Boxe

Anna Beatriz é a primeira pugilista do DF campeã nacional na categoria cadete

Vitória contra obesidade e perfil agressivo da lutadora fazem o treinador sonhar com os Jogos Olímpicos de 2028

Sorridente, Anna Beatriz faz planos para os promissores passos seguintes no ringue, orientada pelo treinador Eudes José dos Santos (C) -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Sorridente, Anna Beatriz faz planos para os promissores passos seguintes no ringue, orientada pelo treinador Eudes José dos Santos (C) - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Gabriel Botelho*
postado em 20/08/2023 06:00 / atualizado em 23/08/2023 11:51

Em uma fechada academia de luta, no subsolo de uma barbearia, no Guará II, Anna Beatriz Sabino Souto provou da imprevisibilidade da vida que, às vezes, entrega caminhos nunca antes imaginados. Tal qual o filme A menina de ouro, a brasiliense revive na prática a protagonista Hilary Swank, na tentativa de crescer em um cenário hoje tão amado por ela: o do boxe.

Desinteressada por esportes, a brasiliense, desde pequena, era incentivada pela mãe, Nilzilene Sabino, a buscar a prática esportiva para largar o sofá e a televisão e se livrar do excesso de peso. "Ela me incentivava a buscar algum esporte, mas não sentia que me encaixava em algum", conta Anna.

Após múltiplas tentativas e frequentes fracassos, ela, então, aos 13 anos, resolveu tentar o boxe. A partir daí, não parou mais. Apaixonada, passou a competir, aos 14, e entrou de cabeça em um mundo no qual, segundo ela mesma, se sente mais "leve, relaxada e realizada". O impacto foi grande, a ponto de gerar glórias precoces. Em 2023, aos 15 anos, a candanga se inscreveu no Campeonato Brasileiro de Boxe, na cidade de Foz do Iguaçu (PR), e alcançou o ponto mais alto da precoce carreira.

Após três lutas, em que apenas a última foi decidida sem um nocaute técnico, a guaraense se tornou a primeira atleta do DF campeã nacional da modalidade na Categoria Cadete. Agora, Anna Beatriz faz planos para os promissores passos seguintes, enquanto relembra sorridente os caminhos tortuosos até alcançar os dias de glória.

Enquanto pequena, a jovem boxeadora explica que teve problemas com o temperamento. Dona de pavio curto, Anna coloca a entrada no esporte como solução imediata e eficiente para acalmar os ânimos e direcionar as frustrações. "Antes, eu era muito explosiva. Brigava fácil, tinha muitos conflitos com a minha mãe, inclusive. Quando comecei a lutar, virei uma pessoa menos estressada. Entrar no ringue me dá a chance de aliviar a minha mente, de descontar o meu estresse e as minhas frustrações. Faz bem demais, saio com um sorrisão no rosto", relata.

Aprendiz atenta e eficiente

 15/08/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Anne Beatriz Sabino Souto, conquistou a medalha de ouro no Campeonato Brasileiro de Boxe na categoria Cadete 63 kg.
Anna Beatriz diz que a prática esportiva a ajudou a diminuir o estresse e trouxe mais leveza para a vida (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O perfil mais reativo, porém, não foi de todo mal. Eudes José dos Santos, treinador de Anna Beatriz, criador e coordenador do Instituto Boxe Mais Vida, e fundador da Federação Brasília Open Boxe (FBOB), coloca as características da pupila como vantajosas para o esporte. Para ele, além de competitiva, Anna executava, com pouco tempo de prática, os comandos dados a ela exatamente da maneira orientada, o que, segundo ele, é algo difícil.

“Ela tem desde o começo uma habilidade motora muito boa, e uma atitude também. A evolução foi rápida, inclusive superando atletas mais experientes e mais velhas. Ela é muito forte e assimila os golpes muito bem. Ao invés de se retrair ao receber um golpe forte, ela vai para cima, fica com raiva. Ao identificar isso nela, entendemos que seria campeã”, explica Eudes.

Para o professor, a boxeadora tem as peças nas mãos para traçar um caminho de sucesso. O estilo persistente, o andar adiante no ringue e a relutância em recuar são um reflexo do que Anna é como pessoa. “Ela é valente. Trabalha andando para frente, ataca o tempo todo e, dificilmente, se mostra abatida. Ela ganha das mais velhas. Quando enfrentar meninas da mesma idade e peso, vai ser fácil. Estamos a preparando psicologicamente para os Jogos de Los Angeles-2028, porque ela tem capacidade. Mas tratamos com carinho. Digo a ela que não existe a necessidade de trazer medalha. Anna tem a obrigação de ser feliz e de se divertir. Nada mais”, finaliza.

 *Estagiário sob a supervisão de Fernando Brito

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