
Philadelphia (EUA) — Como diz a canção Papo Cabeça, de Lulu Santos, "há pedras no caminho" do Palmeiras, "que ainda assim é belo" na Copa do Mundo de Clubes. Um dos espinhos na rosa do jardim alviverde de Abel Ferreira chama-se Estêvão. Esperava-se mais do jovem de 18 anos no torneio. A irritação de alguns torcedores com ele contra o Botafogo deixava a emoção com a iminente despedida do xodó superar a razão da relevância de tê-lo na engrenagem do time classificado para as quartas de final.
A pressão sobre Estêvão aumentará até sexta-feira. Vendido ao Chelsea em junho do ano passado por 34 milhões de euros, ele enfrentará justamente o clube londrino na disputa por uma vaga às semifinais. Ele pode virar herói da torcida verde ou vilão da azul em um desfecho imprevisível, inusitado e surpreendente da passagem pelo Palestra Itália.
Eleito pela Fifa o melhor em campo na estreia diante do Porto, Estêvão irritou a torcida do Palmeiras ao admitir a dificuldade de concentração no presente do Palmeiras na Copa.
"É muito difícil (manter-se focado no Palmeiras). É um sonho que vou realizar, mas sabendo que eu tenho que focar aqui, tenho que trabalhar, não é fácil. Você tem que manter sua cabeça aqui, quanto mais perto vai chegando, a ansiedade vai batendo, o friozinho na barriga vai batendo", afirmou, depois do empate contra o Inter Miami, na última rodada da fase de grupos, no Hard Rock Stadium.
"Mas estou tentando focar ao máximo aqui, para deixar tudo o que eu preciso aqui para sair daqui bem, sair com a cabeça erguida, pela porta da frente, sabendo que eu dei o meu máximo aqui pelo Palmeiras. Minha família é o que me mantém com meus pés no chão. Todos os dias eles me cobram para eu dar o meu melhor aqui, focar aqui, para minha cabeça estar aqui", compartilhou Estêvão.
O "sincericídio" de Estêvão irritou os mais fanáticos. "É difícil, cara, porque você se imagina lá, você se imagina na Europa, com vários outros jogadores, com tudo o que representa a Europa, um sonho meu, mas eu estou tentando ao máximo focar a minha cabeça aqui, porque eu sei que ainda tenho muito para entregar no Palmeiras", finalizou o craque.
A cria alviverde acumula 294 minutos na Copa. Sem gol nem assistência. Atuou onde prefere, ou seja, no meio, onde pretende disputar posição com Cole Palmer no Chelsea; iniciou partida aberto na ponta direita, como gosta Abel Ferreira; e surpreendeu o Botafogo na extrema esquerda na vitória por 1 x 0. Substituído aos 17 minutos da etapa final, mostrou insatisfação ao deixar o gramado em direção ao banco de reservas. Substituído, viu Paulinho marcar o gol da vitória. Inquieto, recebeu cartão amarelo fora de campo.
Escudo
Embora esteja uma pilha, Estêvão desfruta de um escudo. Abel Ferreira está engajado em protegê-lo até o último dia no Palmeiras. "Se todos nós fizéssemos um esforço de estar no lugar dele, de ter 18 anos, idade da minha filha, e minha filha vai sair de casa, estamos preocupados... O Palmeiras tem uma coisa que ajuda e protege. Ao contrário de muitos clubes, o Palmeiras cuida de seus jogadores e, por isso que os moleques vingam", defende.
"Se tivéssemos um pouco de empatia. Ele é tão puro e ingênuo, que falou da ansiedade. É normal. Não retiro uma vírgula do que eu já disse, que enquanto estiver aqui eu vou desfrutar", reforçou Abel. Prova disso é a surpreendente alteração na posição do atacante. "Mudamos o Estêvão de lado, porque queríamos um bocadinho mais de profundidade do lado esquerdo. Demos oportunidade ao Allan jogar (aberto na direita)", explicou.
A preferência de Estêvão é por jogar no meio de campo do Chelsea, mas o elenco do time comandado por Enzo Maresca desafiará justamente a mobilidade da cria alviverde diante de um cardápio variado com Noni Madueke, Pedro Neto, Jamie Gittens e Cole Palmer.
"Ele é um desequilibrador. É normal estar ansioso, normal um moleque que tem um sonho. A verdade, não podemos dizer, ele é tão puro e moleque por ter 18 anos que falou o que sentia, porque é normal, e uma boa parte o trucidou", pondera Abel. Ele joga na Seleção Brasileira e podíamos ajudar o treinador da Seleção (Carlo Ancelotti), mostrando como joga bem. Antes, era o Messi, depois, o mané. Não é assim", adverte o treinador português.
Uma das preocupações de Abel é transformar meninos em homens. O processo específico com Estêvão vai terminando. "Tem alguns jogadores aqui que, por mais que os ajude como jogadores, primeiro, têm que crescer como homens. Quando forem melhores homens e mais responsáveis como homens, vão ser melhores jogadores", respondeu, ao Correio.
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