COP30

Desastres climáticos geraram R$ 60 bi de perdas nos últimos três anos

Segundo a nova ferramenta da CNSeg, o Radar de Eventos Climáticos — divulgado em paralelo à conferência da ONU —, devastações causadas por eventos extremos provocaram R$ 180 bi em prejuízos

Belém — O presidente da Confederação Nacional das Seguradoras, Dyogo Oliveira, antecipou o anúncio de uma ferramenta da CNSeg que vai ajudar na precificação do seguro para catástrofes ambientais — o Radar de Eventos Climáticos, que identificou, nos últimos três anos, cerca de R$ 180 bilhões de perdas causados por desastres ambientais.

“Levantamos cerca de R$ 60 bilhões por ano de danos causados pelos desastres climáticos, nos últimos três anos. Quinze por cento desse valor foi coberto por indenizações de seguro”, disse Dyogo, na abertura do Fórum de Finanças Sustentáveis, realizado nesta quarta-feira (12/11) na Casa do Seguro, que ocorre em paralelo à 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas (COP30). 

Dyogo lembrou que o centro do debate da conferência está no financiamento. “Não tem financiamento sem seguro e as pessoas ainda não se atentaram a isso”, reforçou. “E, como os eventos climáticos são cada vez mais frequentes, como o que aconteceu no Paraná, no fim de semana, nos lembram de que esse é um problema sério para resolver”, alertou. 

A nova ferramenta será um instrumento que vai ajudar o setor segurador a precificar melhor os preços dos prêmios das apólices contra desastres climáticos, como ocorre hoje com a classe de bônus para o seguro de veículo, por exemplo.

Conforme dados apresentados pelo presidente da CNSeg, existe uma lacuna de proteção no país, pois 15% das residências brasileiras possuem seguro e menos de 5% da área plantada tem algum tipo de proteção. Ele reforçou a proposta do seguro catástrofe para desastres climáticos, que já foi apresentada pela confederação para os governos estaduais e federal, pois esse mecanismo precisa de uma parceria entre os setores público e privado.

“Na falta do seguro, o orçamento público é chamado para arcar com as consequências. Vários países já fizeram programas maiores, com cobertura de catástrofes”, afirmou. “O tema seguro esteve ausente da discussão por culpa nossa e desconhecimento dos interlocutores. Temos que trazer a mensagem de que o setor tem uma parte para se adaptar e empreender os projetos e investimentos necessários”, acrescentou.

Na sequência, o presidente do Conselho da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Carlos Trabuco, também ressaltou a importancia do sistema financeiro no desenvolvimento do mercado de carbono e na calibragem regulatória para reconhecer os perfis de investimentos sustentáveis, uma vez que a economia verde responde por 21% das linhas de crédito dos bancos brasileiros, somando R$ 450 bilhões. Para ele, o avanço do debate das COPs revelam vantagens competitivas do Brasil e sua matriz energética, sem falar da quantidade de pastos e terras degradadas que podem ser um espaço para o desenvolvimento da economia ecologicamente equilibrada. 

“Estamos num desafio de melhorar o planeta e a água, principalmente. E melhorar a água é aumentar o acesso ao saneamento básico”, afirmou Trabuco, criticando a mancha de lixo no Oceano Pacífico, equivalente a área da Amazônia ou da França. “O drama é ver a grande mancha de lixo no Pacífico, que retrata a qualidade dos oceanos. Se 95% do nosso corpo é água, a preservação da água é fundamental para termos sustentabilidade. E os bancos estão antenados para que tenhamos um mundo mais sustentável”, afirmou.

O presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Carlos da Costa André, reforçou que é “inquestionável” que o setor bancário tem um papel decisivo na transição do mercado de carbono e, também, para impulsionar as cadeias produtivas sustentáveis.

“Aqui, no Brasil, temos vastos recursos naturais — biodiversidade, fontes renováveis que são ativos que colocam o país em destaque como potência global em soluções baseadas na natureza”, lembrou. Ele observou que o objetivo da COP30 não é o debate, mas a implementação.

“Não há que se falar em maior direcionamento de recursos se não tivermos um ambiente macroeconômico que potencialize e propicie isso. Estamos construindo o futuro das finanças sustentáveis no Brasil”, frisou. 

A secretária de Relações Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, por sua vez, destacou que a agenda do multilateralismo do governo vem sendo fortalecida nos últimos eventos que foram realizados no país, e que antecederam à COP30 — como a cúpula do G20, que reúne as 19 maiores economias do planeta, mais a União Europeia. “Os debates da trilha financeira do G20 colocaram, no centro da agenda, alguns temas fundamentais, como a necessidade de parceria diferenciada entre os setores público e privado, muito maior do que a sociedade civil. E esse é um dos desafios que estamos vendo hoje, com o impulso dos investimentos verdes”, afirmou.

Ela ainda antecipou que, em breve, o governo deverá anunciar um novo leilão do programa Eco Invest Brasil, que mantém o modelo de financiamento misto (blended finance), combinando recursos públicos e privados.

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