Antropóloga do DF é semifinalista do Jabuti Acadêmico

A pesquisadora Paula Balduino de Melo comenta sobre seu livro, Matronas Afro-pacíficas, que conta a história de mulheres afrodescendentes no Equador e Colômbia, e como elas são essenciais para suas comunidades

Artur Maldaner*
postado em 15/08/2025 19:45 / atualizado em 18/08/2025 15:13
"Morei um ano na fronteira Equador-Colômbia para a pesquisa", conta a autora - (crédito: Indira Dominici/arquivo pessoal)

 

Com a publicação do livro Matronas Afro-pacíficas, a antropóloga Paula Balduino de Melo é celebrada como semifinalista do prêmio Jabuti Acadêmico, compondo as 10 melhores publicações dessa categoria. O trabalho estuda a vida de mulheres afrodescendentes na fronteira Equador-Colômbia, e seus papéis como formadoras e pacificadoras de suas comunidades. A trajetória acadêmica de Paula, por sua vez, está bem representada na temática do livro: ela compõe o cargo de diretora de políticas públicas para quilombolas e ciganos no Ministério da Igualdade Racial e trabalha como professora no Instituto Federal de Brasília (IFB), mas agora, em agosto de 2025,  assume o cargo de professora de antropologia na Universidade de Brasília (UnB).

Paula contou ao Correio como foi o processo de pesquisa para o livro, que é fruto de sua tese de doutorado, quando morou por um ano na região da fronteira do Equador e Colômbia, e acompanhou a vida de 31 mulheres negras da região: “Além do processo de entrevista, a minha pesquisa antropológica era partilhar a vida com essas mulheres. Trabalhei com elas na mariscagem, em projetos sociais, até morei com algumas delas”, conta. A pesquisa segue um método etnográfico, isto é, análise de uma cultura por meio da observação detalhada de seus costumes.

A pesquisadora explica que a região Equador-Colômbia é histórica para a diáspora africana, onde surgiu a República Zamba, em 1553: “Foi muito semelhante ao Quilombo dos Palmares, em termos de magnitude e projeto de resistência”. Desde então, o local é habitado por várias comunidades de descendência africana, onde nelas, mulheres matronas assumem um papel de pacificadoras em meio a conflitos políticos armados, e , a partir dessas histórias, Paula conta a história política da região.

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E os quilombolas brasileiros?

Já como diretora de políticas públicas no Ministério da Igualdade Racial, Paula utilizou seus trabalhos acadêmicos anteriores como inspiração para a conquista de novos direitos dos quilombolas, que, segundo a professora, exercem um papel fundamental na preservação de áreas ambientais: “A preservação da biodiversidade é vista em diversos povos da diáspora africana, de espécies animais e vegetais, e isso é um serviço ecossistêmico prestado ao mundo. Ainda avançamos pouco na conquista de direitos, por ser um tema muito complexo, mas o que se busca é o reconhecimento das terras e o financiamento por meio da agenda climática”, explica a especialista. 

Ela destaca o programa Aquilomba Brasil, de medidas intersetoriais para a promoção dos direitos dos quilombolas como uma grande conquista. Além da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental Quilombola (PNGTAQ), que reconhece o papel das comunidades como conservadoras do meio-ambiente. O seu período no ministério também deu frutos ao Plano Nacional de Políticas para Povos Ciganos, que busca combater o preconceito contra o grupo étnico e garantir direitos à infraestrutura em comunidades ciganas. “Fomos o segundo país do mundo a criar uma política para proteção dos ciganos”, destaca.

Caloura na UnB

“Tenho muito desejo em voltar a fazer pesquisa, porque nesses dois anos e oito meses fiquei como gestora”, admite Paula. E expressa a vontade de retomar as pesquisas que fazia anteriormente, estudando espécies do patrimônio biocultural afrodescendente, como o quiabo e o cará borboleta. Mas explica que não pretende se afastar completamente das políticas públicas: “Quero continuar acompanhando a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. O povo afrodescendente deve adentrar nos espaços internacionais, e eu entendo que posso continuar contribuindo, agora como pesquisadora”.

Próximo Jabuti

A autora conta que, durante a escrita do Matronas Afro-pacíficas, fez esforço para deixar a escrita mais atraente para um público amplo, mas por ser um livro grande de antropologia, ele afasta leitores sem experiência na área. Seu plano atualmente é escrever um romance etnográfico, mais curto e literário, que junte a sua pesquisa antropológica com ideias autobiográficas: “Agora, como sou mãe, quero retomar o tema da diáspora africana, mas agora falando sobre ancestralidade a partir da maternidade”, finaliza.

*Estagiário sob a supervisão de Ana Sá







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