimentos estrangeiros no agronegócio brasileiro -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
CB Fórum sobre o cenário dos investimentos estrangeiros no agronegócio brasileiro - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Responsável por praticamente metade de todas as exportações brasileiras, os produtos agropecuários tiveram um relevante crescimento de produção nas últimas décadas. Para o pesquisador e economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) José Eustáquio Vieira, uma parte substancial desse avanço é consequência da importação de novas tecnologias e métodos científicos inovadores.

“O que faz a produção crescer não é a terra em si, mas a tecnologia. Havia a discussão de como o Brasil ia fazer a produção crescer. Havia aqueles que pensavam que a distribuição de terras ia fazer a produção crescer, mas havia aqueles que acreditavam no investimento em ciência e tecnologia”, explicou o pesquisador nesta terça-feira (25/3), durante o CB Fórum: O cenário dos investimentos estrangeiros no agronegócio brasileiro, realizado pelo Correio.

Em meio às discussões sobre os ganhos ou riscos que o Brasil pode ter com os investimentos estrangeiros no agro nacional, o pesquisador considera que a abertura do mercado nacional para tecnologias de fora possibilitou que o país multiplicasse em 10 vezes a produção de alimentos desde a década de 1970. Atualmente, o agro representa um terço do PIB, 25% dos empregos e 50% de todas as exportações do país.

Por conta disso, embora o economista considere que é necessário preservar determinadas áreas, como fronteiras e o bioma amazônico, ele considera que uma flexibilização na lei atual que restringe a compra de terras por estrangeiros pode ser benéfica para a produção brasileira, visto que a maior parte dos insumos depende mais de fatores tecnológicos do que de terras ou mão-de-obra para se expandir.

Além da evolução tecnológica, o aumento da participação das exportações no agro brasileiro, ao contrário do que se imaginava, não prejudicou a segurança alimentar no país, de acordo com o especialista. Pelo contrário, enquanto as exportações de soja cresceram de 3,7 milhões de toneladas, em 1990, para 97,4 milhões de toneladas, em 2022, no mesmo período o consumo per capita no Brasil passou de 94,6 kg por habitante para 252,4 kg/habitante.

“Muito se fala que a compra de terras por estrangeiros pode prejudicar a segurança alimentar. Quanto mais nós exportamos, maior é o consumo per capita no país, isso serve para soja, milho, trigo, grãos, em geral, ou seja, quanto mais exportarmos, maior vai ser a segurança alimentar no nosso país”, destacou Vieira.

Sobre a participação maior de estrangeiros na agricultura brasileira, o pesquisador avalia que não deve haver receio em impulsionar a vinda de imigrantes e citou o desafio atual da falta de mão de obra qualificada. “A agricultura brasileira foi formada por estrangeiros. Ou seja, toda a transformação e produção nacional hoje foi oriunda de imigrantes que fizeram a nossa agricultura”, destacou.

No final da apresentação, o economista ainda frisou que a produção brasileira é relativamente mais sustentável se comparada à de outros países, como França, Alemanha e Estados Unidos. Nos últimos 30 anos, o Brasil conseguiu expandir a produção por unidade de emissão em patamares bem maiores do que os registrados pelas outras nações mencionadas. “Nós observamos que o Brasil lidera esses indicadores com qualquer país com o qual a gente compare”, afirmou.

Raphael Pati
postado em 25/03/2025 14:02
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