
O setor de franquias brasileiro vive um momento de transformação, impulsionado pelo crescimento dos multifranqueados: empreendedores que administram múltiplas unidades, seja de uma mesma rede ou de diferentes marcas. O fenômeno, consolidado nos Estados Unidos, começa a ganhar força no Brasil, com tendência para a inovação, escala e novas oportunidades de negócio.
O franchising brasileiro alcançou dimensões que o colocam entre os maiores mercados do mundo. Atualmente, o país ocupa a quarta posição no ranking global, reúne mais de 3 mil marcas franqueadoras, supera 200 mil unidades em operação e movimenta mais de R$ 250 bilhões em vendas anuais. O crescimento acumulado dos últimos 15 anos tem mantido ritmo de dois dígitos, consolidando o setor como um dos motores da economia. Os dados foram apresentados no evento Somos Multi 2025.
A maioria dos multifranqueados é um empreendedor local que expande seus negócios de maneira orgânica. Atua de forma centralizada, participando diretamente da operação no dia a dia. A estrutura costuma ser enxuta, com ênfase em eficiência e margens, e a relação com o franqueador tende a ser próxima e pessoal. Embora esse perfil enfrente limitações de capital e crédito, há forte disposição para ampliar participação no mercado, o que tem alimentado o crescimento de diversas redes no país.
Tendência
No entanto, o contraste com o mercado norte-americano mostra como o Brasil tem espaço para amadurecer. Nos EUA, os multifranqueados se apresentam como executivos ou investidores corporativos. Diferentemente da realidade brasileira, operam com acesso facilitado a fundos e linhas de crédito, contam com estruturas corporativas robustas e delegam a gestão, que é altamente padronizada. A atuação é nacional ou multirregional, permitindo ganhos de escala ainda maiores.
Segundo o sócio Communit e CEO da Francap, André Friedheim, nos Estados Unidos, os multifranqueados também são agentes ativos em processos de fusões, aquisições e operações de mercado de capitais. "Saídas frequentes por meio de vendas para fundos de private equity ou aberturas de capital transformaram o setor em um campo atrativo para investidores institucionais. As redes internacionais, por sua vez, têm apostado em internacionalização, adoção intensiva de tecnologia e inteligência artificial. Além da exploração de nichos específicos, como serviços voltados à terceira idade, terapias do sono, estúdios boutique e outros", explica.
Para Friedheim, os franqueados no Brasil ainda são majoritariamente monooperação, com uma única loja. "Cerca de 40% possuem duas ou mais unidades, e uma pequena minoria, aproximadamente 240 empreendedores, já opera mais de 50 lojas, os chamados mega franchises", diz.
Para Denis Santini, CEO da Communit e organizador do evento Somos Multi, a tendência dos multifranqueados no Brasil está apenas começando. "O modelo de franquia oferece a possibilidade de expansão. Hoje, três franqueados juntos faturaram mais de R$ 1,4 bilhão, mostrando que esse movimento chegou ao país. O papel do evento é ajudar outros franqueados a se estruturarem para crescer de forma sustentável", defende.
A tendência global aponta que os multifranqueados também funcionam como aceleradores de redes em processo de refranchising — termo usado para definir a venda de franquias —, mantenedores da padronização e influenciadores das estratégias das marcas. Apesar dos avanços, os dados mostram que os desafios permanecem significativos. As transformações nos hábitos de consumo exigem adaptações constantes dos modelos de negócio.
"O crescimento do home office, a preferência por delivery, a busca por conveniência e a valorização de opções saudáveis pressionam as redes a inovar em produtos, serviços e canais de atendimento. Além disso, o custo de mão de obra, a inflação ainda presente e o acesso restrito a financiamento para pequenos empreendedores compõem um cenário desafiador", diz o sócio da Communit.
* A repórter viajou a convite da Communit
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