UFPB concede título de Doutora Honoris Causa à Elizabeth Teixeira

Com diversas conquistas, a educadora popular e líder camponesa foi aclamada em um corredor de honra. Aos 100 anos, a paraibana adentrou o auditório da Reitoria da Universidade Federal da Paraíba para receber a máxima distinção de uma instituição de ensino superior

Júlia Christine*
postado em 23/07/2025 19:10 / atualizado em 23/07/2025 19:34
Elizabeth recebeu a máxima distinção que uma instituição de nível superior pode conceder, o título de Doutora Honoris Causa -  (crédito: Divulgação UFPB)
Elizabeth recebeu a máxima distinção que uma instituição de nível superior pode conceder, o título de Doutora Honoris Causa - (crédito: Divulgação UFPB)

Conduzida por suas netas, Ana Raquel e Juliana Teixeira, Elizabeth Altina Teixeira, 100 anos, foi prestigiada com um corredor de honra no auditório da Reitoria da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A líder camponesa recebeu, na última sexta-feira (18), a máxima distinção que uma instituição de nível superior pode conceder: o título de Doutora Honoris Causa.

O título honorífico é, comumente, concedido por universidades a pessoas que se destacaram em suas áreas, sendo atribuído a personalidades nacionais ou estrangeiras que tenham contribuído de forma notável para o progresso das ciências, letras ou artes, ou que tenham beneficiado a humanidade ou o país de forma excepcional.

Elizabeth é um grande exemplo de destaque nas conquistas sociais. A paraibana foi líder das Ligas Camponesas, educadora popular e ativista em prol da reforma agrária no Brasil. Durante a cerimônia, foi reverenciada pela academia, por seus amigos e familiares e por diversos membros de organizações ligadas ao campo que estiveram presentes no evento, presidido por Terezinha Domiciano, reitora da UFPB.

Durante sua trajetória, Elizabeth passou por dificuldades. Sua neta, Juliana Teixeira, discursou sobre a avó, lembrando a vida regrada dentro da casa do pai, o assassinato de seu esposo, a luta pelos direitos dos trabalhadores rurais, as perseguições sofridas, a tentativa de incêndio à casa da família, as prisões durante a ditadura militar, o refúgio na clandestinidade por 17 anos para proteger a própria vida, a separação e morte de três dos 11 filhos e a atuação como educadora popular.

“Nem a dor mais profunda foi capaz de silenciar sua voz ou deter sua marcha. Elizabeth transformou o luto em resistência. Ela nos ensinou que resistir é amar em profundidade, e que a luta pela terra é também uma luta por dignidade, por justiça e por futuro. Hoje, nós, netos, netas, bisnetas, tetranetos, nos colocamos de pé para admirar e aplaudir a grandeza da sua trajetória. Carregamos seu nome no coração e seu exemplo nos gestos. Sabemos que Elizabeth vive em cada mulher que existe, resiste; em cada criança sem-terra que sonha; em cada semente plantada em chão coletivo”, disse Juliana Elizabeth.

No palco principal, a Mesa Diretiva foi composta pela reitora Terezinha Domiciano, pela vice-reitora Mônica Nóbrega, pela professora Fabrícia Sousa Montenegro (CCHSA), pela diretora do CE Adriana Diniz, pelo coordenador da Secretaria dos Órgãos Deliberativos da Administração Superior, Marcelo Sitcovsky, além de Rafael Reginaldo, da Comissão Pastoral da Terra, Dilei Aparecida Schochet, do Movimento dos Sem-Terra, e Alane Maria de Lima, do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas.

Pelas mãos de Gislaine da Nóbrega Chaves e de Roberta Candeia, Elizabeth Teixeira usou as vestes talares doutorais, uma beca preta e samarra na cor azul, representando as ciências humanas. Na sequência, a reitora Terezinha Domiciano outorgou o título de Doutora Honoris Causa.

Entre os discursos, a professora Iranice Muniz exaltou a história de luta pela terra e pelos direitos dos camponeses liderada por Elizabeth Teixeira após o assassinato de seu esposo, João Pedro Teixeira, em Sapé. A educadora comentou sobre a atuação de Elizabeth como presidente da Liga Camponesa na Paraíba, destacando que ela não se curvou às ameaças de latifundiários, dando continuidade à luta por trabalho digno, reforma agrária e justiça no campo.

*Estagiária sob supervisão de Ana Sá.


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