
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil foi recebida com preocupação pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para a entidade, a medida não tem respaldo econômico e ameaça romper uma relação comercial histórica, estratégica e mutuamente benéfica entre os dois países. A CNI defende o diálogo como caminho prioritário para reverter a medida e diminuir os impactos à indústria brasileira.
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"Não existe qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho, elevando as tarifas sobre o Brasil do piso ao teto. Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano. Uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia", afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban. Ele defende a intensificação de negociações diplomáticas com os Estados Unidos para preservar os laços econômicos.
O anúncio de Trump, feito por meio de carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, associa o aumenta das tarifas à insatisfação com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e críticas à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) em temas ligados à liberdade de expressão. O republicano acusou o governo brasileiro de promover ataques à democracia americana e alegou que o comércio entre os países seria "injusto" e "desleal".
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Resposta
A CNI, no entanto, contesta a narrativa dos Estados Unidos. Dados da entidade mostram que o país norte-americano mantém superávit comercial com o Brasil há mais de 15 anos. Apenas na última década, os EUA acumularam saldo positivo de US$ 91,6 bilhões no comércio de bens. Se considerados os serviços, o superávit chega a US$ 256,9 bilhões.
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A Confederação também rebateu o argumento de que o Brasil aplica tarifas excessivas. Em 2023, a tarifa efetiva aplicada pelo Brasil sobre produtos dos EUA foi de 2,7%, quatro vezes menor que a taxa nominal de 11,2% registrada na Organização Mundial do Comércio (OMC). A nova alíquota de 50%, que passará a valer a partir de 1º de agosto, deve afetar diretamente a competitividade de cerca de 10 mil empresas brasileiras que exportam para o mercado americano.
Ainda segundo a CNI, o relacionamento econômico entre os dois países é baseado em forte integração produtiva. Insumos industriais representam, em média, mais de 60% das exportações brasileiras para os EUA. Há 3.662 empresas norte-americanas com investimentos no Brasil, e 2.962 companhias brasileiras com atuação nos EUA. Nos últimos dez anos, os Estados Unidos foram o principal destino dos investimentos brasileiros greenfield no exterior.
“A relação entre Brasil e Estados Unidos é marcada por complementariedade e cooperação. É fundamental que os governos retomem uma comunicação construtiva e contínua para evitar prejuízos econômicos e o enfraquecimento dessa parceria estratégica”, disse Alban.
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Também foi divulgado resultados preliminares de uma consulta feita com empresas exportadoras: um terço das respondentes já relatavam prejuízos com tarifas anteriores, como a básica de 10% e taxas setoriais sobre aço e alumínio. Com a ampliação para todos os produtos, os efeitos tendem a ser ainda mais severos.
Além dos impactos diretos à indústria, a entidade estima que, em 2024, cada R$ 1 bilhão exportado aos EUA gerou 24,3 mil empregos, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção no Brasil — números que agora estão ameaçados.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu agir com reciprocidade em relação ao anúncio feito por Trump. "Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei Brasileira de Reciprocidade Econômica", escreveu em publicação no X, após a realização de reunião de emergência.
Quanto às acusações de que o estado brasileira fazia um "caça às bruxas" ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula enfatizou a independência do poder judiciário. "O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais", pontuou.
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