
Durante o evento “Controles sobre o uso de mercúrio e o futuro da extração do ouro”, realizado nesta terça-feira (7/10) pelo Correio Braziliense em parceria com o Instituto Escolhas, o professor Giorgio de Tomi, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador técnico do projeto Ouro Sem Mercúrio, defendeu que o Brasil adote uma transição gradual e estruturada para eliminar o uso da substância na mineração artesanal. Segundo ele, a experiência acumulada no Plano de Ação Nacional para a Convenção de Minamata mostrou que os garimpeiros querem mudar, mas precisam de apoio do Estado. Atualmente, o principal produtor de mercúrio é a China, que produz mais de 80% da produção mundial, seguido do Tajiquistão.
Ele ressaltou, durante sua participação no 1º painel - Controles sobre uso do mercúrio: desafios e perspectivas, que, acredita que os garimpeiros tem interesse na transição. “A boa notícia é que os garimpeiros querem. Eu diria que praticamente 100% abraçariam, na hora, um apoio técnico, econômico e de Estado para facilitar essa transição. Hoje, eles trabalham em regiões remotas, sem apoio nenhum, e a única presença do Estado é para reprimir”, afirmou.
O especialista ressaltou que a presença do Estado não deve se limitar à fiscalização, mas também oferecer assistência técnica e capacitação para substituir o mercúrio por tecnologias limpas. “A transição para o uso de tecnologias limpas é o sonho de todo mundo, mas não é simples. É preciso ter conhecimento técnico, geológico e de engenharia para isso funcionar. A presença do Estado tem que ser ampla para ajudar a promover essa transição”, destacou.
De Tomi alertou, porém, que uma proibição imediata e sem planejamento pode ter efeito contrário, empurrando os trabalhadores para a clandestinidade, como ocorreu na Colômbia após a proibição do mercúrio. "A Colômbia proibiu o mercúrio sem uma moratória adequada. O resultado foi que 90% do ouro exportado passou a ser ilegal. A gente tem que tomar cuidado para não empurrar os garimpeiros para o mercado ilegal”, advertiu. “É preciso criar uma organização forte para essa transição e não cair na armadilha que foi criada na Colômbia".
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O professor da USP também enfatizou que a eliminação do mercúrio exige incentivo econômico e inovação tecnológica, citando a utilização de retortas — equipamentos simples que recuperam até 98% do mercúrio utilizado no processo. “Se a gente se esforçar e incentivar o uso da retorta, conseguimos diminuir as emissões de forma radical. É um argumento ambiental e também econômico, porque o mercúrio é caro e o garimpeiro é, acima de tudo, um empreendedor. Recuperar 98% do mercúrio é vantagem para todos”, explicou.
Ao discutir o futuro da mineração no Brasil, De Tomi reforçou que o país precisa romper com o modelo extrativista e investir em uma política industrial que agregue valor aos minerais estratégicos. Por fim, o professor apresentou os “cinco Cs” como pilares de uma política de transição sustentável: capacitação, cooperativismo, crédito, coexistência e certificação. “Soluções nós temos. O desafio é fazê-las funcionar”, concluiu.
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