
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, autorizou ontem (14/11) a retirada de parte das tarifas impostas sobre produtos agropecuários, incluindo alimentos, importados pelo país. A medida atinge itens de grande interesse para o Brasil, incluindo a carne bovina, o café e frutas tropicais, incluindo açaí, banana e manga.
O comunicado emitido pela Casa Branca aponta que os produtos listados ficarão livres da chamada “tarifa recíproca” imposta pelos EUA em abril deste ano. A decisão vale de forma retroativa a partir desta quinta-feira (13), apesar de sua publicação na sexta.
No caso brasileiro, a alíquota é de 10%. Porém, a sobretaxa de 40%, oficializada em julho, continuará em vigor. Trump justificou a retirada das tarifas com a necessidade de garantir a oferta dos produtos no mercado americano.
Na prática, a gestão do republicano vem sendo pressionada pela inflação desses alimentos desde que as taxas entraram em vigor. O café, por exemplo, teve alta de mais de 40% entre janeiro e setembro deste ano. O documento da Casa Branca não especifica os países beneficiados por essa redução tarifária, nem cita o Brasil.
O anúncio da redução de impostos ocorreu um dia após o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reunir-se com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em Washington, capital dos Estados Unidos.
Segundo o chanceler brasileiro, Rubio afirmou que o presidente Donald Trump ressaltou o desejo de construir uma “boa relação com o Brasil”, e que o republicano teria “interesse em solucionar questões pendentes” com o Brasil. A jornalistas, Vieira chegou a sugerir que haveria novidades na relação comercial até a próxima semana.
Ministros celebram
Ministros de Estado vieram a público comemorar a redução de tarifas pouco tempo após seu anúncio. Para os auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a medida foi resultado da articulação feita entre o governo brasileiro e o americano, mesmo não havendo nenhuma menção ao Brasil na ordem executiva.
Para chefe da Casa Civil, Rui Costa, a novidade foi uma “vitória” do país. “Os Estados Unidos anunciaram a retirada de taxas sobre diversos produtos brasileiros, uma decisão que reforça a força do nosso país no cenário internacional. Essa conquista é resultado da atuação firme e estratégica do governo do presidente Lula, que segue defendendo a soberania e os interesses do Brasil em todas as mesas de negociação”, escreveu Rui em suas redes sociais.
Na mesma linha, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, comemorou: “Donald Trump reduz tarifas sobre café, carne, banana e açaí do Brasil. Lula sabe o que faz, e quem ganha é o Brasil!”, disse. Já o ministro dos Transportes, Renan Filho, em vídeo, disse que o governo americano “recuou” nas tarifas e reforçou que o país “venceu” com a decisão.
“Essa é a grande demonstração de que o Brasil, com a defesa da soberania do país, diálogo permanente, o presidente Lula garantiu que a gente conseguisse aquilo que todo brasileiro esperava: a defesa do interesse do país, do nosso setor produtivo”, declarou Renan.
O titular disparou ainda contra o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que articulou sanções contra o Brasil com autoridades do governo Trump, e citou que o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria ontem para torná-lo réu por tentar coagir a Corte e interferir no julgamento de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, por sua vez, também aproveitou para criticar a oposição e incluiu o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tido como presidenciável. “Lembra do ataque dos Bolsonaros contra as empresas e os empregos brasileiros, patrocinando o tarifaço, aplaudido pelo Tarcísio? Pois é: o governo do presidente Lula, com competência e diplomacia, está revertendo esse desastre. Assim que se faz”, escreveu.
Alívio à exportação
O setor produtivo, por sua vez, também comemorou a decisão, apesar de ainda estarem sujeitos a uma taxação de 40%. Produtores de carnes, frutas e café estavam entre os mais prejudicados pelo tarifaço, e pleiteavam a negociação comercial com autoridades americanas.
Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) classificou como“positiva” a decisão dos Estados Unidos. Para a entidade, a medida reforça a “confiança no diálogo técnico entre os dois países e reconhece a importância da carne do Brasil, marcada pela qualidade, pela regularidade e pela contribuição para a segurança alimentar mundial”.
A redução da tarifa, ainda segundo a Abiec, devolve a previsibilidade ao setor de exportação de carnes bovinas. “
Os Estados Unidos são o segundo maior mercado da carne bovina do Brasil, com peso relevante para todo o fluxo de exportações. A decisão norte-americana fortalece essa relação e abre espaço para uma retomada mais equilibrada e estável das vendas”, completa a nota.
Já a Associação Brasileira dosProdutores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) ainda calcula os impactos do comunicado. Ao Correio, o diretor-executivo da Abrafrutas, Eduardo Brandão, disse que o comunicado cita quatro das cinco principais frutas exportadas para os EUA.
“Vimos que manga, mamão-papaia, melancia e melão estão na lista”, disse Brandão. Ele, porém, explicou não ter encontrado uvas no documento. “Talvez porque, assim como o Brasil, os Estados Unidos são produtores de uva”, avaliou o diretor.

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