Tarifaço

Entenda como café brasileiro foi prejudicado apesar de redução das tarifas

Exportadores cobram negociação produto a produto para reverter alíquota prejudicial para o setor

A redução das tarifas de importação nos Estados Unidos pode ter parecido positiva em um primeiro momento, mas para determinados segmentos não há muito o que comemorar, como é o caso dos produtores de café. O produto é um dos principais na pauta exportadora Brasil-EUA, mas sofre com uma tarifa elevada desde o dia 6 de agosto, quando a tarifa adicional de 40% – sobre os 10% até então aplicados – entrou em vigor.

O café ficou de fora da lista de exceções anunciada pelos EUA para conter efeitos inflacionários negativos aos norte-americanos. Entre os itens que entraram nessa regra, estão desde celulose e suco de laranja a minério de ferro e peças de aeronaves.

Apesar da redução de 10% na tarifa em vigor, o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, explica que o setor ficou muito preocupado com essa nova medida do presidente Donald Trump. A explicação disso é que, enquanto a alíquota do produto brasileiro passou de 50% para 40%, os principais concorrentes do país, como Colômbia e Vietnã, tiveram a tarifa zerada por meio do mesmo decreto.

“Quando nossos concorrentes passaram a ocupar o espaço do Brasil, o consumidor norte-americano já começa a se adaptar a esses novos parâmetros sensoriais, a esse novo paladar. Então, quanto mais tempo a gente seguir com essa perda de competitividade, pior é. E a gente pode ter algo irreversível, porque o consumidor vai se adaptar a esses novos parâmetros sensoriais”, esclarece Marcos Mota.

No mês de agosto, as exportações de café brasileiro para os EUA tiveram uma retração de 46%. O movimento continuou nos períodos seguintes, com queda de 52,8% em setembro e 54,4%, em outubro, de acordo com dados levantados pela Cecafé. Além do impacto da medida, o setor também amargou uma colheita mais fraca em 2025, como lembra o diretor da entidade. O volume de exportações de janeiro a outubro é 20% menor na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Negociação individual

Diante disso, o setor espera que o governo brasileiro, por meio do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, negocie “produto a produto” as isenções de tarifa de importação, e não um possível adiamento das taxas, como indicam algumas fontes do governo sobre as negociações entre os dois países.

“O Brasil, quando tiver uma safra melhor – e é esperado isso para 2026 –, a gente não vai ter o nosso principal mercado. Então a gente tem que correr contra o tempo e estamos pedindo ao governo brasileiro, em nome do vice-presidente Geraldo Alckmin, para ter uma negociação célere, voltada para os produtos. Não aquela negociação protocolar, uma isenção de 100% para 90 dias, por exemplo”, destaca.

A situação também não é fácil para os consumidores norte-americanos. Com as tarifas em vigor, o preço do café nos EUA ficou cerca de 20% mais caro em 2025, na comparação com o ano anterior. “Então, essa é a nossa situação: muita preocupação, prejuízos, contratos em aberto, contratos cancelados, contratos postergados e o nosso concorrente assumindo a nossa posição no mercado norte-americano”, acrescenta Matos.

A entidade brasileira mantém contato diário com a National Coffee Association (NCA) – que representa os comercializadores do produto nos EUA – para tentar uma negociação individual com o governo norte-americano. Na última quarta-feira (13), após se encontrar com o secretário de Estado Marco Rubio, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, disse que o país espera uma resposta do governo Trump ao tarifaço até a próxima semana.

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