
São Paulo — A inteligência artificial (IA) tem se consolidado, nos últimos anos, como uma ferramenta poderosa nas mãos de cibercriminosos que planejam ataques a empresas e pessoas físicas em todo o mundo. O alerta é da Netscout, empresa especializada em cibersegurança e monitoramento de tráfego.
Cerca de 30% dos ataques hacker são orquestrados pela IA, segundo levantamento recente. Para executivos da empresa responsável pelo estudo, esse cenário torna as investidas criminosas mais acessíveis, sofisticadas e adaptáveis, facilitando a atuação de invasores. Outro ponto de preocupação é que esse tipo de ataque, por ser mais dinâmico e automatizado, também se torna mais difícil de detectar.
"A IA veio não só para ajudar o lado do bem, mas também para popularizar e dar uma abrangência muito maior hoje para esse tipo de atuação na internet", comentou Kleber Carriello, engenheiro e consultor sênior da Netscout Brasil. De acordo com ele, há uma disseminação de grupos paralelos na Deep Web e na plataforma de conversas Telegram para treinamentos no uso da IA com objetivos de hackear sistemas de empresas.
"Com modelos treinados, os atacantes podem automatizar ações maliciosas sem depender de conhecimento técnico profundo. A IA industrializou os ataques, criando movimentos que se passam por interações rotineiras", explicou Carriello.
Ataques hackers acontecem em escala global e de forma contínua, a todo momento. Apenas no segundo semestre do ano passado, a Netscout identificou mais de um milhão de tentativas de ataques de Negação de Serviço Distribuído (DDoS), evidenciando a dimensão e a frequência com que essas ameaças digitais ocorrem.
Nesse tipo de ação, o grupo criminoso acessa o sistema privado, inunda com o tráfego com múltiplas fontes com o objetivo de danificar um determinado serviço on-line. Nesse recorte, de acordo com o relatório da Netscout, empresas localizadas no Brasil foram as principais vítimas de ataques na América Latina, com mais de 500 mil registrados no segundo semestre do ano passado.
As empresas de telecomunicações sem fio com operações no Brasil foram as mais visadas por hackers, sofrendo 48.845 ataques. "Os ataques DDoS se tornaram a ferramenta mais usada para a guerra cibernética", disse Richard Hummel, diretor de inteligência de ameaças da Netscout.
O relatório também revela que o Brasil não apenas se destaca como um dos países mais afetados por ações cibernéticas ilegais, mas também figura como uma das principais origens de ataques.
"Hoje o Brasil tem uma infraestrutura de internet muito grande, muito desenvolvida e hoje muitos ataques são gerados aqui. Essa infraestrutura é boa e ruim ao mesmo tempo", explicou Geraldo Guazzelli, diretor-geral da Netscout no Brasil.
Prevenção
Mais sofisticados a cada dia, os ataques DDoS representam um desafio constante para os responsáveis pela proteção de redes de infraestrutura crítica e pela garantia da continuidade dos serviços. Segundo a Netscout, empresas, órgãos governamentais e provedores de serviços seguem como os principais alvos dessas investidas. Para enfrentá-las, é essencial adotar estratégias baseadas em inteligência e automação.
As medidas de prevenção envolvem desde a análise do tráfego global da internet até o monitoramento detalhado do comportamento interno da rede onde o usuário está inserido. Esse acompanhamento em múltiplas camadas é essencial para identificar anomalias e agir rapidamente diante de possíveis ameaças. "Todo o roteamento de tráfego também conta como medida para identificar possíveis ataques", relatou Guazzelli.
Além do gerenciamento de ameaças externas, os executivos ressaltam a necessidade de se atentar aos registros internos de rede. Os ataques podem ser facilitados a partir de informações repassadas por funcionários ou pessoas de confiança em uma empresa, como o caso recente da empresa C&M Software, vítima de um ataque cibernético que desviou ao menos R$ 800 milhões.
* O repórter viajou a convite da Netscout
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