FUTEBOL

Nove meses na vida de Vini: o que foi feito após o racismo em Valência

Episódio em 21 de maio de 2023 revoltou o mundo além de bola e colocou o craque do Real em papel de ativista. Correio relembra promessas e ações

Vinicius Junior aponta para os suspeitos de racismo contra ele na partida de 21 de maio de 2023, contra o Valencia -  (crédito: Jose Jordan/AFP)
Vinicius Junior aponta para os suspeitos de racismo contra ele na partida de 21 de maio de 2023, contra o Valencia - (crédito: Jose Jordan/AFP)

Duzentos e oitenta e seis dias se passaram desde a última visita de Vinicius Junior ao Valencia, no Estádio Mestalla. A partida, em 21 de maio de 2023, pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol, é daquelas difíceis de apagar da memória. Não pela vitória dos anfitriões, por 1 x 0, ou pelo nível técnico apresentado, mas, sim, pela mostra de que a paciência do brasileiro contra as reiteradas ofensas racistas sofridas no país tinha limite. Foi chamado de "macaco", explodiu a ponto de o duelo ser interrompido e ser expulso.

Muita coisa aconteceu de lá para cá. Vini reforçou a marcação, tornou-se uma ativista e referência no combate ao discurso de ódio. Promoveu campanhas, emplacou ações e, neste sábado (2/3), às 17h, chega fortalecido para o duelo. A ESPN transmite.

Em nove meses, o jovem de São Gonçalo recebeu promessas e acompanhou alguns discursos em prol da luta antirracista. No entanto, o apoio não foi imediatamente unânime. Minutos após o fim da partida na qual Vini Jr. decretou guerra ao sistema, o Valencia pediu respeito aos torcedores do clube e condenou acusações. O mesmo foi feito pelo presidente da Liga Espanhola, Javier Tebas. O chefão da entidade surpreendeu ao rebater as críticas do brasileiro de que a competição, a federação e os adversários normalizam e incentivam as injúrias.

"Já que aqueles que deveriam não te explicam o que a LaLiga pode fazer nos casos de racismo, tentamos te explicar, mas você não se apresentou em nenhuma das datas combinadas e solicitadas por você", retrucou Tebas.

Dias depois, o dono da caneta da LaLiga pediu desculpas ao jogador. "Há insultos racistas determinados a insultar Vinicius? Sem dúvida", reconheceu. Mas se ocorrem casos, contra jogadores ou não, por que não há responsabilização? A justificativa pode estar na legislação espanhola. O código penal vincula o racismo aos crimes do ódio. Porém, as normas não combatem com vigor as ocorrências. Não à toa, em 17 de janeiro, a Justiça arquivou a denúncia racista contra o astro do Real Madrid. A decisão foi tomada diante da falta de informações para identificar os autores.

A impunidade reverberou no discurso do capitão do Valencia na véspera da partida. Em entrevista à emissora Movistar , José Gayà bateu na tecla de perseguição aos torcedores do clube. "Esta é a minha 10ª temporada, e o Mestalla sempre respeitou o rival. O que vivemos no ano passado é uma parte minoritária. Três, quatro, 10, seja lá quantas, foram muito poucas (pessoas). O clube agiu da maneira que tem que atuar, expulsando-os para sempre.

Desde que estou aqui, a arquibancada tem sido exemplar e tenho certeza de que voltará a ser", discursou. As palavras de Gayà inflamam a torcida do Valencia. Membros de uma organizada do clube ensaiam manifestações dizendo que o brasileiro "mente e chora". Em contrapartida, o clube anfitrião faz plano para coibir o racismo, identificar possíveis infratores e adotará a mensagem "Mestalla é a casa de todos".

O canto prometido pelos adversários do Real segue a narrativa criada pelo jornal Superdeporte. Em 5 de outubro, o diário fez uma montagem de Vini Jr como o personagem Pinóquio. No mês seguinte, após receber o Prêmio Sócrates na cerimônia da Bola de Ouro — pelas ações de projeto social criado em 2020 —, promovido pela revista francesa France Football, o veículo levou à capa: "Muito fartos de Pinóquio / O show de Vinicius e mentiras dele continuam prejudicando injustamente a imagem do Valencia e de todos os torcedores".

Três dias antes da partida, o Valencia barrou a entrada da Netflix no Mestalla. A empresa produz um documentário sobre o ex-Fla e tinha o intuito de gravar trechos do confronto deste sábado. Durante a semana, ventilou-se a possibilidade de Vini ficar fora. No entanto, o técnico Carlo Ancelotti confirmou a presença do craque. "Está preparado para fazer o melhor jogo possível. O que a torcida quer ver é espetáculo. Não é esquecer o que aconteceu no ano passado, porque, quando tem caso de racismo, é preciso combater", enfatizou.

A cronologia dos fatos desde o caso de racismo contra Vini Jr. em Valência
A cronologia dos fatos desde o caso de racismo contra Vini Jr. em Valência (foto: Correio Braziliense)

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 02/03/2024 08:00
x