Intercâmbio

Quarentena no exterior é alternativa para estudantes entrarem nos EUA

O bloqueio americano para viajantes brasileiros continua vigente. No entanto, ficar um período em países (como México e Panamá) é uma alternativa para cumprir o pitstop de 14 dias

Mateus Salomão*
postado em 18/11/2020 16:05 / atualizado em 18/11/2020 18:04
Brasileiros recorrem a alternativas para entrar nos Estados Unidos -  (crédito:  Pascal Meier / Unsplash)
Brasileiros recorrem a alternativas para entrar nos Estados Unidos - (crédito: Pascal Meier / Unsplash)

O isolamento social, imposto pela disseminação do novo coronavírus, estimulou estudantes intercambistas a retornarem aos países de origem. Com o cenário mais ameno, novas questões surgem: como e quando retornar? Essa é uma dúvida incômoda para estudantes brasileiros que temem perder as oportunidades deixadas nos Estados Unidos pelas restrições.


Uma solução encontrada é viajar a países ao quais os EUA não impôs restrições de entrada e permanecer em quarentena por 14 dias completos. O consultor de viagens e dono da Heron Tour, Heron Duarte, 57 anos, ressalta que os principais destinos são países da América do Norte e Central. “Pensando geograficamente, os melhores países (para fazer a travessia) são México, Panamá, Jamaica e Bahamas.”


Atenção com os comprovantes


Heron destaca que, pela legislação atualmente em vigor, é necessário passar 14 dias completos no país. Na prática, isso significa que só será possível após o 15° dia, já que que o primeiro não é contabilizado. Para esse processo ele ressalta duas principais opções: o Panamá, que é o mais barato, e o México, que tem o atrativo turístico.


O consultor de viagens Heron Duarte tem guiado brasileiros no retorno aos Estados Unidos
O consultor de viagens Heron Duarte tem guiado brasileiros no retorno aos Estados Unidos (foto: Arquivo Pessoal)


“Se formos falar em custo-benefício, as principais opções são México e Panamá”. No entanto, o consultor de viagens ressalta que é preciso ter atenção na comprovação da estadia no período exigido. Além do carimbo com data no passaporte, ele observa que é necessário reunir informações e comprovantes de estadia impressos. Ao desembarcar nos EUA, haverá a checagem de informações e os comprovantes serão necessários.


A manobra para a entrada tem uma regra fundamental: “Para ir aos Estados Unidos, a pessoa precisa comprovar a estadia no México (ou outro país sem restrições)”. Não basta um cartão de embarque no celular. Heron destaca que é preciso imprimir o cartão de embarque oficial da companhia e os comprovantes de reserva do hotel, de preferência até o check-out.


No entanto, o consultor lembra que a emissão de novos vistos está temporariamente suspensa em razão da pandemia. Portanto, a possibilidade de entrada nos EUA é uma realidade somente para quem já possuía o documento emitido em um momento anterior à pandemia.


Um sonho que não pode ser perdido


Letícia Muller, 28, adotou esse tipo de estratégia. Ela conta que não foi uma decisão fácil, mas optou por arriscar uma ida aos Estados Unidos em plena pandemia para concluir um intercâmbio. “Era um sonho antigo. Tive que correr esse risco, pois não sabia quando iriam reabrir a fronteira”, conta.


Ela iniciou um intercâmbio de inglês em setembro de 2019 que se estenderia até junho de 2020. No entanto, com a escalada da pandemia pelo mundo, em fevereiro de 2020, teve que retornar ao Brasil.


Letícia Muller teve que recorrer à travessia pelo México para não perder uma oportunidade de estudo dos Estados Unidos
Letícia Muller teve que recorrer à travessia pelo México para não perder uma oportunidade de estudo dos Estados Unidos (foto: Arquivo Pessoal)

 

Mas, temendo perder a oportunidade que havia planejado por dois anos, decidiu retornar ao solo americano. Em agosto, Letícia fez a travessia passando pelo México. Ela ficou hospedada em um hotel simples e, ainda assim, os 15 dias lhe custaram pouco mais de U$ 1.000 dólares com a passagem, mas ressalta que dividiu o hotel com uma pessoa da família que aproveitou para passear.


“A documentação foi toda cuidada pela agência. Me deram os documentos em cópia e me orientaram sobre o que levar. Também fizeram o cadastro on-line. O visto eu já tinha obtido antes da pandemia, então, foi mais fácil, até porque eu já tinha ido aos EUA como turista”, destaca.

 

Restrição de entrada


Segundo o Escritório Nacional de Viagens e Turismo (NTTO, sigla em inglês), em 2019, os Estados Unidos da América recebeu 2,1 milhões de visitantes brasileiros. No ranking, o Brasil ocupava a sétima posição entre os que mais visitam. A pandemia, no entanto, mudou o cenário. Atualmente, a entrada de pessoas vindas do Brasil está travada.


Em 24 de maio, uma proclamação do presidente Donald Trump restringiu a entrada de estrangeiros que estiveram em algum países listados no documento nos últimos 14 dias. Aparecem na lista países como Brasil, Reino Unido da Grã-Bretanha, Irlanda do Norte, República da Irlanda, República Popular da China, e outros.


O consultor lembra que a maior procura para entrada no país tem sido entre estudantes e empresários. Heron destaca que essas pessoas não podem ter a viagem adiada e precisam estar em solo americano, mesmo que paguem a mais por isso. “Os estudantes e as pessoas que vão fazer negócio precisam ir. Já o turista pode até esperar”, pondera


Prepare o bolso


O consultor destaca que o valor das passagens de avião do Brasil para o México e os Estados Unidos estão na mesma faixa de preço. Contudo, na conta entram mais despesas. Uma delas é a passagem de avião entre o México e os EUA, que está na média de US$ 150, segundo o consultor. Outro fator é a estadia nestes 15 dias.


O valor somente da transição é salgado: “A hospedagem é o que pesa no bolso. Se a pessoa ficar em um hotel simples, ela gastará US$ 40 por dia de moradia e US$ 40 com alimentação. Isso em 15 dias já deu US$ 1.220. Em um resort all-inclusive, com tudo incluído, dá em média US$ 1.000 por pessoa, já que o valor é por quarto”.

 

*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá

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