Conflito no Oriente

Expectativa sobre Estreito de Ormuz faz preço do petróleo oscilar

Ontem, o preço do petróleo chegou a subir. Mas perdeu força à tarde. O barril do tipo Brent encerrou cotado a US$ 71,48

Em um cenário de incertezas e volatilidade no mercado financeiro, as cotações do barril de petróleo surpreenderam os investidores no pregão de ontem, apenas dois dias após o ataque do Exército dos Estados Unidos a bases nucleares no Irã.

Mesmo com o receio de alta, as duas principais referências internacionais acumularam perdas acima de 7% ao longo do dia, com o mercado acreditando em um possível recuo da república islâmica de bloquear o Estreito de Ormuz, por onde atravessam de 20% a 30% de todo o petróleo no mundo. O barril do tipo Brent com vencimento em agosto encerrou o dia em queda de 7,18%, cotado a US$ 71,48. Já os contratos de julho do West Texas Intermediate (WTI) fecharam em baixa de 7,22%, a U$ 68,51.

Para o analista da Levante Investimentos Flávio Conde, a queda inesperada do petróleo, que se acentuou no período da tarde, se deve à crença ou expectativa do mercado de que o Irã não concretize um bloqueio ao Estreito de Ormuz, o que poderia interromper a exportação de petróleo para regiões importantes, como China e Japão, além de, provavelmente, provocar uma escalada de preços no mundo inteiro. "Eu acho essa reação um pouco exagerada e otimista demais, eu temo que eles venham a realmente fechar o Estreito de Ormuz nos próximos dias", destaca o especialista. 

Já a estrategista-chefe da Nomad, Paula Zogbi, acredita que a mudança repentina nos preços do petróleo sinaliza uma reavaliação do mercado. "Isso indica que a retaliação iraniana aos ataques no final de semana, que incluiu um ataque de mísseis a uma base militar dos EUA no Catar que correspondeu ao número de bombas lançadas pelos EUA, não visava diretamente à infraestrutura de petróleo, diminuindo o temor de uma disrupção severa e sustentada no fluxo global de energia", pontua.

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Na mesma direção do barril de petróleo, o dólar também se desvalorizou ante o real nesta segunda-feira, com a cotação comercial encerrando em baixa de 0,39%, cotado a R$ 5,50. Enquanto isso, o índice DXY, que mede a força da moeda norte-americana ante as principais divisas do mundo, fechou o dia em queda de 0,33%.

O mercado financeiro encerrou as operações antes de Donald Trump, presidente dos EUA, anunciar de maneira extraoficial, via redes sociais, que conseguiu um acordo de cessar-fogo entre Israel e Irã. Mais tarde, a informação foi confirmada pelos dois países. Os índices norte-americanos subiram ontem, com Dow Jones fechando em alta de 0,89%, enquanto que Nasdaq e Standard & Poor's (S&P) 500 tiveram ganhos de 0,94% e 0,96%, respectivamente. 

O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa/B3) fechou o dia em queda de 0,41%, aos 136.550 pontos, com as ações da Petrobras puxando o índice geral para baixo, em meio à desvalorização do petróleo no mercado internacional. Os papéis ordinários (PETR3) desabaram 2,81%, enquanto que os preferenciais tiveram um resultado negativo de 2,49%. 

Reações

Com a possibilidade de um bloqueio em Ormuz ainda não descartada, o setor produtivo ainda demonstra preocupação com a instabilidade. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) publicou, ontem, uma nota em que alerta para riscos de encarecimento dos preços do petróleo no mercado internacional, com a escalada das tensões no Oriente Médio. Segundo a entidade, a elevação dos custos de produção pode desencadear em impactos para derivados e outras indústrias a curto prazo.

"Estamos preocupados pelo preço do petróleo e, também, pelos impactos que o fechamento do Estreito de Ormuz pode ter em outras cadeias de produção", destaca Karine Fragoso, gerente geral de Petróleo, Gás, Energias e Naval da Firjan. Já a Federação Única dos Petroleiros (FUP) se manifestou favorável à ampliação de investimentos em refino no Brasil. Mesmo sendo o oitavo maior produtor de petróleo bruto, o país ainda precisa importar cerca de 10% da gasolina e até 25% do diesel que consome internamente, como destaca a entidade sindical. 

"Essa dependência reflete a necessidade urgente de ampliação da capacidade de refino do país, por meio do aumento de investimentos e retomada das refinarias privatizadas no governo passado, que foram desviadas de suas funções essenciais de produzir derivados de petróleo para o abastecimento doméstico", sustenta, em nota, a FUP. 

Para o analista de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, Josemar Franco, um eventual bloqueio do Estreito de Ormuz pode ser um "tiro no pé" da economia iraniana. "O mercado, por vezes, reage de uma forma muito drástica, mas ele tem acompanhado justamente esses desdobramentos de pressões internacionais para que o Irã não sufoque ainda mais a economia doméstica, dando um tiro no pé com o fechamento do estreito de Ormuz, que é a sua principal fonte de entradas de divisas internacionais", avalia.

afp - grafico estreito ormuz

 

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