Rio de Janeiro — A pátria amada Brasil se orgulha de ter uma lista repleta de grandes nomes da ginástica artística. O país que hoje vibra com as conquistas de Rebeca Andrade e Flávia Saraiva grudou nas telas para acompanhar Daiane dos Santos, torceu por Daniele Hypólito e viu a evolução de Jade Barbosa. Das filhas deste solo, é muito mais que mãe gentil. Existe uma linha de produção muito bem organizada há bons anos. Se pegarmos o túnel do tempo, podemos nos recordar de uma brasiliense que também marcou época e teria passe livre para frequentar o clubinho das atletas de elite da modalidade no país. Talento forjado nos tablados do Guará, Soraya Carvalho disputou torneios nacionais, foi ao Mundial e, aos 17 anos, chegou a ser a única representante verde-amarela nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996.
A história no maior palco da carreira, porém, foi interrompida devido a uma fratura por estresse na tíbia, a quatro dias da abertura dos Jogos. No entanto, Soraya fez da frustração trampolim para novas conquistas. Dedicou-se aos estudos, porém jamais abandonou o esporte. Obteve mestrado em educação física pela Universidade Católica de Brasília (UCB), foi treinadora e, hoje, ocupa cargo no Comitê Olímpico do Brasil (COB) como gerente do Instituo Olímpico Brasil (IOB), o departamento de educação da entidade. Ao Correio, ela comenta sobre a relação com a ginástica, detalha a transição para o outro lado do balcão e reforça os laços com a capital federal.
O esporte nunca saiu de você
A minha vida é no esporte. Meus pais eram esportistas também. Meu pai, Luciano Sampaio, foi judoca de nível mundial, enquanto a minha mãe, Rosa Ida, também foi ginasta. Nasci em um tatame de judô e nesse ambiente do esporte. Com seis anos, comecei a praticar uma série de esportes. Meu pai foi meu treinador durante muitos anos. Em determinado momento, meu pai não conseguia me dar treino no nível necessário para seguir evolução. Fui morar em São Paulo com 11 anos, competi no Pinheiros e morei em um alojamento. Isso porque eu amava o esporte, queria ser atleta e competir nos Jogos Olímpicos.
Depois do Pinheiros fui para o Rio de Janeiro, treinei pelo Flamengo por vários anos e fui para Olimpíadas em 1996. Dali, comecei a estudar educação física, fui treinadora, depois para a área de gestão. Foi um "apaixonamento". Hoje, acho que estou no lugar com o qual me identifico e que tenho um trabalho super inspiracional, com educação no esporte, com segurança e vários esportes ao mesmo tempo.
Passado
Meu pai tinha uma academia que existe até hoje, a Judokan, no Guará I. Com essa academia, como todos eram do esporte, sempre fiz várias modalidades, natação, ballet e judô, até que um dia teve um campeonato de ginástica artística em Brasília. A protagonista daquele momento era a Luísa Parente. Ela era bem novinha e fui assisti-la com minha família. Ficamos eufóricos com aquela coisa maravilhosa que era a ginástica. No dia seguinte, meu pai abriu essa modalidade na academia dele.
Atlanta-1996
Treinei minha vida inteira para estar nos Jogos Olímpicos. Foi um sonho que não era só meu, mas também da minha família. Foi um investimento constante desde que éramos meninas. Jogos de aparelhos de ginástica são caríssimos e lembro que meu pai construiu alguns com um marceneiro. Para mim, também foi muito significativo conseguir a vaga olímpica no Mundial no Japão, pois minha mãe é japonesa. Ganhar e perder, machucar, estar dentro ou fora são elementos do esporte.
Na véspera da competição em Atlanta, tive uma fratura por estresse na tíbia. Esse foi o meu maior palco, sonho e também uma grande frustração. Pude trabalhar isso dentro de mim, ressignificar tudo isso e voltar para o esporte. Me sinto muito feliz de trabalhar aqui. Já fui para vários outros jogos olímpicos, mas na área administrativa.
Transição
Toda transição de carreira é complexa. Os atletas estão em um determinado nível e daqui a pouco finalizam aquilo e pensam: e agora, o que vou fazer? O que escrevo nessa página em branco? Por isso, o caminho mais óbvio naquele momento foi ser treinadora. Minha família é toda de professores. Fui treinadora desde as escolinhas, categorias de base, até as mais velhas. Chegou um determinado momento em que falei que estava há muitos anos no ginásio e pensei em ter novas oportunidade.
Me capacitei, fiz dois mestrados e entrei na área administrativa. Foi do zero. Tive muitas pessoas que me ajudaram nesse processo. Tive suporte do COB, me sinto em casa, tive autonomia para criar os produtos necessários para o desenvolvimento esportivo.
Competências no COB
Sou responsável pela área de educação no COB, cujo objetivo é capacitar, formar e aprimorar esses profissionais que trabalham no esporte de alto rendimento. É uma indústria muito específica, com as próprias regras, funcionamento e muito sensível. Qualquer mínimo detalhe faz toda a diferença. A diferença do primeiro para o décimo lugar são centésimos. Capacitamos recursos humanos e pessoas para esse ambiente.
O IOB trabalha com os pilares, os principais atores do esporte: gestor, treinador e atleta. Tem cursos básicos e avançados para capacitar essas pessoas. Outra área do IOB é a área do esporte seguro, cujo objetivo é levar um ambiente ético e seguro para que o esporte possa acontecer e os atletas treinarem na máxima potencialidade e alcançarem máximos resultados em um ambiente seguro, acolhedor e respeitador.
Brasília
Brasília é a minha cidade do coração, propícia para todo aquele que quer se dedicar a alguma coisa, seja estudo, trabalho ou esporte. A cidade é receptiva. Quantos atletas saíram de Brasília? É constante. Temos esse berço e esse ambiente favorável para a dedicação. Estou sempre em Brasília também. Vim para o Rio de Janeiro para trabalhar no Comitê Organizador do Pan no Rio, em 2007. Depois, quando acabaram os Jogos, fui convidada para a educação do COB, para criar o instituto.
Estou sempre em Brasília, pelo menos duas ou três vezes por ano, especialmente no Natal. Estou sempre em contato com as minhas origens, grupos da ginástica de Brasília, especialmente no Setor Leste.
Relações do COB com Brasília
O COB se relaciona diretamente com as confederações. Esse é o elo mais forte, mas necessariamente e de forma mais relevante com o Ministério do Esporte. Há uma ligação e um caminho constante. O nosso vice-presidente, Marco La Porta, tem base em Brasília para fazer articulação, presença e incentivo ao esporte.
Cuidado com a saúde mental
Essa parte da saúde mental é um foco não apenas do Brasil, mas do mundo inteiro. O COB tem uma área de saúde mental composta por psicólogos com processo de coaching. Essa é uma atenção especial que o COB que dá. Neste ano, ofereceremos um curso sobre saúde mental, trabalhando o que é, o que se pode fazer e como pessoas diretamente ligadas ao atleta podem trabalhar e compreender melhor essas questões. É uma alfabetização das emoções, pois os atletas têm isso muito forte e precisam manter isso fora das competições. É um fator importante.
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