Política monetária

Para mercado, Copom deve manter juro a 15% ao ano

Analistas acreditam que, na quinta reunião do ano, o comitê do Banco Central não elevará a Selic, com expectativa de estabilidade até o fim de 2025. O cenário, porém, pode mudar com o tarifaço, elevando pressões sobre o câmbio e a inflação

A expectativa é de que a reunião marque uma pausa após sete decisões seguidas do colegiado de elevação dos juros -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
A expectativa é de que a reunião marque uma pausa após sete decisões seguidas do colegiado de elevação dos juros - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcada para os dias 30 e 31 de julho, não deve ter surpresas. O consenso entre analistas ouvidos pelo Correio é de manutenção na taxa básica da economia (Selic), atualmente em 15% ao ano.

Na avaliação do mercado, este será o primeiro encontro do ano sem ajuste na Selic, sinalizando o fim do ciclo de aperto monetário iniciado em setembro de 2024. A expectativa é de que a reunião marque uma pausa após sete decisões seguidas do colegiado de elevação dos juros.

Entretanto, diante da incerteza nos cenários doméstico e internacional provocada pelo tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros — com vigência prevista para dois dias após a decisão do Copom —, o comunicado do Comitê poderá mencionar o tema de forma pontual e superficial, uma vez que ainda não há dados concretos capazes de influenciar a política monetária.

Embora os efeitos do aumento tarifário ainda sejam incertos, analistas alertam que a medida tende a pressionar o câmbio, um dos principais canais de transmissão para a inflação.

"O ciclo de aperto monetário terminou e o Banco Central não deve mexer nos juros nos próximos meses, porque há muita incerteza, ainda não será possível saber o que vai acontecer com as tarifas, ou se haverá retaliação. Logo, não tem muito sentido para o BC se movimentar agora. Faz mais sentido esperar", avalia Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Ele prevê queda da taxa Selic a partir do Copom de dezembro, e, em sua avaliação, mesmo com o dólar subindo e se valorizando mais nos últimos dias, ainda não há motivo para uma mudança radical nas expectativas de inflação. No máximo, o BC poderia estender a alta dos juros no patamar atual, mas, isso ainda é incerto.

"Ainda tem muita coisa para acontecer. Por enquanto, o BC só vai observar e não vai modificar a posição. Ele vai colocar essas questões todas no seu balanço de riscos e, certamente, vai sinalizar que a incerteza aumentou, mas no limite que significaria uma Selic por mais tempo nesse patamar", ressalta o economista da MB.

ECO-Copom 2025
ECO-Copom 2025 (foto: Valdo Virgo)

Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management, ressalta que a aposta do mercado de manutenção da taxa Selic de fim do ciclo de aperto monetário é consensual. Contudo, a discussão agora é se o Banco Central vai dar uma sinalização para conseguir manter uma indicação neutra.

"Acho que é muito mais uma questão de comunicação do que, obviamente, a decisão, que já está completamente bem precificada", afirma. Para ela, o início da queda dos juros ainda depende muito do cenário do câmbio e das expectativas de inflação.

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, também não prevê mudança na estratégia do Banco Central em meio à confusão do tarifaço de Trump. Ele lembrou que os juros estão elevados e, como há sinais de desaceleração econômica neste semestre, a pressão inflacionária tem dado uma atenuada, e aposta que a taxa Selic deverá começar a cair somente a partir do primeiro trimestre de 2026.

"As expectativas de inflação, acho que é o principal ponto, começaram a se mexer para baixo, não só para este ano, que já estava acontecendo, mas principalmente para 2026. E a gente não está vendo nenhuma mudança de patamar do câmbio, pois o dólar tem oscilado entre R$ 5,50 e R$ 5,60, o que tem sido um padrão", explica Padovani.

"A leitura é de que esse tarifaço, assim como aconteceu em outros lugares do mundo, tende a ser desinflacionário, gerando menos crescimento, com excedentes de produtos locais e pode derrubar preços. Aparentemente, não há nenhum motivo para o Banco Central mudar a estratégia", afirma Padovani, que diz ser necessário um evento de maior impacto para alterar o cenário atual.

Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, que anteriormente apostava em uma queda da Selic na última reunião do Copom, agora também prevê estabilidade da taxa até o fim do ano, com uma possível redução apenas a partir de janeiro de 2026. "Na reunião anterior, eles deixaram uma portinha aberta para, eventualmente, fazer mais. Mas, na verdade, por enquanto, o cenário caminhou para um lado mais benigno para a política monetária", afirma.

Megale também reconhece que os efeitos do tarifaço sobre a inflação ainda são incertos, mas avalia que, num primeiro momento, a medida pode trazer alívio. Isso porque produtos que seriam exportados para os Estados Unidos — como carnes e suco de laranja — tendem a ser direcionados ao mercado interno, aumentando a oferta e contribuindo para conter os preços.

