eSports

Domínio do jogo e da mente: o segredo da B4 na conquista do CS:GO no MEG

Com bom desempenho, B4 eSports vence a Black Dragons e conquista título do Counter Strike: Global Offensive (CS:GO) no MEG. Meninas campeãs destacam fator psicológico para lidar bem com nuances oferecidas pelo jogo

DANILO QUEIROZ - Enviado Especial
postado em 22/10/2022 19:35 / atualizado em 23/10/2022 15:44
 (crédito: Sandro Mendonc?a/MEG)
(crédito: Sandro Mendonc?a/MEG)

Rio de Janeiro - Assume a cadeira, foca no game, na companheira de equipe ao lado e esquece o resto. No cenário competitivo dos eSports, esse mantra está enraizado na gameplay de muitas pro-players. Porém, um trunfo extra se apresenta como fator importante para vencer: o lado psicológico. Ontem, na final do Counter Strike: Global Offensive (CS:GO) no Multiplataform eSports Games (MEG) entre a B4 eSports e a Black Dragons, ficou provada a importância do preparo mental para lidar com as nuances proporcionadas pelos desdobramentos de cada mapa na construção do caminho até o título.

Na disputa presencial do MEG na Arena Carioca 1, localizada na Parque Olímpico do Rio de Janeiro, B4 e BD fizeram uma final com reviravoltas e diversos momentos de necessidade de concentração dos dois lados. No jogo de tiro em primeira pessoa, o troféu foi decidido em três mapas diferentes. Para levar cada um, era necessário ganhar 16 rounds. No primeiro deles, a B4 dominou e venceu por 16 x 5. No segundo, a BD largou bem, permitiu a recuperação adversária, mas fechou em 16 x 14. O terceiro teve novo domínio da B4 e taça garantida com triunfo por 16 x 4.

Composto por Lara “Goddess” Baceiredo, Giovanna “Yungher” Yungh, Nataly “Nani” Cavalcante, Júlia “Julih” Gomes e Nadi “Poppins” Sanchez, o time do técnico Igor “Darkpsy” Zaniboni ressaltou a força psicológica como fator primordial para entender o andamento do jogo e manter o foco em cada round disputado. Reunidas por meses em Sorocaba (SP) em preparação para as competições, as jogadores da B4 também precisam lidar com outras adversidades naturais, como a convivência diária com as companheiras de equipe e a distância da família. A ajuda de um profissional na área foi fundamental e refletiu no jogo.

“Temos um psicólogo na B4, o Daniel D'avila, e ele é bem presente. Pelo menos uma vez na semana, fazemos um coletivo onde conversamos. O round ruim que aconteceu não é falado na parada técnica. Dá um soquinho, reseta e vai para a próxima. Não pode entrar pensando que está ganho porque você começa a cometer erro, não prestar atenção no jogo”, destaca Goddess em entrevista ao Correio. “O nosso psicológico melhorou muito pessoal e coletivamente”, complementa.

As companheiras reforçam o pensamento. Após o apoio do profissional, o relacionamento enquanto equipe evoluiu. “A gente tinha nossa cadeia de reação, mas uma não gostava muito do que a outra falava. Tínhamos a mesma ideia, a mesma frustração, mas não conseguíamos nos comunicar. Isso está sendo um ponto forte para a gente agora”, acrescenta Nani. Em entrevista no palco antes da disputa do terceiro mapa, quando a final estava empatada por 1 x 1, Darkpsy havia destacado o trabalho de Daniel como um trunfo para a B4 se manter concentrada.

Além disso, a convivência de tanto tempo de preparação juntas também agregou no desempenho na Arena Carioca 1. “Eu era próxima da Yun, a Julih era mais próxima da Nani. Nos multicampings, nos conhecemos melhor. E isso nos fortalece. Vamos criando muito mais intimidade. Hoje, somos família, amigas, irmãs, companheiras. Uma fala “isso não foi legal”, a outra diz que vai melhorar. Somos muito unidas. Não me lembro de uma discussão esquisita que rolou. Estamos bem focadas no psicológico”, seguiu Goddess.

Mesmo com a derrota, a Black Dragons também citou o fator psicológico como importante nos eSports. “A gente veio de campeonatos onde perdíamos o primeiro apanhando, mas depois voltávamos de forma resiliente. O nosso foco total é no jogo. Round a round e tranquilidade. Não nos abalamos em nenhum momento. Estávamos unidas. Acredito que é um trabalho conjunto com o time. A gente se entende e é um psicológico que a gente acaba melhorando bastante durante os jogos. Vamos nos levantando”, explicou Amanda “Sinon” Sheronstone.

Referências para outras meninas

A final do CS:GO feminino, a única exclusivamente para mulheres nas disputas presenciais do Multiplataform eSports Games (MEG), no Rio de Janeiro, foi prova concreta da evolução constante delas no cenário competitivo. Com talento de sobra, as jogadores se fortalecem na missão contínua de ocuparem seu espaço a cada participação em competições no Brasil e no mundo. Na modalidade vencida pela B4 eSports e a Black Dragons, inclusive, as atletas avançam com projetos e cumprem bem o papel de servirem como referência para outras meninas interessadas em competir nos games.

“Hoje, a mulher está mais estabelecida nos eSports. Eu não tive muita dificuldade. Não sofri muito preconceito. Quando alguém falava algo, eu sempre rebati. Não fico quieta, pois acho que quando se faz isso se deixa só a outra pessoa falando e te deixando para baixo. Hoje, a maioria é conhecida e temos respeito de outras pessoas e players”, ressalta Lara Goddess. A player da B4 destaca a receptividade da equipe com o projeto de CS:GO feminino desde as conversas iniciais.

 
 
 
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“Falamos as nossas expectativas, o que a gente precisava: psicólogo, multicamping, fisioterapeuta. Eles colocaram tudo. Antes, muito se fazia pelo cenário masculino e as meninas não tinham o mesmo tratamento dentro das próprias organizações em geral. Isso está mudando. Falando pela B4, e sei que isso acontece em outras equipes, as mulheres são tratadas da mesma forma que os times formados por homens”, continua a campeão de CS:GO do MEG 2022.

Todas as jogadoras, inclusive, estão cientes da importante função de servirem como referência para as futuras gerações. Ontem, por exemplo, elas tiveram a final assistida por meninas de ONGs do Rio de Janeiro convidadas pelo MEG para conhecerem o universo. “A nossa resiliência de aguentar e rebater críticas cria uma força, não só entre nós, mas de outras mulheres que são novas e querem começar a jogar. Elas pensam que dá para fazer. Temos esse papel”, pontua Giovanna Yungher. “Sabemos da nossa responsabilidade de ser um exemplo, não só no dentro do servidor, mas fora também”, acrescenta Goddess.

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