Esta quarta-feira está longe de ser um dia comum para os mercados financeiros. Conhecida como Superquarta, a data concentra as decisões dos comitês de políticas monetária dos bancos centrais do Brasil, o Copom, e dos Estados Unidos, o Fomc. Será a última reunião do ano dos dois comitês.
O movimento do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) costuma mexer com os preços dos ativos no mundo inteiro. E, no Brasil, o mercado deverá ficar atento ao comunicado do Copom.
A expectativa dos analistas é de que o BC brasileiro dê alguma sinalização dos rumos da política monetária em 2026. Entre eles, prevalece o consenso de que a decisão não deve trazer surpresas, com a manutenção da taxa básica da economia (Selic) em 15% ao ano já amplamente precificada, conforme noticiado pelo Correio no domingo.
Segundo Luis Felipe Vital, estrategista-chefe de Macro e Dívida Pública da Warren Investimentos, a ata anterior já havia sinalizado esse cenário. "O Comitê deixou claro que a taxa deve permanecer em nível restritivo por um período prolongado, inaugurando um novo estágio da política monetária", afirma.
Vital destaca que o documento foi interpretado como mais brando. "O Copom avaliou com mais firmeza a moderação da atividade, o arrefecimento da inflação e a convergência rumo à meta", diz Vital, que lembra que as leituras recentes de inflação continuam mostrando pressão nos serviços. "A inflação de serviços e itens ligados ao mercado de trabalho segue persistente", diz. No lado da atividade, ele aponta sinais de desaceleração combinados com resiliência do setor de serviços e do emprego.
Nesse ambiente, a Warren espera que o colegiado mantenha a avaliação de convergência da inflação, respaldando a decisão de manter a Selic. "Não esperamos sinalizações explícitas sobre os próximos passos, mas o reconhecimento da melhora do cenário deve pavimentar o caminho para uma flexibilização gradual a partir de janeiro de 2026", afirma.
Segundo as projeções da instituição, o ciclo começaria com corte de 0,25 ponto percentual (pp), seguido por reduções entre 0,25 e 0,50 ponto, encerrando 2026 com a taxa em 12,25% ao ano.
Para Everton Gonçalves, diretor da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), o Banco Central deve iniciar um movimento gradual de redução da taxa básica no começo de 2026. "A queda da Selic ajudará a diminuir a pressão sobre a inflação de serviços, que ainda está elevada", afirma.
"Se o cenário continuar avançando de forma positiva, com queda da inflação corrente, expectativas mais controladas e atividade moderando, o ciclo de cortes pode começar em breve, com reduções de 0,25 ponto percentual em janeiro e março."
Gonçalves destaca que o comunicado do Copom, a ser divulgado após a decisão, será crucial para calibrar as expectativas dos agentes econômicos. "O BC deve indicar com clareza se há espaço para uma mudança na política de juros no início do ano. Além disso, precisa apresentar sua leitura sobre o ritmo da economia e sobre os efeitos da política restritiva", afirma. "Como sempre, a comunicação deve reforçar que o Copom seguirá reagindo conforme a evolução dos dados de inflação e atividade."
A ABBC avalia, ainda, que um início cuidadoso do ciclo de cortes ajudaria a reduzir a volatilidade nos mercados e a preservar a credibilidade da política monetária. A entidade afirma que isso também traria alívio à trajetória da dívida pública e aos prêmios de risco, em um momento em que investidores aguardam simultaneamente a decisão do Fed.
Corte nos EUA
No exterior, a expectativa de um corte de 0,25 ponto percentual nos juros americanos já é amplamente consolidada. Segundo a economista Bruna Centeno, sócia e advisor da Blue3 Investimentos, o mercado atribui "cerca de 80% de chance" à decisão.
Ainda assim, Centeno destaca que o Federal Reserve enfrenta um ambiente mais delicado. "O mercado está preocupado porque observa um comitê bastante dividido", afirma, ressaltando que os dados do mercado de trabalho continuam sendo o principal fator para orientar a trajetória de juros.
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Para a economista, mais importante que a decisão em si será o tom adotado pelo banco central americano. "A grande questão é qual discurso o Federal Reserve vai adotar para 2026", diz. No Brasil, ela afirma que não há qualquer indicação de mudança. "O Banco Central tem mantido um discurso firme sobre a necessidade de juros elevados diante de uma inflação ainda resiliente", afirma. Centeno lembra que o próprio presidente da instituição indicou recentemente que, com as projeções atuais, a inflação não deve convergir para a meta.
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