"Primeiro, ainda não sabemos se haverá retaliações. Se o governo brasileiro aumentar as tarifas de importação, isso gera inflação interna, assim como essas tarifas estão gerando inflação nos EUA. E, segundo, não sabemos também qual o grau de escalada geopolítica desse movimento. Isso pode, em algum momento, bater no prêmio de risco, revertendo o cenário positivo de inflação", explica. Na avaliação dele, o Copom ainda não deve abordar o tema de forma detalhada no comunicado pós-reunião.

A decisão sobre o fim do ciclo de aperto monetário, na visão do Itaú Unibanco, deve refletir o entendimento de que, embora as projeções de inflação ainda estejam acima da meta, os efeitos defasados da política monetária continuam em curso. Além disso, o cenário de elevada incerteza global exige cautela adicional — especialmente diante de uma nova escalada tarifária, desta vez atingindo diretamente o Brasil.

A equipe liderada pelo economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, em relatório a clientes, destaca que, desde a última reunião do colegiado, em junho, o conjunto de informações apresentou melhora marginal e, portanto, comunicação do Banco Central após o segundo dia de reunião do Copom.

A equipe liderada pelo economista-chefe Mario Mesquita destaca em relatório a clientes que, desde a última reunião do colegiado em junho, o conjunto de informações apresentou melhora marginal. Por isso, a comunicação do Banco Central após o segundo dia do Copom deve "reforçar a estratégia de manutenção da taxa Selic em patamar contracionista por período bastante prolongado, em meio a um cenário de inflação prospectiva acima da meta até 2027".

O banco manteve a previsão de início do ciclo de cortes para o primeiro trimestre de 2026, embora reconheça que uma valorização mais significativa do câmbio ou uma desaceleração mais intensa da atividade econômica poderiam antecipar essa medida para o final de 2025.

Questão fiscal

O problema fiscal permanece no radar do Copom, segundo os analistas, mas eles acreditam que, neste momento, esse risco não deverá impactar de forma decisiva a decisão sobre os juros. Isso ocorre especialmente porque o governo tem adotado manobras para cumprir a meta fiscal deste ano e do próximo sob a ótica contábil — embora tais medidas não eliminem o desafio da dívida pública crescente, nem resolvam o fato de que, em 2027, o colapso das contas públicas já está praticamente inevitável.

A economista Solange Srour, do UBS, reconhece que a questão fiscal continua sendo uma grande preocupação, embora o cumprimento da banda da meta fiscal neste ano não deva ser difícil. No entanto, ela ressalta que o cenário para o próximo ano será "bem desafiador". "Essas metas não são suficientes para trazer a dívida pública para um patamar estável em nenhum horizonte", alerta.

Segundo ela, o mercado não tem reagido negativamente à piora fiscal porque espera ajuste nas contas públicas só a partir de 2027. Contudo, o dólar mais fraco e a redução da pressão inflacionária apenas adiam o problema, que inevitavelmente voltará ao radar em algum momento.

Analistas reconhecem que as medidas fiscais do governo e o estímulo ao crédito ajudam a adiar o início da queda dos juros e o retorno para um dígito. Não à toa, as medianas das projeções para a taxa Selic segue acima de 10% até 2028.

"Super quarta"

O encontro do Copom desta semana coincide com a reunião do Fomc, comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que também anunciará a decisão sobre os juros básicos norte-americanos, previstos para serem mantidos no atual intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano. O dia da decisão dos dois bancos centrais é conhecido no mercado financeiro como "super quarta", data marcada por bastante volatilidade nos preços dos ativos financeiros.

Caio Megale, da XP, avalia que a reunião do Fomc pode ser ainda mais interessante que a do Copom, especialmente porque o presidente do Fed, Jerome Powell, tem sofrido críticas diretas de Donald Trump. No entanto, devido ao impacto do tarifaço nos preços nos EUA, não há expectativa de que o Fed inicie a flexibilização da política monetária neste momento.

"A atividade dos Estados Unidos segue firme, então o Fed não tem pressa para reduzir os juros. Além disso, a inflação está começando a refletir o aumento das tarifas e os dados mostraram isso a partir de julho e o aumento dos preços já começou em junho", destaca.

Para ele, os indicadores de inflação de julho, que devem ser divulgados no início de agosto, devem mostrar mais pressão nos preços. “O Fed deve jogar para o fim do ano, se der, qualquer mudança na taxa de juros, porque a inflação deve continuar forte e a inflação pode apresentar um soluço”, explica.

Megale ressalta ainda que, se a economia dos EUA estivesse em recessão, com desemprego alto, seria mais fácil para o Fed cortar os juros. Mas com o aumento de impostos de importação de 30% a 50%, será difícil um corte de juros ainda em setembro.

Para ele, os indicadores de inflação de julho, que devem ser divulgados no início de agosto, devem mostrar mais pressão nos preços. “O Fed deve jogar para o fim do ano, se der, qualquer mudança na taxa de juros, porque a inflação deve continuar forte e a inflação pode apresentar um soluço”, explica.

Megale ressalta ainda que, se a economia dos EUA estivesse em recessão, com desemprego alto, seria mais fácil para o Fed cortar os juros. Mas com o aumento de impostos de importação de 30% a 50%, será difícil um corte de juros ainda em setembro.

 

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postado em 27/07/2025 04:00
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