A coroação do primeiro clube brasileiro tetracampeão da Libertadores será como uma festa de gala: haverá convidados especiais, traje fino e o tradicional red carpet. No caso do Estádio Monumental de Lima, um belo tapete verde ficará estendido para dois maestros que se dão ao luxo de jogarem de terno, tamanha classe: Andreas Pereira e Jorginho, protagonistas do quarto capítulo da série Glória Eterna, sobre a decisão de sábado (29/11), às 18h, no Peru.
Andreas Pereira e Jorginho comandam o departamento de inteligência de Palmeiras e Flamengo em campo. São as cabeças pensantes. A bola, necessariamente, passa por eles, seja em transição rápida entre a defesa e o ataque ou no papel de inicialização das jogadas, com a busca da bola na linha dos zagueiros. São jogadores diferentes, mas com muitas similaridades. O metrônomo carioca é veterano aos 33 anos. O palmeirense acumula milhas pelo mundão da bola, aos 29. Vestem alviverde e rubro-negro há menos de um ano, mas estão muito bem encaixados.
Andreas Pereira disputou quatro dos 12 jogos do Palmeiras nesta edição da Libertadores. Não marcou gol, mas deu uma assistência. A maior influência, porém, pode ser quase imperceptível. O maior mérito do jogador nascido na Bélgica e filho de brasileiros está na capacidade de adaptação aos diferentes setores de meio. Foi utilizado pelo técnico Abel Ferreira em todas as funções do meio. Começou na função de armador. Depois, exerceu o ofício de primeiro volante. Com a lesão de Lucas Evangelista, foi recuado. Hoje, Andreas atua mais distante da área, justamente para organizar a saída.
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O curioso é que Andreas chega ao fim da temporada quando, teoricamente, estaria na metade. O meia era vinculado ao Fulham da Inglaterra antes de ser negociado com o Palestra. Descansou por quatro meses praticamente, fez pré-temporada e foi vendido em agosto por aproximadamente R$ 63 milhões. A história dele com o clube poderia ter começado antes, se a operação no início do ano não tivesse sido encerrada devido a valores. Fato é que o meia não se arrepende da escolha. Está confortável e até voltou a ser convocado para a Seleção Brasileira. Ele nutre o sonho de jogar a Copa do Mundo de 2026 sob o comando de Carlo Ancelotti.
Embora tenha vestido as camisas de Manchester United, Granada, Valencia, Lazio e Fulham, o lance que marcou a carreira de Andreas foi pelo Flamengo, justamente contra o Palmeiras. O relógio da final da Libertadores de 2021 marcava quatro minutos da prorrogação, quando o meia recebe de David Luiz uma bola na fogueira, erra no domínio e possibilita o avanço do centroavante Deyverson para decretar 2 x 1 e o tricampeonato alviverde em Montevidéu.
Jorginho nasceu em Imbituba (SC), fez carreira na Europa e ganhou notoriedade com a seleção italiana. Chegou em junho após deixar o Arsenal para somar-se a um meio de campo já extremamente forte, com Erick Pulgar, Gerson, De la Cruz e Arrascaeta. Precisou de poucas atividades do Mundial de Clubes para mostrar por que foi eleito o melhor jogador do Velho Continente em 2021. Na Libertadores, o camisa 21 jogou cinco partidas. Não tem participação em gols, mas tornou-se intocável pela capacidade para destravar duelos ou controlá-los em momentos de tensão.
O ítalo-brasileiro desembarca para a final em Lima com média de 89% de precisão nos passes. Quando restringimos a análise ao campo de defesa, o índice salta para 95%. O drible não é a maior virtude, mas é um recurso que costuma ser utilizado com eficiência pelo meia. Diferentemente de Andreas, Jorginho não necessita ser onipresente em campo. O luxo rubro-negro de ter o fora de série, Arrascaeta, possibilita Jorginho a se dedicar à qualidade na transição entre defesa e ataque.
O flamenguista também persegue uma façanha pessoal: tornar-se o 17º boleiro a combinar os títulos da Liga dos Campeões da Europa e da Libertadores. Vitorioso na Champions de 2021 com o Chelsea, ele pode repetir, por exemplo, Neymar, Marquinhos, Ronaldinho Gaúcho e outros.
A final entre Palmeiras e Flamengo em Lima será a 10ª partida entre Andreas Pereira e Jorginho. Antes, se enfrentaram oito vezes na Inglaterra e uma no Brasil. O palmeirense leva vantagem no duelo, com cinco vitórias. O único triunfo do ítalo-brasileiro foi no 3 x 2 rubro-negro sobre o alviverde pelo Campeonato Brasileiro, há mais de um mês, no Maracanã.
